44. O coração partido.

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Eu acho que sentiria a sua falta até mesmo se nunca tivéssemos nos conhecido.
~ Muito bem acompanhada

~ Muito bem acompanhada

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Narrado por Ayla.

Três dias que venho tentando lutar contra as imagens daquele dia, três dias que venho tentando dormir uma única noite sem ter pesadelos com aquelas risadas assombrosas, três dias que venho tentando apagar o seu rosto da minha mente, três dias que venho tentando enfiar em minha cabeça que Lorenzo não passou de um surto da minha pobre mente carente.

Porque eu preferia acreditar que estava enrolouquecendo, preferia acreditar que estava ficando louca do que enfrentar a dura realidade que ele me deixou como todos que um dia cruzam a estrada da minha vida.

Mas era impossível não sentir sua falta, era impossível não lembrar de nossas conversas, de nossas risadas, das noites em que eu sentia que ele me observava. Era impossível não sentir saudades da sua companhia.

Do seu toque que mesmo tão frio era capaz de transmitir calor, das carícias de seus dedos em minha cabeça, das palavras de conforto e de cada sorriso que arrancou de mim, nos piores dias dessas últimas semanas.

E lidar com a saudade era difícil, pois saber que ele não vai voltar, que nunca mais o verei era como receber uma facada no peito. Pois eu sei que a saudade sempre voltaria a arder nos momentos mais improváveis, nos momentos que eu achar que não sinto mais a sua falta.

Mas acontece que eu sentiria a sua falta até mesmo se nunca tivéssemos nos conhecido. Eu teria que aprender a viver sem essa última peça do quebra-cabeça, com esse buraco dentro do peito que somente ele pode preencher, com essa parte que é exclusivamente dele.

— Você não pode nos dar um não como resposta. — Benjamin estava sentado na cadeira ao meu lado com os pés na mesa e os braços cruzados. Ele carregava uma expressão entristecida ao franzir o cenho. — Olha só para você! Está pior do que quando terminou com Ygor.

— Acho que ela ficou foi feliz quando terminou com aquele resto de cocô de dinossauro. — Melina revirou os olhos e se sentou na mesa em minha frente, mascando um chiclete. — Mas é sério, Ayla. Nós... nós gostamos de você. Eu te observo e vejo o quanto parece sozinha, distante... é difícil se aproximar pois parece ter medo de nós. E eu entendo o porquê desse medo. É difícil voltar a confiar em pessoas quando já foi machucado dessa forma. — Melina respirou fundo, amassando um lado de seus cabelos e olhando para qualquer ponto na sala. Ela parecia estar pensando no que dizer. — Mas quero que saiba que talvez possa confiar em nós. Porque também já fomos machucados e sabemos como dói. Acho que eu não causaria essa dor em ninguém. — Notei quando engoliu em seco, causando um silêncio sobre a sala de aula.

— Não causaria essa dor em ninguém. — Olhei para o lado quando Benjamin repetiu as suas últimas palavras, com o olhar tão distante quanto ela. — Ygor também foi um babaca com nós dois. Nos usou quando foi benéfico para ele e depois descartou. Sorriu para nós quando ainda tínhamos algo para oferecer a ele. E quando os recursos cessaram, a amizade dele também cessou. — O garoto balançava mais o seu pé agora, evitando o meu olhar. — Então fique tranquila, sei como dói se traído e não quero que você sinta isso de novo. — Ele ergueu o seu corpo, levando seus pés ao chão e se levantando da cadeira. Benjamin foi em direção a porta e antes de sair falou: — Vamos beber, cachinhos dourados. Vamos beber até esquecer de todos os nossos problemas e esquecer até mesmo os nossos nomes.

Já está saindo de casa? — Eram oito horas da noite de uma quarta-feira e Melina juntamente com Benjamin, tentavam me convencer a ir em um bar de esquina na intenção de beber até cair desmaiado.

Eles estavam sendo gentis, eu sei que estavam. Eram pessoas boas, eu sei que eram. E eu sairia com eles, mas estaria mais feliz de sair se a dor que sufoca o meu peito, não roubasse tanto o meu ar como tem roubado.

A cada segundo, cada minuto, cada hora que se passa enquanto eu tento esquecer a sua voz, basta somente um milissegundo para que meu coração volte a bater de novo por ele, fazendo com que eu tenha que reiniciar todo o jogo novamente.

E tem sido esse jogo que eu tenho jogado nos últimos 86.400 segundos, nos últimos 1440 minutos, nas últimas 72 duas horas, nos últimos 3 dias.

Eu tenho tentado tirá-lo repetidas vezes, mas sua memória é mais insistente do que eu pensava.

— Eu não sei... sabe, acho que não sirvo para beber em um bar e ficar tão bêbada ao ponto de desmaiar. Não acho que bebida vai resolver os meus problemas nem muito menos me fazer esquecê-los.

O quê? Ouvi que você está vindo? Então tá bom, estamos te esperando aqui no bar, te enviei a localização por mensagem. Até daqui a pouco. — Benjamin tomou a frente na ligação e desligou a chamada após ter se feito de desentendido.

Respirei fundo, e encarei o meu reflexo no espelho da pia do banheiro. Eu estava exausta, era nítido em meu olhar. Dormir tem se tornado um evento raro em minha vida, pois toda vez que ameaço fechar os olhos, as imagens daquelas criaturas surgem novamente em minha cabeça. Ao fechar os olhos, sinto suas garras cravadas em minha pele enquanto me puxando pela janela pensando em maneiras diferentes de me torturar.

Fechou os olhos e não o vejo, só vejo o quão estou cercada por incertezas, medos e angústias.

Eu não sei ao certo quantos litros de álcool precisei ingerir até esquecer qual era o nome do planeta que eu habitava. Não sei se foram apenas duas garrafas ou se tomei todas as seis que estavam do meu lado, mas percebi que minha cabeça já estava reagindo por si só quando lágrimas rolavam de meu rosto e andar havia se tornado uma tarefa muito difícil.

Ayla? Está me ouvindo. — Eu acho que aquela voz era de Melina. É, só podia ser dela. Ninguém tem um cabelo tão bonito quanto o dela. — Você não pode fechar os olhos agora, fica acordada.

Mas quem disse que eu quero fechar os olhos? Fechar os olhos se tornou uma tortura para mim. Não quero ver aqueles demônios novamente.

O que você acha que ela quis dizer quando disse que queria ter beijado o fantasma? — A voz de alguém, soou ao lado de Melina, mas eu estava zonza demais para juntar as letras e interpretar suas palavras.

E, peraí, acho que quero vomitar.

Eu acho que foi uma péssima ideia trazê-la para beber. — A voz soou novamente, e dessa vez eu reconheci, a voz era de Benjamin, sei que era.

Você acha, Benjamin? Será que pode calar a boca e me ajudar a levá-la para casa? — Me levar para casa? Mas eu não quero voltar para casa! Não quero ter que ver os demônios! Não quero ter que pensar em Lorenzo de novo.

— Droga! Mente idiota! Por que você pensou nele de novo? — Reclamei enquanto cambaleava para os lados, sendo segurada por alguém. — Eu não quero voltar para casa! Os demônios podem estar lá!

Relaxa que os demônios têm vidas mais perturbadas para atormentar. — E assim, eu apaguei completamente ao ouvir a voz firme da menina.

Apaguei com a imagem de Lorenzo ainda em minha mente, como uma verdadeira condenação eterna. Aquela que te faz sofrer por toda a eternidade.

O inferno não é nada comparado a dor de ter um coração partido.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora