Cassandra
Percebo praticamente de imediato quando Bianca para de corresponder ao meu toque e entra em... desespero? Seu corpo subia e descia rapidamente estava tenso, praticamente rígido, conseguia ver as lágrimas começando a descer por seu rosto.
Caralho. Que merda eu fiz? Porra Cassandra.
Sinto nojo de mim mesma e tiro minhas mãos de seu corpo, saindo da cama quase que em um pulo.
- Bia? - Chamo de longe, mas ela não me responde, seu olhar estava vago e ela não parecia me ouvir.
Tento controlar o meu desespero e a minha respiração. Eu passei do limite?
Não é o momento Cassandra, porra, foca!
- Bianca. - Me aproximo com cautela e ajoelho ao seu lado. Ela não parecia me ver.
Começo a não saber o que fazer, ela não reagia ou esboçava nenhuma reação além da respiração descontrolada e as lágrimas rolando por seu rosto sem parar. Em algum lugar da cabeça dela eu não parei?
- Por favor, eu não queria passar do limite, desculpa. - Nem sei se ela conseguiu me ouvir de tão baixo que a minha voz saiu.
Coloco minhas mãos ao redor de seu rosto, tentando fazê-la prestar atenção em mim, mas mesmo assim nada, ela parecia em transe.
- Bianca! - Grito seu nome com urgência e ela pisca, parecia ter voltado agora. - Principessa, por favor, respira. - Desisto de tentar controlar o meu desespero.
Eu tô apavorada! Porra! Olha a merda que eu fiz. Como ela vai olhar na minha cara agora? Eu... assediei ela.
Me afasto da cama quando ela levanta e não pretendo me aproximar outra vez, queria sair correndo e dar o espaço dela, mas não consigo me mover.
Eu sou horrível.
Minha visão começa a ficar turva por causa das lágrimas e sinto um nó se formar na minha garganta.
- Tá tudo bem. - Ela afirma incerta, com voz baixa.
Bianca estica a mão para mim, mas recuso brevemente com a cabeça e coloco as mãos atrás do corpo. Não vou toca-la outra vez.
- Não queria te assustar. - Mesmo me esforçando minha voz sai embargada por causa do choro preso. - Desculpa, se você quiser eu vou embora. - Vou a passos largos até a porta, mas sua voz me impede de sair.
- Não! Cassandra, fica. - Respiro fundo e permaneço no lugar, esperando ela mudar de ideia e me expulsar. - Por favor. - Volto para onde estava, mantendo uma distância que julgo ser segura para ela.
- Não queria te assustar. - Repito mais alto, tentando deixar claro que a minha intenção nunca foi machuca-la.
- Eu sei ruiva. Senta aqui, por favor. - Nego outra vez e ouço ela bufar. - Não estou com medo de você Cassandra, por favor, senta.
Sento na ponta da cama e a observo secar o rosto e respirar fundo algumas vezes, e então ela se aproxima me deixando paralisada no lugar.
- Aconteceu quando eu tinha 15 anos. - Ela fala com a voz baixa. - O irmão da minha mãe... abusou de mim nas minhas férias.
O desespero por ter ultrapassado o limite com ela é substituído pelo ódio. Respiro fundo tentando não explodir na frente dela e piorar a situação, e deixo espaço para que ela continue se quiser.
- Acho que eu nunca contei isso pra ninguém. - Bianca solta uma risada sem humor e começa a brincar com a barra da blusa. - Eu cresci com ele, cheguei a chamar de pai e tinha um amor incondicional. Eu amava ele demais, passava quase todas as férias na casa dele, e quando eu não podia ir, ele ia lá pra casa, mas quando nenhum podia, ficávamos conversando pelo celular, praticamente todos os dias.- Ela para e olha pra cima por alguns minutos tentando conter as lágrimas que já estavam rolando por seu rosto. - O meu corpo começou a desenvolver muito rápido, com 13 eu já tinha peito, bunda, e conforme meu corpo ia aparecendo o carinho dele ia mudando. - Ela parece enojada e sua respiração volta a ficar pesada.
- Bia. - Faço um carinho sutil em seu rosto. - Não precisa me contar mais nada se não estiver confortável.
Ela assente e volta a falar após um tempinho em silêncio.
