37. E meu Deus.

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Isso torna seus lábios tão beijáveis.
E seu beijo, imperdível.
Seus dedos, tão tocáveis.
E seus olhos irresistíveis.
~ One direction

Narrado por Lorenzo

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Narrado por Lorenzo.

Oito da manhã. O sol já queimava a pele dos viventes, dando-nos um dia belo e ensolarado. Ayla dormia tranquilamente, ignorando o dia que já surgia do lado de fora. Estranhei aquilo já que todos os dias, sem exceção, ela amanhecia antes mesmo do dia e fazia suas caminhadas matinais.

Não sei se estava cansada das emoções de ontem ou se só queria estar um pouco mais na cama.

Essa madrugada foi bem difícil. Confesso que passei muito tempo pensando em como as coisas ficaram mais difíceis ainda depois que morri. São tantos sentimentos acumulados, tanta angústia que sufocam a alma... é difícil estar morto tanto quanto é difícil viver.

Então será que realmente é tão fácil assim só morrer? Porque para aqueles que não sabem como é a vida depois da morte, acreditam que vão simplesmente deixar de existir, excluir todos os problemas. Mas será que realmente a morte é a única opção?

Encontrei Ísis, a fantasma que, infelizmente, terá um destino igual ao meu. Destino esse, que vai nos condenar eternamente até gritarmos por misericórdia.

Pelo menos é essa a visão que construí do inferno até agora.

Ísis estava em uma praça, sentada e pensativa. Ela pareceu não notar a minha presença até eu me sentar ao seu lado e observar a vista do lago juntamente com ela.

Era uma praça cercada de árvores e com uma grama limpa em um tom impecável de verde. Um lago cobria uma parte dela enquanto um chafariz perfeito dava mais um toque na arte que era aquele lugar. Lembro-me que na época em que vivia, esse parque era o favorito de muitas pessoas e é chocante ver que mesmo depois de dois anos, isso foi a única coisa que não mudou tanto assim.

Ísis me contou o quanto estava desesperançada e eu a acompanhei, mergulhando de cabeça nessa condenação que era saber o que irá acontecer com você. A garota visitou sua família pela manhã, percebendo o quanto a sua ausência ainda se fazia presente, pois afinal, estava morta havia três semanas. Contou que seu irmãozinho mais novo ainda visitava o seu quarto, só para saber se aquilo não passava de um pesadelo e ela ainda estava viva.

Ele abriu a porta com os olhos fechados, desejando intensamente que eu ainda estivesse ali. Mas infelizmente, o destino foi cruel demais e não atendeu suas súplicas. — Declarou para mim com um sorriso tão triste que senti pena. Senti pena da sua situação, pena porque seu irmão infelizmente perdeu alguém que amava sendo tão novo, senti pena de nós dois, pena de mim.

E a imagem da minha irmã naquele caixão voltou a minha memória. O aperto que senti no peito, a dor que parecia rasgar a minha alma, a sensação de estar vivendo o pior pesadelo da minha vida e o desespero de saber que nunca a veria novamente.

Eu sei o que o seu irmão deve estar sentindo.

Foi o que eu pensei quando a ouvir dizer.

E o dia foi amanhecendo mais e mais enquanto apenas observavamos o sol surgindo no céu, dando a ele uma cor mais azul. Um cenário digno de um filme.

Me despedi de Isis sabendo que ainda a encontraria. Sabendo que ainda descobria como morreu e que faria de tudo para que essa semana não fosse tão angustiante quanto deve estar sendo. Pois estávamos no mesmo barco, afundando aos poucos no mar de sentimentos.

E agora estava aqui, desejando que Ayla acordasse logo só para ouvir sua voz que era tão melódica aos meus ouvidos, só para vê-la abrir seus olhos tão intensos e profundos, só para vê-la abrir um sorriso e iluminar essa parte escura da morte.

A parte escura da morte era não estar com ela.

Eu parecia estar em abstinência da sua presença.

Até que seus olhos se abriram. Aquelas suas pedras preciosas que ela carregava no olhar. As duas bolas da cor de dois cintrinos delicados. Tão bonita e tão distante de mim. Tão adorável e tão impossível de possuir.

— Bom dia. — Sua boca se abriu lentamente em um bocejo, fechando os olhos e os abrindo novamente. Ayla esticou o seu corpo e espreguiçou, respirando fundo antes de dizer: — O que fez enquanto eu dormia?

— Muitas coisas, loirinha. Você dormiu bastante. — Sua risada se fez presente no ar antes dela se levantar e prender o seu cabelo de um jeito desleixado, indo em direção ao seu banheiro com o corpo cansado.

— Eu não dormi tanto assim. — Franziu a testa e pegou o celular em sua cômoda, vendo que eram nove horas da manhã. — Acho que preciso voltar a minha rotina de caminhadas. — Declarou, pegando a sua escova de dente e passando a pasta. Ela levou a escova até os dentes e passou de forma delicada, encarando-se no espelho do banheiro.

Seus movimentos pareciam todos planejados; ela limpava os dentes, cospia na pia da forma mais bonita que já vi alguém cospir, levava um copinho com enxaguante bocal até a boca e enxaguava. Tudo muito rápido, tudo muito delicado, tudo muito lindo, tudo muito... ela.

— Eu acho que você precisa voltar a sua rotina de caminhadas. Não aguento ficar esperando mais tempo para você acordar. — Inclinei minha cabeça para o lado, sem notar que um sorriso de canto enfeitava os meus lábios. — Inclusive, você precisa espairecer um pouco.

— Você também. — Ela acusou, com um olhar julgador enquanto caminhava até o seu guarda-roupa e tirava uma calça social feminina de um branco meio bege e uma blusa de tecido fino, completamente preta que não parecia ser tão longa, então julguei que cobria apenas metade da barriga. — Tive muitas ideias para o que podemos fazer para aliviar sua mente e assim, talvez, ter uma noção do que possa ser seu assunto inacabado.

Ela sorriu.
E meu Deus.

Eu não vou conseguir aguentar se ela continuar sendo tão adorável desse jeito.

Eu já não aguento.

Eu não aguento mais estar morto sabendo que ela vive em um mundo do qual eu não pertenço mais.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora