42 - Passado

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Bianca

Assim que abro a porta de casa, sou abraçada com o cheiro maravilhoso de tempero fresco, e isso me faz sorrir imediatamente. Não esqueci a minha conversa e principalmente as insinuações que fiz à Cassandra em relação à máfia. É uma coisa que ainda acredito, ela tem algum tipo de ligação e até julgo dizer algum tipo de envolvimento. Mas irei deixar essa suspeita fora de casa, quando estiver lá fora ela vai, sim, ser um caso a ser investigado, e aqui será apenas minha colega de apartamento.

Estranho ver uma segunda pessoa sentada à mesa, enquanto a ruiva prepara a comida com uma postura rígida, o oposto da loira.

- Cassandra... — Chamo incerta, não gostando de ter uma estranha sozinha com Cassandra na nossa casa.

- Bia! - Ela parece surpresa, o que me faz arquear a sobrancelha. - Essa é... Soler, uma... amiga.O nervosismo não me faz acreditar em suas palavras, mas decido deixar o ciúme de lado e comprimento a mulher que se vira sorrindo.

- Bianca, prazer. - Aperto sua mão sem prolongar muito o contato.

- Igualmente. - Devolvo o sorriso amarelo e me aproximo de Cassandra, fingindo que vou pegar água.

- Não avisou que tínhamos visita. - Murmuro em português despejando a água no copo.

Ela da de ombros sem fazer contato visual.

- Nem eu sabia que teríamos.

Bebo a água em um gole só, deixo o copo na pia e sorrio para mulher mais uma vez antes de falar.

- Vou tomar um banho para jantarmos.

- Vou tomar um banho para jantarmos

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- Então... Soler, desculpa a pergunta indelicada, mas a Cassandra nunca me falou de você, então creio que tenha ficado longe por um tempo. - Arrumo a comida no prato, sem muito apetite.

Ela ri, se encostando de forma relaxada na cadeira.

- Não é surpresa não ter sido mencionada, nós temos um passado, apenas para deixar as coisas claras. - Assinto, já sabendo disso. - Meus pais têm uma empresa de segurança pessoal, eu viajei a negócios e acabei emendando minhas férias.

- Tem um tempo que não tenho férias. - Rimos. - E para onde você foi?

- Passei a maioria dos dias no Brasil, mas fui em muitos lugares.

- Ah jura? Eu sou brasileira, vim da capital. O que achou de lá?

- Imaginei que fosse ao te ouvir sussurrar português com a Cassandra. - Alfineta, e eu quase me sinto desconfortável. - Mas eu não entendo muito, pego poucas palavras. Eu gostei bastante, os lugares são lindos, a capital inclusive, e as pessoas são muito calorosas, receptivas e animadas, gostei disso, não é em todo lugar que encontramos isso.

Bebo do vinho já quente e assinto com um meio sorriso, apenas para parecer simpática, eu não queria essa mulher na minha casa. E sim, talvez isso seja ciúme.

- O Brasil é um caso a parte com turistas, realmente não é todo lugar que tem a receptividade de lá. - Me acomodo na cadeira cruzando os braços. - Aqui, por exemplo, Cassandra foi a mais simpática, apesar de meio maluca, as outras pessoas que conheci, dentro e fora do meu trabalho, são... inconvenientes e agressivas. Isso sendo modesta, claro.

-Está ficando tarde. - Cassandra levanta cortando o assunto. - Soler, foi ótimo... te ver, mas infelizmente a Bianca acorda cedo amanhã e eu também tenho um compromisso super cedo... então, acho que podemos encerrar por hoje e quem sabe, marcar outro dia. Seria ótimo. 

 A loira confere o relógio de pulso.

-Realmente acabamos perdendo a hora. Acho que essa hora fica bem difícil conseguir Uber, Cass. 

O som do nome de Cassandra nunca me irritou tanto! Aaah a voz adocicada para pronunciar. Cristo.