- Eu percebi que o jeito que ele me olhava havia mudado e consequentemente os carinhos também, tudo estava muito... íntimo, então eu fui me afastando aos poucos, parei de passar as férias na casa dele, sentava longe, não ficava mais sozinha com ele, tudo minimamente. Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo, meus pais nunca tiveram essa conversa comigo, eu só sabia que algo estava errado. Minha mãe começou a estranhar meu comportamento, achou que era "frescura" de adolescente, então da noite pro dia, ela decidiu que iríamos passar as "férias" na casa dele.
Apoio a cabeça nas mãos e escondo minha cara de puro ódio curvando meu corpo pra frente. Não acredito que estou ouvindo isso. Puxo os fios curtos do meu cabelo, tentando me manter racional e calma para acalmar Bianca quando terminar de me contar. Volto minha atenção pra ela e seguro sua mão que estava em cima da cama.
- Nós fomos e os primeiros dias foram até divertidos, eu sentia o olhar dele em mim mas não era nada muito grave ou que eu ficasse em estado de alerta. Mas aí minha vontade de sair, explorar a cidade e a praia foi acabando, então eu passava boa parte do meu dia em casa sozinha... com ele. Ele começou a se aproximar fingindo interesse nos livros ou no que eu estava vendo e fazia carícias que pareciam inofensivas mas que me causavam pavor. E aí eu decidi que ia passar o dia inteiro trancada no quarto até o dia de voltar para casa, eu achei que ia resolver, então foi o que eu fiz, meus pais saiam e eu me trancava lá e só saia quando eles chegavam. Eles não acharam estranho eu ficar quase 24 horas trancada no quarto, mesmo que nunca tivesse feito isso em outra viagem, eles só continuaram curtindo as férias. Eu fazia um pequeno estoque de lanches quando estavam em casa e não bebia quase nada, para não sentir vontade de ir ao banheiro. Eu só saía de lá, se tivessem outras pessoas na casa. Ir ao banheiro de madrugada era o meu maior medo, eu sempre pensava que ele estaria na espreita, apenas aguardando o momento que eu sairia do quarto. E eu não estava errada. - Ela passa a mão livre no rosto, e me encara por um tempo, parecia buscar conforto em mim.
Aproximo nossos corpos e a trago pro meu peito, fazendo um carinho suave em suas costas e segurando seu rosto contra meu peito. Ela agarra a parte de trás da minha blusa e sinto seu corpo tremer, puxo seu corpo pro meu colo e a abraço o mais forte que consigo, tentando passar segurança para ela.
- Eu acordei de noite com uma vontade absurda de fazer xixi, pensei que conseguiria segurar, eu juro que segurei o máximo que pude. - Ela soluça e se encolhe ainda mais.
- Eu sei meu bem. A culpa não foi sua. Tá tudo bem agora. - Ficamos nessa posição por horas praticamente, o choro se tornou tão intenso que ela praticamente teve falta de ar em alguns momentos, os soluços estavam começando a me deixar agoniada e sem saber o que fazer para ajudá-la. E então sua respiração ficou serena e o seu aperto em mim ficou suave. Ela havia dormido.
Tento deita-la de forma sutil depois de um tempo, esperei para que seu sono ficasse profundo o suficiente para que não percebesse quando a tirasse do meu colo.
Seu rosto estava inchado e vermelho por causa do choro, e isso partiu ainda mais o meu coração.
Vou caçar esse desgraçado até o inferno e fazer com que pague pelo sofrimento que causou a minha principessa, nem que seja a última coisa que eu faça.
Levanto me afastando de seu corpo, pretendo ligar para Julian agora mesmo, mas antas que me separe definitivamente dela, sua mão segura meu braço e ela me puxa delicadamente para si. Não tinha outra opção a não ser deitar e fazer com que ela se sinta protegida e em casa nos meus braços.
Coloco meu corpo atrás do seu e passo meu braço por sua cintura, a trazendo mais para perto.Durmo pensando em tudo que irei fazer quando por as mãos naquele desgraçado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Sombra Da Máfia
عاطفيةEntre despedidas dolorosas e expectativas altas, Bianca deixa para trás sua vida familiar para se juntar à polícia italiana. Apesar da desaprovação dos pais e do coração partido do irmão caçula, Pedro, ela encontra apoio em Cassandra, uma italiana m...