31 - Demônios

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Tw/ conteúdo sensível, alerta de gatilho.

O celular de Julian toca ao longe e ele sai para atender, me deixando sozinha com o meu momento de irracionalidade. Pego um dos cacos do chão, sem me importar muito com o tamanho ou com o que ele era antes de tê-lo quebrado, sem sequer pensar sinto ele deslizar pela minha pele, me trazendo de volta essa sensação fudida que é sentir a minha pele se romper lentamente. Pequenas gotas de sangue começam a aparecer ao longo do corte e a ardência faz todos os meus sentidos se acalmarem quase que instantaneamente.

Aprofundo o caco a cada novo corte e sinto minha mão começar a arder também, mas não penso muito sobre isso, a única coisa que me importa agora é observar o sangue se formar a cada nova linha e a queimação me atingir com tudo. Não sei quanto tempo esse meu "momento" durou, mas foi o suficiente para tudo se resumir a sangue.

- Caralho! Cassandra, porra! - O grito de Julian me tira do meu transe, pisco algumas vezes e o encaro, atônita, inebriada nas sensações que só isso me causava. Ele joga o celular no sofá e praticamente voa para cima de mim, joga o objeto no chão e cobre os machucados com as mãos, na tentativa de estancar o sangue. -Te falei para não ir por esse caminho! Quebra a porra da casa inteira, mas não volta nisso! - O moreno berra em meu rosto, mas tudo parecia em câmera lenta. Me sinto leve, e isso ele pode não tirar de mim com sua preocupação exagerada. Não é nada demais. Posso causar nos outros mas em mim é problemático?

- A sua latina de estimação está no telefone, preocupada com você. - Murmura em alemão, para que ela não entenda. - O que raios você quer que eu diga para ela?! Podíamos ter lutado ou sei lá, vistar um dos seus prisioneiros.

- Não é a mesma coisa. - Falo em um sussurro calmo. - Precisava sentir em mim Julian, é isso que você não entende. São sensações diferentes.

Me afasto de seu toque e pego o celular de cima do sofá.

- Principessa, eu estou bem, não precisa se preocupar.

- Eu ouvi os gritos Cassandra, o que aconteceu? - Ela soa eufórica e impaciente.

- Latina, olha, ela teve um probleminha, não sei ao certo se eu posso te dizer o que é, mas...

- Corta a ladainha Julian, onde ela ? - Bianca praticamente grita ao telefone, e isso me faz rir. Primeiro ela me dá o maior fora da minha vida e agora está desesperada de preocupação.

- Não sei se quero você na minha casa. - Responde na defensiva, e errado ele não está...

- Se você não me falar, eu descubro onde é. Decide! - Meu amigo bufa irritado, me encara por alguns segundos e revira os olhos.

- Estou te mandando por mensagem. Afinal, como você conseguiu o meu número? - Pergunta incrédulo, e é, eu mesma nunca passei.

- Tenho os meus meios, chego em meia hora. - E então ela desliga.

-Essa sua policialzinha é louca. - Ele parece mais relaxado, apesar de completamente irritado e preocupado.

- Precisamos cuidar disso. - Aponta para meu braço e dou de ombros. - Vai precisar de pontos, Cassandra. - Me repreende, como se eu tivesse 8 anos.

- Fica a vontade. - Sibilo levando o braço a seu alcance.

- Eu sei exatamente o que você quer com isso, masoquista. - Limpo o sangue praticamente seco da minha mão na roupa, na tentativa de me sentir menos pegajosa, mas não ajuda muito. - Pensei que tivéssemos superado isso. - Me conduz gentilmente até o sofá, abaixando o tom de voz e percebo que ele está no modo amigo preocupado.

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