-Ah, que isso, não custa tentar.- Ela me olha rapidamente, um pedido de socorro silencioso, e começa a desfazer a mesa.

-Você sabe, eu realmente não me sinto segura em pegar Uber ou qualquer outro transporte essa hora. - Meu Deus.

-O sofá é desconfortável para dormir... -Fuzilo ela com o olhar, a ruiva parecia perdida, e isso me deixo desconfortável. - E bem, não existe mais quarto de hóspede, pois, agora é da Bianca... - Soler se aproxima de Cassandra, que levava os pratos como se sua vida dependesse disso.

-Nunca foi um problema dividirmos a cama Cassandra, não se faça de boba. - A ruiva tosse, e eu sinto meu sangue ferver ao mesmo tempo que minha respiração fica pesada.Cassandra e eu não temos nada, e bom, passamos oito meses sem contato algum, a probabilidade de ela ter fudido metade da Itália é gigante, mas depois de algumas conversas que já tivemos e principalmente a noite que passamos juntas, talvez eu tenha alguma propriedade em surtar.

- Tudo bem... -QUÊ?

-Você pode dormir no meu quarto e eu durmo com a Bia, para você ficar mais a vontade. - Ela coloca o último prato no escorredor e seca as mãos na roupa. - Vou preparar o quarto, separar um pijama e pegar uma toalha limpa para você, e as minhas roupas para não precisar te incomodar pela manhã. -  Cassandra se retira me deixando sozinha com Soler e o baita climão que criou. Termino de secar as louças e guardar em seus devidos lugares em silêncio, enquanto a desquerida mexe no celular.

-Aqui. Toalha limpa e uma roupa confortável para dormir, tem sabonete e escova na terceira gaveta, fica a vontade.

Cassandra praticamente me reboca até o meu quarto e bate a porta com força.

- Eu não sabia que ela apareceria aqui. - Aponta com pressa para o lado de fora. - Sequer me mandou uma mensagem, ela apareceu aqui do nada. - O sotaque carregado denúncia seu desespero e acabo rindo.

- Achei a presença dela mais detestável do que a de Isabela. - Atravesso o quarto indo até a cômoda. - Que por sinal, dei graças a Deus pela ausência.

- Ela me deu um "pé" depois do último fora, mudou até de setor no trabalho.

Tiro a blusa apertada e em seguida o meu sutiã, sentindo o alívio instantâneo, mesmo que tenha ficado poucas horas vestida. Coloco a blusa do pijama e em seguida o shorts.

- Não pegou pijama pra você. - Jogo um conjunto limpo pra Cassandra, que deixa cair. - É preferência se envolver com mulheres inconvenientes?

Ela de ombros enquanto tira a roupa.

- Talvez. - Sussura.

Cassandra se aproxima ainda seminua e não nego que fiquei um pouquinho nervosa.

- Tem um tempo que só quero me envolver com uma... maluca que está disposta a matar por mim. - Arregalo os olhos com a colocação e arrumo minha postura ao ficar cara a cara com ela.

- Nos temos visita... - murmuro pela proximidade.

Cassandra me puxa pela cintura e afasta meu cabelo com a mão livre.

- Eu não dou a mínima, e espero que você não dê também, seria uma pena perder os seus maravilhosos gemidos.

Encaro seus lábios por um tempo e sussuro com dificuldade.

- Você se aproveita dos oito meses que passamos afastadas.

- É justamente por isso que preciso tanto de você. Oito meses é muito coisa, Bianca, principalmente depois de me viciar no que você é capaz de fazer.

Deixo um selinho demorado em seus lábios e sorrio ao me afastar.

- Te dar prazer sem ser egoísta?

- Me fazer gozar da melhor forma possível e ainda sim me deixar louca por mais. - Cassandra cola nossos lábios com agressividade e urgência, ascendendo todo o meu corpo instantaneamente.

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