51 - Investigação perigosa

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Bianca

- Parabéns, novata. -Sinto o tapinha nas costas de Alessia, um gesto de aprovação que não me anima. - A operação foi um sucesso, a carga foi presa, alguns criminosos abatidos e até conseguimos pegar um deles.

- Fico feliz em saber que tudo ocorreu bem. - Minha voz saí sem ânimo e monótona.

O som das conversas e risadas ao redor chamam mais a minha atenção do que a conversa forçada que Alessia insiste em manter.

- Fizemos tudo isso sem ter nenhuma baixa... quem sabe na próxima operação você não venha com a gente... - Ela provoca mas não sinto vontade de revidar.

- O plantão foi longo, Alessia, eu preciso ir para casa. - Procuro Samuel com os olhos e o encontro perto da saída. - Tenha um bom dia.

(...)

- Aqui. - Samuel coloca o notebook no meu colo, entrego minha caneca para ele, e arrumo minha postura. - A mãe dela morreu dois anos antes da morte do marido, filha única.

Leio atentamente as novas informações, o silêncio na sala é ensurdecedor, e tenho certeza que que é possível ouvir o som do meu coração batendo mais rápido a cada frase que meus olhos leem.

- Sem família por parte de mãe, Cassandra ficou com o pai e o avô, que advinha? Fazia parte da máfia também, era o líder, antes do filho. Teve mais três filhos, mas todos se dividiram seguindo áreas diferentes na máfia. - Ele pontua.

- Então eu suponho que ela tenha ficado com o avô, após a morte de Stefano... - Murmuro pensativa.

- Vai para a página dois... Francesco era muito pior do que o filho.

Ficamos em silêncio enquanto eu lia a página dois, e sinto o ar pesar a medida que ficava ainda mais consciente do vespeiro que investigava.

- Ele traficava pessoas? - Indago chocada.

O que eu poderia esperar de uma máfia? Não é como se eu não tivesse lidado com casos até mais pesados do que isso, mas ter a confirmação de algo tão perverso é sempre impactante. Ainda mais quando envolve alguém que você conhece, mesmo que indiretamente.

- Órgãos, crianças... a máfia era muito mais obscura do que hoje em dia. - Samuel parecia empolgado por finalmente estar tendo acesso ao "caso máfia".

- Na época de Stefano que começaram a cortar as ligações da Ndrangheta com isso, certo?

- Exatamente, se mantiveram apenas no tráfico de drogas e armas.

- Samuel... - Sinto minha respiração falhar apenas de pensar. - Se Stefano só tinha Cassandra com a mínima idade para governar depois dele, isso significa que ela é a chefe da organização hoje? - Nos encaramos em silêncio por um tempo, tentando encaixar todas as peças mentalmente, enquanto eu sentia uma escola de samba inteira no meu peito.

- A não ser que ele tenha algum filho com um nome diferente, talvez um bastardo ou algo do tipo.

Assinto, tentando falsamente me acalmar com essa ideia.

- Levando em consideração que esse meio é muito machista, talvez tenham feito algum tipo de votação para achar um sucessor. - Fecho o notebook e o coloco em cima da mesa no centro da sala.

Passo as mãos no rosto me sentindo agoniada, a ideia de Cassandra ser a atual comandante da máfia me causa arrepios. Cogita-la apenas como uma associada já era horrível, mas líder?

- Você já acha ela tem algum tipo de ligação com máfia, certo?

Assinto permanecendo em silêncio.

- Sim, não tenho nenhuma prova concreta, mas sim. Julian também, aquele cara é muito esquisito.

- Certo, eu sei que você não quer voltar pra casa, mas precisa. - Samuel levanta a mão, me impedindo de contestar. - Dorme aqui essa noite, vocês duas brigaram e ela vai pensar que foi por isso. Depois você vai voltar pra casa como se nada tivesse acontecido e vai investiga-lá da melhor forma que você conseguir.

- Não... - Levanto rapidamente. - Não consigo, não posso. - Sinto meus olhos marejarem de imediato. - Eu amo aquela filha da puta... Samuel, não dá.

- Eu sinto muito, mas apenas você pode investigar a Cassandra e descobrir quem é a mente por trás da Ndrangheta.

- Você realmente acha que vou conseguir voltar para casa e conviver com ela como se não suspeita-se e soubesse tudo isso? - Sinto a minha garganta doer com o choro entalado.

- Acho. As suas suspeitas não são de agora, a meses você diz que acha que ela tem alguma ligação. - Sua voz era calma e paciente, na tentativa de me deixar menos nervosa, mas a tensão é quase palpável.

Acabo deixando uma risada nervosa sair. Achar e ter quase certeza são coisa MUITO distintas.

Sinto o olhar pesado e atento de Samuel em mim, como se pudesse ver através de mim.

- E agora eu tenho quase certeza que a mulher que eu me apaixonei faz parte de uma organização criminosa. - Coloco as mãos na cintura, e olho para cima na tentativa de parar as lágrimas que insistiam em se formar. - E que serei a responsável por prende-la.

Achar tudo isso sobre a família de Cassandra é como um soco no estômago, me deixa sem fôlego. Não sei se consigo seguir com a investigação, se posso me envolver mais do que isso e principalmente ser a responsável por prender a mulher que amo, e perde-la para sempre.

- Uma coisa de cada vez. - Ele me puxa pelo braço me forçando a sentar. - Primeiro precisamos provar que ela tem um envolvimento direto e depois pensamos no resto.

Os braços do meu amigo envolvem o meu corpo, me abraçando, deito minha cabeça em seu peito e finalmente permito as lágrimas de angústia e desespero caírem.

Quem eu estou tentando enganar? Nunca ouve uma chance real, Cassandra e eu sempre fomos completamente diferentes. E agora ainda mais, estamos em lados opostos da lei, cada uma a um passo de eliminar a outra.

Era como se estivéssemos em uma partida de xadrez, no momento final e decisivo, a um passo do xeque-mate.

Saber quem vai fazer a última e mais importante jogada era o que mantinha nosso jogo em aberto.

A primeira a jogar, é a que vence.

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