- Tem uma mulher querendo falar com você. - Julian entra na minha sala sem bater, me fazendo encara-lo por cima do óculos. - Desculpe, ela diz que é urgente, e vem da máfia russa.
Arqueio a sobrancelha curiosa, e coloco as folhas que analisava dentro da primeira gaveta e desligo o computador. Tiro as coisas importantes de cima da mesa e concordo.
- Mande-a subir. - Me encosto na cadeira e aguardo de braços cruzados.
- Giuseppina. - Ela se apresenta assim que entra na sala.
Sinto minha testa franzir automaticamente e meu sexto sentido me avisar que tem algo errado.
Mafiosa, certo? Tenho minhas dúvidas.
O estilo parecia forçado demais para parecer do meio. Até o jeito que ela andava parecia forçado.
- Cassandra. - Indico que entre e feche a porta. - De onde você vem Giuseppina?
- Rússia, mas eu não era uma parte muito importante. - Se senta nervosa a minha frente.
- E o que você fazia?
Giuseppina demora para responder, parecia não saber o que falar.
- Segurança de um clube de strip. Mas eu sentia que podia fazer mais.
- Certo. Você me da licença por um segundo? - Caminho vagarosamente até a porta e chamo Julian que aguardava perto da saída. - Vê se consegue alguma informação sobre essa Giuseppina sem sobrenome. - Peço em alemão. - Fale principalmente com seguranças sobre ela, solicite fotos de todas as mulheres que tiverem esse nome e traga para mim. Se essa mulher for da máfia, Adam perdeu os critérios.
- Acha que ele vai me permitir conseguir tais informações? Vocês ainda estão no meio de uma guerra não declarada.
- É uma ameaça eminente ao meio, avise isso e ele não negará qualquer informação. Deixe claro suas intenções e se precisar ir até lá, vá. Alane e Luca devem ir com você. Preciso dos outros para manter as coisas funcionando por aqui.
- Sim senhora. - Ele bate continência antes de sair, me fazendo revirar os olhos.
- Bom. - Volto a minha atenção a loira sentada na minha sala. - Desde quando você trabalha por lá? E quantos anos tem?
- Tenho 35 e trabalho lá desde dos 20.
Concordo em silêncio, a analisando de longe antes de voltar para minha cadeira.
- E decidiu vir para a máfia rival por quê? - A observo engolir em seco. Reação interessante.
- Eu pedi que meus serviços fossem... reavaliados, já que sentia que podia fazer mais para a organização.
Assinto vagarosamente enquanto arrumo meu óculos no rosto, a encaro por um tempo em silêncio analisando sua resposta.
Deve ser a primeira vez que ouço falar em "pedir para reavaliar serviços", subalternos recebem ordens de acordo com o que os chefes pensam, e normalmente nenhum se sente no direito de pedir uma "reavaliação". Ok Giuseppina, você me parece intrigante.
- E eu suponho que seu... pedido não foi aceito, certo? - Ela concorda silenciosamente. - E você frustrada, decidiu vir para a máfia rival, por um acaso está buscando problemas para mim ou a sua morte?
- Não! - Responde sobressaltada. - Apenas achei que poderia ser melhor ouvida aqui e que... você entenderia que eu poderia ser algo a mais.
- Não sei o que ouviu de mim por aí, Giuseppina. Mas eu não costumo delegar tarefas importantes para recém chegados, ainda mais quando são da prole de Adam, na verdade, um fato interessante, não fui avisada que você estava entrando no meu território, isso é um insulto?
- Acho que comecei da forma errada, peço mil desculpas, senhora. - Semicerro os olhos, ela consegue ficar cada mais inconsistente. - Não avisei que estava saindo e nem vindo para cá, não queria levantar suspeitas, ou que parecesse que estou fazendo algo errado, estou apenas a procura de um lugar que me valorize mais.
Coloco meu óculos em cima da mesa, umedeço os lábios e encaro em silêncio. Isso não está me cheirando bem, e eu tenho certeza que essa mulher nunca pisou dentro de uma máfia na vida, mas deixarei ela brincar.
- Me certificarei que você não trouxe problemas com a sua saída furtiva e pedirei um relatório dos seus antigos serviços. Vou mandar que preparem um quarto para você, para que se sinta mais a vontade, sua viagem até aqui deve ter sido longa e cansativa. - Levanto pedindo silenciosamente que ela faça o mesmo e indico a saída. - Por favor, Maya, prepare um lugar confortável para Giuseppina descansar, ela será nossa hóspede hoje. Um bom lugar para dormir, um banho quente e uma boa refeição.
Maya estranha meu pedido mas não externaliza me questionando pelo olhar, apenas nego levemente e aponto o corredor a sua frente, a morena indica o caminho com a mão e segue logo atrás da loira mentirosa.
- Cole. - Viro para o moreno alto que fazia guarda na porta do meu escritório. - Essa criminosa fajunta nunca colocou os pés na Rússia... Rússia, em que mundo um russo iria me pedir abrigo e trabalho? - Me permito rir e ele me acompanha.
- Quer que eu fique de olho?
- Aqui e lá fora, acesso restrito pela organização e diga que é protocolo com novatos, mas a deixe livre para ir e vir, e quando ela sair a siga, da forma que você sabe bem. - Dou dois tadinha em seu ombro e encaro a cadeira que a pouco estava ocupada pela loira. - Me mantenha atualizada em tempo real, o que ela comeu, vestiu, com quem falou, aonde foi, quantas vezes precisou ir ao banheiro, se reclamou do frio, se prefere pizza ou massas, quantas horas dormiu, o tempo que passou la fora, lugares que frequenta. Eu quero saber absolutamente tudo sobre essa impostora.
- Dossiê completo, pode deixar comigo chefinha.
- Tá passando tempo demais com o Julian, garoto. Seria bom se você parasse. - Ele ri enquanto dá de ombros.
Fecho a porta da minha sala e assumo meu lugar novamente. Mando mensagem para alguns informantes que possuo no território inimigo, exigindo saber cada pessoa que foi exilada ou que corria risco, informações sobre qualquer mulher que já tivesse reclamado de seu trabalho e que deram a entender que iriam embora ou algo parecido, e ainda sim eu tinha a certeza que essa mulher poderia ser tudo, menos alguém do meio.
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A Sombra Da Máfia
RomansaEntre despedidas dolorosas e expectativas altas, Bianca deixa para trás sua vida familiar para se juntar à polícia italiana. Apesar da desaprovação dos pais e do coração partido do irmão caçula, Pedro, ela encontra apoio em Cassandra, uma italiana m...