Like Mother, Like Daughter.

1K 102 25
                                    

    ⚠️ Este episódio contém conteúdo        
        sobre transtorno alimentar ⚠️

Scarlett on
New York
Segunda-feira


Por que ela está me encarando? Por que está tão perto de mim? Por que estou me sentindo intimidada por ela? Eu não sei, realmente não sei, mas não conseguia parar de encarar seu rosto, seus olhos. E porra, que perfume bom que ela usa.

– Ficou sem palavras, LaBlanc?

– Não! - saio de perto dela, me virando - Acho melhor irmos.

– Ahh, tava tão legal aqui. Só eu e você, te irritando.

– Que pena! - dou uma balançada em meus ombros. Procuro por meu salto alto preto, os colocando nos pés. Volto ao espelho só para me certificar que eu estava bonita - Vamos?

– Fazer o que né,  minha diversão acabou.

Dou uma risada falsa para ela e saio andando em sua frente até a sala de estar, cumprimentando a todos ali. Mas o foco realmente caiu em Billie. Ficaram chocados ao ver que a garota estava maquiada.

– Filha? Meu Deus! O mundo vai cair hoje. - diz Maggie totalmente surpresa - Filha você está linda! Isso merece uma foto.

– Aí mãe, não é pra tanto vai. É apenas maquiagem.

– Não é pra tanto? Você sempre se recusou a passar maquiagem Billie - responde Finneas.

– Sua mãe está certa filha, merece uma foto para guardar de recordação.

– Olhe para cá meu amor! ‐ sua mãe fala já posicionado o telefone em sua frente. A cara da O'connell não era uma das melhores, nem um sorriso se quer abria para a foto. Eu me segurava para não rir de sua cara.

– Isso! - comemora Maggie, ao tirar e ver as fotos - Linda da mamãe.

– Não exagere mãe. Está muito melosa.

– Não ligo, tenho direito! - fala depositando um beijo na testa da filha.

Deus, porque o senhor não me deu uma mãe assim? Eu juro que não pediria por nada a mais.

Enfim, me sento em um dos sofás, um pouco afastada de meus pais e mais perto da família O'connell, preciso de um pouco de distância de minha própria família.

A conversa fluía normalmente no ambiente, mas eu não tinha a mínima vontade de interagir, pelo menos não por agora. Posso estar parecendo mal educada, mas eu sei que todos temos dias que não queremos olhar e nem falar com ninguém, apenas ficar trancada no quarto dormindo. Esse não era meu caso, mas eu realmente não queria estar ali.

Eu podia sentir o olhar de Billie cair sobre mim diversas vezes. Em algumas eu a olhava de volta, mas não era nenhum tipo de flerte. Apenas trocas de olhares normais. Minha mãe também me encarava, e como sempre, com um olhar bravo. Por que ela não me deixa em paz? Era tudo o que eu queria.

Não demorou muito para uma de nossas empregadas anunciar que o jantar estava pronto. Todos fomos à mesa, nos sentando nos mesmos lugares de mais cedo. A mesa estava cheia de coisas deliciosas, um verdadeiro banquete, mas eu não sentia vontade de comer. Fazer o que, eu estava ali, não teria como eu não comer. Não tinha pra onde correr.

Deixo todos se servirem primeiro, sendo a última. Coloco pouca comida em meu prato, parecendo que eu comia igual a um passarinho. A cada garfada que eu dava na comida eu a sentia voltar, mas não era porque estava ruim, meu estômago não tem aguentado muita coisa ultimamente. Ou talvez seja porque sempre ouvi comentários sobre meu corpo vindo dos meus pais e desenvolvi inseguranças e paranóias, juntamente com transtorno alimentar. Mas vou com a primeira opção, já que sempre tenho que parecer perfeita.

– Querida, você está bem? - ouço Maggie me perguntar - Está com o rosto meio abatido.

Todos os olhares da mesa se voltam pra mim. Merda, como eu odeio ser o centro das atenções.

– Estou sim! Deve ser sono, mas obrigada por perguntar - dou um sorriso agradável a ela.

Minha mentira caiu bem, que bom. Todos voltaram a conversar normalmente, mas uma pessoa ainda me olhava: Billie. Ela apenas me olhava, não dizia absolutamente nada.

O jantar seguiu em frente, tudo tranquilo. Logo veio a sobremesa, não quis comer, então pedi licença a todos e me retirei, indo ao jardim tomar um ar fresco. Me sento na grama com perninhas de índio, e fico ali observando o céu. Estava lindo, estrelado e sem nenhuma nuvem para tampar o brilho das estrelas. Queria ser uma dessas estrelas, brilhantes e radiantes por conta própria, sem ninguém para apagar seu brilho, te humilhar, te diminuir ou te colocar pra baixo. Elas não precisam se sentir insuficiente a cada dia que passa, mesmo se esforçando a cada minuto para orgulhar os pais, que nunca reconhecem seu esforço. Elas não ligam se nós, seres humanos, gostamos de seus brilhos ou não, elas são do jeito que querem, sempre brilham para elas mesmas. Elas são livres.

Meus pensamentos são interrompidos por passos atrás de mim, era Amélia.

– Meu amor, você está bem? O que está fazendo aqui fora sozinha? Está frio!

– Eu só precisava de um pouco de ar - a olho e a mesma me olha preocupada.

– Por que está chorando pequena?

Droga. Nem eu mesma consegui sentir que estava chorando. Qual o seu problema Scarlett?. Limpo rapidamente meus olhos e coloco um sorriso no rosto, fingindo naturalidade.

– Não é nada, estou bem.

– Sabe que pode contar comigo né?

– Sei sim, obrigada. Vou entrar agora, está começando a ventar mais forte.

– Isso, vem - ela me ajuda a levantar e me abraça de lado tentando me confortar. Eu tentava sorrir pra ela o máximo que conseguia, mas a vontade de vomitar não me permitia.

Amélia sabia sobre meu problema, então ela apenas me leva para o banheiro o mais rápido possível, me deixando sozinha para que eu pudesse ter privacidade. Como eu amo ela.

Não consigo evitar de me olhar no enorme espelho do banheiro. Eu estou horrível, eu sou horrível. Nunca vou ser bonita o suficiente para alguém, nunca terei um corpo perfeito, eu nunca terei uma vida bem sucedida. Eu não sou nada além de uma inútil. Que vergonha de mim mesma.

– Porra, para de chorar Scarlett! - digo a mim mesma, com um nó enorme em minha garganta. Parece que aprendi a ser dura comigo mesma com você mamãe. -Sua idiota, você não é um bebê pra chorar!

Tal mãe, tal filha.

Quanto mais eu tentava parar de chorar, mais sufocada eu me sentia. O nó só aumentava. A minha dor só aumentava.

Me abaixo, ficando de joelhos em frente ao vaso sanitário. Sem pensar duas vezes eu coloco um dedo dentro de minha boca, aprofundando ele e depois o tirando rapidamente. Pronto, a merda estava feita, novamente. Levanto e vou a pia, passando uma água na boca e enxugando minhas lágrimas, colocando um belo sorriso no rosto tentando parecer uma pessoa "normal".

– Quem liga pra saúde mental quando se tem o corpo perfeito, não é mesmo?

𝘽𝙀𝘼𝙐𝙏𝙄𝙁𝙐𝙇 𝙎𝘼𝘿𝙉𝙀𝙎𝙎 ᵇⁱˡˡⁱᵉ ᵉⁱˡⁱˢʰOnde histórias criam vida. Descubra agora