27. Senti medo.

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Eu posso sentir o Sol sempre que você está por perto. E toda vez que você me toca, eu me derreto toda.
~ Beyoncé

Narrado por Lorenzo

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Narrado por Lorenzo.

A porta se abriu lentamente, causando um rangido baixo no ambiente. Minha mão ainda estava estendida no ar, procurando novamente sentir aquele toque tão gelado, aquele frio do metal que arrepiou toda a minha pele. Sei disso porque observei quando os pelos do meu braço se ergueram, fazendo com que um suspiro saísse de minha boca.

Por que isso acontecia? Se eu não estava vivo, por que o meu corpo ainda reagia? Por que eu ainda sentia o ar atravessar minhas narinas em direção aos meus pulmões? Por que sentia a minha pele tão firme? Por que eu ainda podia ser tocado se não tinha mais um corpo? Não tinha pele, órgãos ou um único átomo. Eu não existia mais.

Então, por que ainda sinto que estou ligado a vida?

— Ah... você está Aqui. — A menina dos cabelos dourados limpava os olhos, como da primeira vez que nos encontramos, a quase duas semanas atrás. Seu nariz e suas bochechas estavam avermelhados, seus cabelos atrás da orelha e sua testa levemente franzida.

— Pretende jogar o desentupidor em minha cabeça de novo? Quem sabe dessa vez você acerta. — Fiz uma piada, em uma tentativa de fazê-la sorrir. Mas o sorriso que abriu em seus lábios foi tão curto que eu diria ser imperceptível.

Sentia vontade de abraça-la, vontade de envolver os meus braços em torno de seu corpo e mantê-la aquecida. Protegê-la desse mundo capaz de fazê-la chorar. Queria levar as pontas de meus dedos até seus olhos e limpar aquelas lágrimas que entregavam o quanto ela estava mal.

E isso me preocupava. Me preocupava o quanto ja estava ligado a ela. Estava ligado ao ponto de sentir a minha alma rasgando só de vê-la chorar.

— Agora eu sei o truque para te acertar. Talvez dessa vez o desentupidor realmente te toque e as bactérias venham corroer a sua alma. — Sua piada foi como uma brisa suave que soprou em meus ouvidos. Sua voz era tão doce. Até repleta de dor a sua voz conseguia ser doce.

— Por que está chorando, loirinha? — Ergui a minha mão, e como se fosse algo automático, levei até o seu rosto, na intenção de limpar as suas lágrimas. Mas me esquecendo de que estava morto, minha mão atravessou o seu rosto, causando um arrepio em seu corpo.

Ayla abraçou o seu corpo em uma tentativa de amenizar o arrepio que causei em seu ser. E vendo a sua reação, recolhi a minha mão, desviando o olhar da menina. Era frustante não poder usar o toque para consolar.

Logo o toque, que unia o calor dos corpos e aliviava o frio do coração. Mas a minha forma de corpo era fria demais para passar qualquer tipo de calor.

Não sei se a garota em minha frente notou a frustração em meu rosto ou se simplesmente sentiu a necessidade de me tocar tanto quanto eu sentia a necessidade de tocá-la. Mas movida pelos seus pensamentos, seus dedos apertaram o meu braço direito, fazendo com que ele se tornasse carne novamente.

Soltei um suspiro ao sentir seus dedos tão firmes contra a pele que acabou de cobrir meu corpo novamente, como se sempre estivesse ali, como se dez anos não houvesse passado.

Não resistindo mais contra a vontade sufocante que me dizia para enrolar o seu corpo em meus braços, puxei a cintura da menina para mais perto, encarando o seu rosto agora tão próximo do meu. Seus olhos brilharam com um desejo intenso, refletindo o brilho do meu. Sua respiração estava desregulada e batia contra a minha nova camada de pele, seu coração estava tão acelerado que eu podia senti-lo bater contra o meu peito no mesmo ritmo que o meu.

Ergui a minha mão livre e a levei até o seu rosto, limpando aqueles vestígios de lágrimas. Não queria vê-la chorar, não queria vê-la sofrer. Não queria que um ser humano tão doce, compreensivo e cheio de compaixão viesse sentir qualquer tipo de dor. Eu queria tirar aquela dor dela, queria que doesse em mim para que não doesse nela.

E não liguei de pensar assim. Não liguei de sentir meu novo coração batendo daquela forma por sentir seu corpo tão próximo do meu. Não liguei quando meus olhos desviaram dos seus e acharam um novo ponto para admirar.

Sua boca era meu novo ponto. Seus lábios que eu não admirava pela primeira vez. Sentia vontade de trocá-lo, mas não somente com as pontas dos meus recém dedos, mas sim com os meus recém lábios. Queria sentir o gosto deles, saber que tinham gosto de mel da mesma forma como eu imaginava.

Tirei uma mecha de seu cabelo e a levei para trás de sua orelha. Acariciei a sua bochecha delicadamente, sentindo a quentura da sua pele. Sei que estava nervosa, suas bochechas avermelhadas entregavam isso, mas soube também que estava desejando o mesmo que eu quando os seus olhos se desviaram por um segundo e focaram em meus lábios, especificamente no piercing no canto de minha boca.

Aquilo foi a permissão que eu precisava para beijá-la. Não estava ligando se era uma alma penada e meu coração não bombeava mais sangue, mas naquele momento, o meu coração bombeava desejo; ele ardia de paixão. E se isso for um bug no sistema de Deus, eu agradeço por poder beijá-la, por poder sentir esse desejo pela primeira vez.

Mas quando curvei a cabeça para enfim selar os nossos lábios obedecendo ao desejo mútuo dos dois, alguém gritou o nome de Ayla. Parecia uma voz feminina que adentrava o banheiro, à procura dela.

Ayla se afastou de meu toque e senti como se novamente estivesse morto. A falta do calor de seu corpo me fez ficar frio novamente; a falta dos seus dedos em volta do meu braço, tão delicados, me fez sentir frio. Ayla desviou o seu olhar e com o braço que segurava o meu, ela segurou o seu, como se estivesse envergonhada.

— Ayla? Você está aqui? Podemos conversar? — A voz perguntava com insegurança, parecia ter medo de se aproximar.

A loirinha me olhou por alguns breves segundos antes de passar por mim e atender a voz, sem demonstrar nada em seu olhar, sem dizer nada e agir como se aquela conexão entre nós dois não tivesse acontecido.

Sua reação foi suficiente para fazer com que meu corpo inteiro se arrepiasse.

Eu fiquei com medo pela primeira vez em muito tempo.

Senti medo.

Por que... como eu pude acreditar que ela beijaria uma alma? Alguém que não vive mais? Como pude acreditar firmemente que aquele desejo todo que eu estava sentindo era recíproco? Estou sendo um tolo e desviando do meu real propósito: preciso salvar a minha alma, preciso ver a minha irmã.

Mas a corrente de energia que me liga com aquela garota que somente ao me encarar, consegue mexer completamente com a minha cabeça, é muito forte.

Eu podia estar a colocando em perigo ao envolve-la em tudo isso...

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora