Você parece sempre me ajudar a recuperar o fôlego, mas então eu o perco de novo quando olho para você, é o fim.
~ Clinton KaneNarrado por Ayla.
O que era aquilo?
Por que meu coração estava tão acelerado? Por que minha respiração estava tão desregulada? Por que parecia ter borboletas saltitando pelo meu estômago? Por que eu sentia cada pelo do meu corpo arrepiado? Por que minhas pernas tremiam? E... Por que seus olhos tão focados nos meus não saíam de minha cabeça juntamente com aquele piercing no canto da boca?
— Eu... — A menina dos cabelos chamativos estava sentada em minha frente, na cafeteria próxima do colégio enquanto tentava me dizer algo há dez minutos. Benjamin nos acompanhava, mas parecia não querer se intrometer no que íamos falar. E quando tentou, Melina o repreendeu com o olhar. — Olha só... me desculpa, tá bom? Eu acho que... passei um pouco dos limites, cachinhos dourados. — Ela foi direto ao ponto, tomando um gole do seu café com um desenho de coração.
— Está usando o apelido ofensivo de novo. — Benjamin a acusou com os olhos levemente fechados.
— Dessa vez eu não usei para ofender! — Se defendeu, apontando o seu dedo para ele. — O apelido é fofo, poxa.
— Não tem problema. — Abri um sorriso curto. — Tenho um amigo que vive me apelidando de tudo que está relacionado ao dourado.
— Você tem amigo? — Benjamin ergueu uma sobrancelha, me deixando confusa com aquela surpresa.
— O quê? Você tem amigo? — Foi a vez de Melina, o que me deixou ainda mais desconfortável.
— Não, é que... — O garoto coçou a sua cabeça, parecendo pensar nas palavras ideais para usar. — É que você sempre está sozinha pela escola, até mesmo quando namorava Ygor e quando tinha Sophia como amiga. Eles dois sempre estavam fazendo coisas juntos; indo a festas, bares e a tudo quanto é coisa que os convidavam. Você... você nunca estava. — Eu o encarei, sentindo um grande aperto no coração.
É porque eu não sabia dessas saídas.
Eles diziam sempre que era de um amigo íntimo dos dois ou que os chamaram de última hora ou até mesmo diziam que esqueceram de me chamar. Eu fui burra demais em não notar o que estava bem na minha frente.
Fui burra de confiar mais uma vez em quem não devia.
— Eu... bom, — suspirei, pensando no que diria. Um sorriso curto se abriu em meus lábios antes de dizer. — Terminamos porque ele achou que seria uma boa ideia beijar a minha melhor amiga. — Segurei os joelhos que tremiam debaixo da mesa, o sorriso triste se estendeu ainda mais em meu rosto ao contemplar a expressão chocada dos dois.
— Ele... ele traiu você?! — A indignação na voz de Melina era notória. E ela parecia tão irritada com isso que jogou suas mãos sobre a mesa, bem forte.
— Ele teve a coragem de te trair? É sério mesmo? — O garoto franziu o seu rosto, completamente desacreditado. — Não que eu ache que esteja mentindo, longe de mim. Mas é surpreendente demais que um ser humano possa ser tão podre a esse nível. — Justificava com as mãos ao esboçar seus pensamentos.
— Que canalha! Esse garoto realmente acha que é o dono do mundo! Usa as pessoas como se fossem guardanapos! — A cada palavra que saía de sua boca, Melina batia a palma de sua mão aberta na mesa.
— Eu não entendi o conceito do guardanapo. — A garota deu de ombros ao ver a expressão confusa dele.
— O que você faz assim que utiliza um guardanapo? — Disse com toda paciência que restava em seu ser, que eu acreditei não ser muita.
— Eu jogo no lixo... — A mão do garoto subiu até o queixo, com um semblante pensativo enquanto ela o encarava, esperando uma reação da sua parte. — Ah... descarta, né? — Seus olhos se reviraram mais uma vez quando o menino compreendeu o trocadilho e abriu um sorriso animado.
Um silêncio tomou conta do ar ao nosso redor. Um silêncio perturbador onde eles queriam tocar no assunto e ir mais afundo, mas por alguma razão pareciam ter medo. Eu batia os pés no chão, tentando não ficar pensando nas milhões de coisas que se passavam em minha mente como uma caminhada em círculos.
E lá estava ele novamente, parado na porta da cafeteria olhando para mim como se quisesse se aproximar, como se quisesse dizer algo. E dentre as coisas que ele poderia dizer há duas opções: "Ayla, e a carta para os meus amigos do salão?" Ou então "Ayla, você sentiu o que eu senti naquele mesmo banheiro em que nossos elétrons reagiram um ao outro mais uma vez?"
E eu não sei o que diria caso fosse a segunda opção.
— Olha, Ayla... espero que esteja bem. — A voz suave e a sua mão que tocou a minha sobre a mesa, fez com que algo dentro de mim se agitasse. Ela estava... se importando comigo? Estava mesmo dizendo aquela palavras tão doces de forma compreensiva sem desejar nada em troca? Sem olhar a minha aparência ou a influência que minha família possui? Estava dizendo aquilo só porque realmente queria dizer? Não tinha nenhuma intenção além de desejar intensamente que eu estivesse bem?
— É... eu estou. — Puxei a minha mão, sentindo uma sensação esquisita dentro do peito. Aquele gesto era bom, não é? Ela estava sendo verdadeira, né? Então por qual razão minha mente me dizia para não permitir que se aproximassem?
Por que... eu estava com medo de receber sua compaixão?
O silêncio, mais uma vez, tomou conta de nossa mesa, trazendo com ele uma sensação horrível de desconforto. Todos pareciam querer dizer algo para quebrar aquilo, mas não existiam palavras o suficiente para derrubar aquela muralha.
Então usando as ações que são mais fortes que as palavras, eu me levantei da cadeira, abri um leve sorriso e dei as costas.
Desejando com todas as forças um travesseiro para deitar a minha cabeça, e quem sabe chorar? Não seria a primeira vez na semana.
— Ayla? Já... já vai? — Benjamin me chamou com um receio na voz, ambos não pareciam entender a minha ação. Nem eu entendi o aperto que tomou conta do meu peito ao sentir qualquer empatia da parte deles.
Por que de repente mudaram? Por que ela se desculpou e decidiu me chamar para conversar? Por que agora me encaravam de forma compreensiva?
A verdade é que a dor da traição te impossibilita de confiar novamente em alguém. Quando se é magoado diversas vezes, quando brincam com o seu coração, quando te ferem sem sentir pena alguma... É difícil acreditar que alguém pode se aproximar e realmente ser bom na sua vida.
Mas algo dentro de mim...
Algo ardia dentro de mim dizendo que ainda era possível acreditar na bondade humana.
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Te Encontrei Para Me Amar
RomanceA vida e a morte constituem o limite extremo da existência humana. Os seres humanos nascem para morrer, respiram para deixar de respirar, seus corações batem para deixar de bater e suas vidas surgem para desaparecer. O ciclo sempre foi assim, se rep...