27 - Estabilidade

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- O que aconteceu? - A voz alarmada de Julian me faz parar de desferir socos em Pietro.

Me fasto do corpo mole do traidor e limpo minhas mãos em um dos panos tão imundos quanto me encontro agora.

- Podem coloca-lo de volta. - Sinalizo para os seguranças e saio do cômodo, sendo seguida por meu amigo.

- Cassandra, o que aconteceu? - Refaz a pergunta e me puxa para trás.

Respiro fundo, tentando não descontar o meu ódio nele, que só está tentando me ajudar.

- Descobri... algo ontem, que está me corroendo, e eu não sei se vou poder fazer alguma coisa a respeito. - Me limito nos detalhes, apesar de expor casos como esse quase que diariamente ao meu amigo, não pretendo expor a Bianca dessa forma, ela confiou a mim essa história, e a mais ninguém.

- Eu posso saber o que é? - Se aproxima e coloca a mão no meu ombro. - Para que eu possa ajudar.

- Acho que dessa vez vou ter que lidar com isso sozinha. Mas eu te aviso caso precise de algo.

Retomo o caminho até a saída em silêncio, e assim permanecemos, até chegarmos ao escritório. Julian tenta respeitar o meu espaço mesmo que esteja se corroendo de curiosidade, e eu posso ver isso.

- Preciso que você localize o Miguel. - Corto o silêncio e ele me olha interessado.

- Nosso contato do Brasil? Tem haver com o assunto que está te atormentando? - Não tenta disfarçar seu interesse e isso me faz rir.

- Sim e sim. Preciso que ache aquele infeliz que ama me deixar no escuro. Gostaria de tratar do assunto pessoalmente, então pergunte se ele não conseguiria vir aqui em no máximo duas semanas, caso contrário fale para entrar em contato. - Coloco meu celular e armas em cima da mesa e vou até o banheiro lavar as mãos suja de sangue.

- Eu sei que não quer me envolver no assunto, mas te ver socando o Pietro depois de um mês que ele foi preso e agora tentando localizar o Miguel, não está ajudando em me deixar relaxado. Estamos em guerra?

Volto para sala e encaro sua expressão aflita. Julian é sempre tão calmo e despreocupado, ve-lo em conflito é sempre algo novo e desconfortável.

- Não estamos em guerra, você pode ficar tranquilo, é um assunto pessoal, e precisarei da ajuda do Brasil para conseguir resolver. Nada além disso.

- Certo. - Observo seus ombros relaxarem. - Vou tentar acha-lo agora mesmo.

- Obrigada.

Me jogo na minha cadeira e ligo o computador, preciso fazer a minha própria pesquisa para achar uns filhos da puta.

Bianca

Após a conversa extremamente expositiva que tive com Cassandra e de ter praticamente desmaiado de tanto chorar, sou arrancada do conforto do meu sono com o despertador tocando. Cassandra já havia saído como de costume, mas dessa vez tinha deixado um bilhete ao lado da minha cama.

"Tive que sair cedo por conta do trabalho, mas se precisar de qualquer coisa pode me ligar.
- Sua ruiva."

Sorrio feito uma boba com suas palavras e levanto para me arrumar. Nunca tinha passado pela minha cabeça que ter essa conversa seria tão reconfortante. Um peso de toneladas foi arrancado do meu peito e eu me sinto muito mais leve e tranquila. Guardar isso por nove anos foi tão exaustivo e sufocante. Falar com a pessoa certa definitivamente faz bem pra alma. Ter sido ouvida e acolhida fez com que eu parasse de me culpar por tudo que aconteceu, e agora a única preocupação que carrego é com Pedro e Beatriz, sozinhos e sem supervisão no Brasil, se eu pudesse dava um jeito de traze-los para morar comigo, mas infelizmente isso não vai ser possível. Apesar da estabilidade que terei daqui um tempo... tenho um emprego bom, um ótimo salário, em um país com condições de vida melhores do que do Brasil e sem uma ameaça eminente circulando no ambiente que minhas crianças moram. Ok, talvez isso deva ser algo a ser pensando e analisado...

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