02. Estou mortinho.

56 15 24
                                    

O único antídoto contra a morte, a idade, a vida vulgar é o amor.
~ Anaïs Nin

~ Anaïs Nin

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

— Quem... quem é você? — Eu o encarava de forma desafiadora, tentando não mostrar a fraqueza que sentia naquele momento, mas cada vez que o menino se aproximava mais, meu corpo se arrepiava com a sua presença.

Ele tinha uma presença intimidante. Talvez fosse o seu olhar dourado tão desafiador, ou a forma como sorria com o canto da boca com aquele pequeno piercing enfeitando o seu lábio inferior.

— Quem sou eu? — Senti o meu corpo tocar a parede fria atrás de mim. Ele se aproximava cada vez mais, como um predador que esperou muito tempo até a oportunidade perfeita de atacar a sua presa.

— Se você se aproximar mais eu... — Perdi as minhas palavras ao vê-lo inclinar a cabeça em direção ao meu rosto, com um olhar perverso, como se o que eu dissesse não o fizesse sentir nada.

— Você vai fazer o que, botão de ouro? — Arqueou uma das sobrancelhas com o seu sorriso divertido.

— Por que está me chamado desse jeito? Por acaso eu te conheço? — Virei o rosto para o lado, evitando olhar para aqueles olhos tão intensos.

— Não me conhece, mas vai me conhecer. Preciso da sua ajuda para uma missão, botão de ouro. É caso de vida ou morte. — Fez uma careta. — Quer dizer... É caso de vida após a morte e morte após a morte. — Soltou uma risada com a sua própria piada. Uma piada que eu não consegui compreender.

O menino me encarou por alguns segundos, visualizando algo em meu rosto que eu não conseguia compreender o que era exatamente.

— Olhos bonitos. — Ele soltou de repente. — Tão dourados quanto os meus. Você deveria levar isso como um elogio já que ser comparado a mim é algo grandioso. — Senti uma terrível vontade de revirar os olhos, mas o garoto resolveu aproximar a sua mão de meu rosto, me deixando paralisada. — Seus cabelos também são...

No exato momento em que sua mão ameaçou tocar meu rosto, senti meu corpo estremecer ao ver que seus dedos atravessaram minha face, um por um. Arregalei meus olhos ao vislumbrar aquilo.

Como os seus dedos atravessaram o meu corpo?! E o desentupidor..? O que esse cara era?

— Droga! Como assim eu posso abrir uma porta mas não posso toca-la? Deveria rever os seus conceitos, Deus! — O desconhecido em minha frente berrava enquanto apontava o seu dedo para o céu. Pelo jeito, ele brigava com Deus.

— Eu... Eu acho que atingi um limite mental tão grande que estou começando a ver coisas. — Sussurrei, abaixando a minha cabeça e levando a mão até ela. — O que será que está acontecendo comigo?

— Acredita que eu pensei algo parecido quando estava lá no céu? — Colocou a mão em sua cintura, balançando a cabeça para os lados. — Mas enfim... eu preciso da sua ajuda, loirinha.

— Como, é? — Eu arqueei a minha sobrancelha, pensando no quanto estava cansada mentalmente e ainda precisava ouvir as asneiras que um desconhecido qualquer resolveu falar. Eu não precisava mais me submeter a esse tipo de situação. Não precisa mais ser tão compreensiva assim. — Olha só, eu tive um dia bem cansativo, tudo bem? Não estou afim de papo furado e nem estou interessada nos seus joguinhos. Então, se puder me fazer um favor e me deixar em paz, eu agradeço. — Eu peguei a minha mochila, saindo do sanitário e indo até a pia do banheiro, a fim de lavar o rosto.

— Que eu saiba, não fui eu quem te traiu. — Escutei a sua voz atrás de mim, e no mesmo instante, parei de jogar água no rosto. Senti o meu corpo paralisar mais uma vez. A minha garganta pareceu fechar no exato momento que ameacei engolir a saliva.

Estiquei a minha mão até a toalha de papel e puxei duas folhas, passando no rosto. Amassei os pedaços de papel e me virei para ele, indo em direção a lixeira que estava ao seu lado.

— Saia do banheiro feminino antes que alguém te veja. — Murmurei para o garoto e me retirei do banheiro, sentindo a minha barriga revirar ao ver o tanto de gente que me encarava sussurrando coisas impossíveis de se ouvir, mas possíveis de se imaginar.

Eu caminhei em direção a saída, sabendo que não aguentaria ficar mais nem um minuto naquele lugar, mas pude ver que o menino dos cabelos negros e aparência peculiar me seguir por todo o percurso da escola até a minha casa.

Decidindo, então, que o melhor seria desviar o caminho de casa para que não descobrisse o meu endereço, fui parar em uma cafeteria próxima que adorava ir depois das aulas. É uma pena minhas melhores lembranças naquela cafeteria serem com Sophia e Ygor.

— Você não vai parar de me seguir, não? — Percebi que algumas pessoas me encararam sem entender, provavelmente achando que eu falava com elas.

— Eu já disse que preciso da sua ajuda. — Ele insistiu. — Se não fosse importante, acha mesmo que eu insistiria?

— Eu já disse que não estou aceitando pedidos nesse momento, tente novamente mais tarde. — Revirei os olhos e adentrei a cafeteria, sentindo o forte aroma de café no ambiente. Aquele lugar era excepcional.

Escutei a risada baixa do menino, como se tivesse achado graça no que eu disse. Assim que me sentei em uma mesa, ele foi em minha direção e se sentou na outra cadeira.

— Olha, por favor... — Ameacei começar a dizer, mas o menino me interrompeu.

— Finge que eu sou apenas uma companhia, tudo bem? Depois a gente discute sobre o que eu preciso. — Revirei os olhos para ele, notando que o garçom se aproximava da mesa.

— Bom dia, o que deseja senhorita? — O garoto que eu julguei ser um pouco mais velho do que eu, falou com um sorriso amigável.

— Um café com espuma, por favor. — Pedi, o vendo assentir. Anotou o pedido no bloquinho e me encarou mais uma vez.

— Mais alguma coisa? — Perguntou.

— Você quer alguma coisa? — Questionei para o menino que estava sentado em minha frente, mas por algum motivo, ao invés de responder, ele abriu um sorriso largo. Não entendi o motivo do seu sorriso até ver o garçom me encarando de um jeito confuso.

— É... está me convidando para comer algo? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Olha, eu te achei muito bonita também, mas digamos que eu esteja no horário de trabalho... — O garçom coçou sua cabeça, um pouco envergonhado.

— Não... me desculpe, houve um engano. Na verdade, eu estou falando com ele. — Apontei para o garoto em minha frente, que possuía o seu olhar despreocupado e um sorriso descontraído.

O garçom, por outro lado, ficou ainda mais confuso. Parecia me julgar como maluca por alguma razão.

E realmente, tomar um café da manhã com esse garoto desconhecido era uma maluquice.

— A senhorita está bem? — Arqueou uma das sobrancelhas. — Sabe... não tem ninguém aí... — Eu olhei para o garoto dos cabelos negros que ainda sorria e depois voltei o olhar para o garçom.

— Como, é? — Soltei uma leve risada de nervosismo, começando a achar que eu realmente estava ficando doida.

— Eu estava pretendendo te contar, mas você não deixou. — O garoto do sorriso descontraído começou a dizer em meio as risadas. — Eu estou morto, botão de ouro. Estou mortinho.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora