08. Sentiu saudades?

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Me apaixonei do mesmo jeito que alguém cai no sono: gradativamente e de repente, de uma hora para outra...
~ John Green

A brisa fresca da manhã soprou em meu rosto, trazendo um sentimento único carregado de paz

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A brisa fresca da manhã soprou em meu rosto, trazendo um sentimento único carregado de paz. O sol aquecia aquele dia como uma lembrança de que, um dia, tudo se encaixaria. E o bater suave do mar da praia, era um lembrete de que assim como as ondas vão e voltam, a tristeza viria mas um dia, voltaria de onde veio.

Tirei o sapato de corrida dos pés para sentir os grãos de areia passarem pelos meus dedos. Fechei os olhos e segurei com todas as forças as lágrimas que anunciavam a sua chegada.

As memórias da tarde de ontem vieram como um baque em meu peito, me lembrando do quanto eu era sozinha. Durante a caminhada depois da minha conversa com Lorenzo, passei por diversas pessoas que sorriam para seus amigos e amigas. Passei por casais que se abraçavam e beijavam como uma forma de deixar claro o quanto se amavam.

E no meio de todas essas pessoas que tinham alguém que podiam chamar de porto seguro, havia eu. Uma boba incapaz de fazer alguém me amar.

Sentei-me na areia sentindo a primeira lágrima cair. Mas eu não faria como ontem, não choraria pelo que fizeram comigo de novo, eu não permitiria que essa dor me afundasse novamente. Eu não seria, de novo, uma idiota que chora pela décima traição de pessoas que não sabem cumprir com suas promessas

Se não fui capaz de fazer com que me amassem, eu não sentiria mais essa dor. E se a vida reservou solidão para mim, eu não teria outra solução além de aceitar.

E por mais que eu sinta a sensação de estar só, de se sentir sozinha, de sentir esse vazio que penetra o meu peito; me consola saber que nem tudo se pode fazer com companhia. Como ler um livro, por exemplo.

Ninguém gosta de ler um livro enquanto conversa com uma pessoa. E isso me conforta. Me conforta saber que às vezes, você mesmo pode se consolar, pode se levantar em meio as suas próprias tempestades, que pode se tornar incrível sozinha.

E eu espero um dia, sentir que apenas a minha companhia é o bastante.

Não que eu não gostei de mim ou da minha companhia. Mas daria tudo para saber que tenho pessoas para contar.

Estava imersa em meus pensamentos quando uma menina com o rosto molhado de lágrimas e os olhos vermelhos andava de um lado para o outro um pouco distante de mim.

— Me desculpa, mãe! Eu sei que fiz errado! Mas eu não tinha outra opção! — Percebi o aparelho celular em seu ouvido, falando com quem julguei ser sua mãe. Ela parecia nervosa e angustiada demais ao ponto de pronunciar as palavras em meio aos soluços. — Eu realmente sinto muito! Fala para o papai que eu sinto muito!

Meu olhos voltaram-se para o mar em seu tom azul brilhante e vivo, fazendo algo surgir em minha mente. O desespero que ela sentia perante ao medo de não ser perdoada me fez lembrar da minha conversa com Lorenzo.

E se esse fosse o assunto inacabado dele? E se sua pendência no mundo foi ter morrido com a o coração cheio de pedidos de perdão para serem liberados? E se esse for o motivo de sua alma ainda estar presa na terra? Será que ainda havia alguém do qual esperava o seu arrependimento mas pela sua morte, acabou se culpando por não ter tomado a primeira atitude? Que hoje diz: "eu te perdôo, por favor volte porque eu te perdôo!" Mas sabe que ele nunca voltará? E se, a frase fosse na verdade "te encontrei para pedir perdão e implorar que me ame de novo"?

Esse seria um bom começo...

Quando voltei o meu olhar para a menina, percebi que suas expressões estavam mais leves. Ela tomava uma garrafa de água até o fim, respirando fundo e soltando o ar pela boca quando terminou. Era nítido o seu alívio assim que levou sua mão ao peito, soltando mais uma vez o ar.

Esse é o poder dá atitude. Às vezes temos tanto medo de vencer o orgulho, de dizer coisas e tomar atitudes por medo do que vem depois. Mas às vezes, precisamos daqueles vinte segundos de coragem.

Os segundos onde dizemos: "eu amo você. Gostaria que soubesse que gosto de você há muito tempo" Ou então "eu sinto muito pelo que fiz, gostaria de pedir perdão pois você é importante demais para ir embora da minha vida" ou talvez "vou me inscrever nessa vaga pois sei que sou capaz".

Às vezes, a falta dos vinte segundos de coragem faz com que venhamos perder pessoas e momentos incríveis

Soltei a música novamente, e ao som de I GUESS I'M IN LOVE, corri em direção a minha casa, pensando no quão lindo seria se apaixonar por alguém ao ponto de sentir tudo que essa canção diz sentir.

E assim que abri a porta de casa na intenção de chegar ao meu quarto, me perguntei onde Lorenzo estaria e como eu entraria em contato com uma alma vagante.

Será que chamá-lo igual nos filmes de fantasma daria certo? E ele apareceria do nada ao meu lado?

— Fantasminha camarada? — Falei em um sussurro, caminhando até o centro do quarto e olhando para todos os lados para ver se ele apareceria. — Que besteira... ele não vai aparecer... eu tô ficando doida, é isso. Ontem certamente foi um delírio da minha mente cansada dos problemas... — Dei uma longa respirada, tentando enfiar em minha cabeça que tudo aquilo foi um pesadelo muito real.

— Bom, se você me chamasse pelo nome ou por "o cara mais lindo que já pisou na terra", eu certamente apareceria mais rápido. — Lorenzo surgiu na cadeira da minha escrivaninha, com as pernas cruzadas, os braços apoiados na cadeira e um deles apoiando a cabeça. Em seu rosto, um sorriso surgiu no canto dos lábios, o mesmo sorriso travesso.

Eu tomei um susto tão grande que precisei apoiar na cômoda para não cair desmaiada no chão. Aquilo era loucura demais.

O menino, por outro lado, pareceu achar graça da situação e sorria ao me ver apoiada recuperando o fôlego.

— Por que me chamas, princesa dourada? Sentiu saudades? — O seu olhar convencido me fez franzir o cenho quase de imediato. De onde ele tirava tantos apelidos com dourado?

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora