51. Eu não quero estar aqui.

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Por favor, fique.
Eu te quero, preciso de você.
Oh, Deus... Não tire
essas coisas lindas que tenho.
~ Benson Boone

Narrado por Lorenzo

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Narrado por Lorenzo

— Venha, Lorenzo. Venha conhecer o seu Deus antes de adentrar as moradas celestiais. O seu Deus quer te conhecer. — O anjo abriu um sorriso gentil, tocando em meu braço e me fazendo finalmente sentir que não era mais feito de ar, mas era uma espécie de corpo iluminado por Deus, glorificado, cheio de glória ou algo assim.

— Seu Deus já planeja me expulsar do céu sem nem antes eu ter pisado? — Ergui uma sobrancelha e ouvi a risada descontraída do anjo. Ele parecia ter um humor muito melhor que o de Myel.

E Myel, hein? Eu não pude nem ao menos me despedir.

O anjo me fez adentrar no grande portão dourado e virar em direção ao uma grande construção, que mais parecia um palácio ou um grande tribunal. As portas se abriram assim que ele se aproximou e notei que isso foi possível porque alguns anjos guardavam o local.

— Por favor, querido Lorenzo. Peço que não faça nenhuma de suas piadinhas e trate O Criador do Universo com todo respeito necessário. — Dessa vez, o seu semblante estava sério. O anjo parecia ter mudado muito rápido o seu estado de espírito.

Todos eram assim?

Eu toquei o meu braço direito e percebi que a pulseira não estava mais lá. A mesma pulseira que Myel amarrou em meu pulso para marcar a minha alma havia desaparecido.

— Entrem. — Uma voz estrondosa soou pelo local completamente vazio, fazendo um eco que causou um arrepio por toda parte do meu novo corpo. Eu abracei o meu corpo e olhei para o anjo, que se curvava antes mesmo de nos aproximarmos do que julguei ser um trono. Não sabia ao certo se era, pois a luz que exalava dele era tão forte que dificultava enxergar além dela. E essa luz exalava do ser que tinha o controle do universo na palma de suas mãos.

Não era possível enxergar do que Deus era feito, pois a luz cegava os meus olhos como uma forma de me lembrar que eu não passava de apenas um pequeno grão na imensidão da qual Ele criou. Não passava de apenas um pequeno detalhe na obra de arte que Ele havia feito em apenas seis dias.

E ao pensar dessa forma, a ideia de que talvez ele me escutaria era completamente absurda agora. Por que dentre tantas pessoas, umas muitos melhores do que eu, por que ele daria ouvidos a mim? Dentre tantos seres humanos com problemas muito maiores do que amor após a morte, por que ele atenderia as minhas petições?

Mas não deixei que isso me abatesse, e em uma tentativa de expulsar esses pensamentos, fechei o meu punho ao lado do corpo e a imagem de Ayla veio em minha mente como uma lembrança do porque eu deveria tentar.

— Eu... — O anjo ao meu lado deu um tapa em minha cabeça, me fazendo abaixar ao seu lado enquanto me encarava com um semblante assustador.

— Cadê o respeito que eu pedi para que tivesse. — Ele sussurrou ao meu lado e eu ergui a sobrancelha, me levantando e me aproximando da luz que exalava do trono.

— Eu conheço você, Lorenzo. — A voz suave e ao mesmo tempo arrepiante soou mais uma vez no ambiente, me fazendo ajoelhar quase de imediato. Meu corpo reagiu como se soubesse exatamente que deveria fazer aquilo. — Conheço você antes mesmo que viesse surgir na terra. Sei o que passou, sei o que vivenciou, sei o que pensou e pensa de mim. — Engoli a seco, me perguntando se seria agora que ele me expulsaria do céu. Talvez assim eu possa viver com Ayla. — Sei a sua índole... E por isso, sei o que deseja me falar. E sendo sincero, anseio por essa conversa há bastante tempo. — Escutei uma risada baixa e me perguntei se era aquilo mesmo que eu estava ouvindo.

Deus estava rindo? Rindo do que exatamente? Eu deveria começar a falar agora ou ainda tinha alguma chance de levar outro tapa de um anjo? Será que existe algum risco de eu soltar alguma abobrinha ou um palavrão desesperado e um buraco negro abrir e me levar diretamente para o inferno?

Mas eu precisava dizer, precisava fazer algo. Não podia simplesmente me contentar em viver sem a única felicidade genuína que senti naquela terra. Não podia simplesmente fingir que estava tudo bem quando meu coração me acusava de ter deixado algo que eu amava. Estava frustrado de sempre perder as coisas que eu amava, estava frustrado de perder tudo para a morte.

Ela sempre tomava tudo de mim, todo o resquício de felicidade que restava em meu ser a morte tirou sem dó algum.

E quando percebi, estava tão imerso em meus pensamentos que de meus olhos caíam lágrimas. Então o céu era tão caloroso que te permitia chorar?

— Eu não quero estar aqui. — Disse de forma baixa, levando as mãos aos olhos e sentindo toda aquela dor escapar de meu peito. A imagem dos olhos de Ayla cheios de lágrimas enquanto eu tentava alcançar o seu corpo era pior do que levar um tiro diretamente no rosto, do que levar uma facada cravada no coração, do que perder o ar e descobrir que seus pulmões pararam de funcionar.

Cada momento que pude admirar a delicadeza de seu olhar, a bondade que possuía dentro de si, a forma que vivia tão leve mesmo sendo submetida a tantos desprazeres da vida. Cada momento em que eu pude ver o quanto Ayla era apaixonante.

E agora tudo acabou. Tudo acabou como todas as outras coisas em minha vida.

— Deus, eu não quero estar aqui! — Gritei, um grito desesperado e repleto de dor. Eu não podia ver além da luz, não sabia qual seria sua reação, mas também não estava com medo.

Acreditar em Deus não era isso? Contar a Ele tudo que sua mente dizia? Contar a Ele tudo aquilo que o seu ser sentia?

— Essa é a primeira vez, em todos esses anos em que o primeiro ser habitou a terra, que escuto alguém dizer que não quer estar no céu. — Sua voz estava serena, parecendo estar interessado no que eu dizia. — Diga, Lorenzo. O que exatamente você quer então?

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora