34. A traição e a confiança.

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Quando estamos falando do amor, nunca é tarde demais.
~ Cartas para Julieta

— Obrigada por trazer as lembranças de Lorenzo de volta para nós

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— Obrigada por trazer as lembranças de Lorenzo de volta para nós. — Henrique abriu um sorriso e aquilo confortou meu coração. Nem parecia o mesmo homem do tamanho de um ogro que acendeu um cigarro na minha cara a horas atrás.

Passamos horas conversando e ambos me perguntaram como o conheci, o que era difícil de explicar pois quando Lorenzo estava em sua adolescência, eu ainda chamava o intervalo da escola de hora do lanchinho. Tenho poucas lembranças de seu rosto já que apenas os seus pais eram amigos de meus pais. Às vezes em que Lorenzo e meus pais se comunicavam eram poucas. E lorenzo até tinha o hábito de contar à minha mãe o que se passava em sua cabeça, mas sempre acabava se afastando de tudo e todos que tinham qualquer contato com os seus pais.

Henrique me contou que após a trágico momento no salão, por anos a imagem da morte de Lorenzo permaneceu em sua mente. Ver o amigo caindo em sua frente quase morto por conta de uma bala perdida, era brutal de assistir.

Henrique continuou dizendo que só sabia chorar enquanto Fábio tentava acordar o amigo que já parecia não ter mais pulso. Os clientes começaram a sair do salão em desespero, no meio da operação policial. O homem, lembrando daquelas lembranças trágicas, prosseguiu contando que naquele dia, um buraco se abriu dentro de seu peito. Um buraco impossível de se reparar.

Fábio acrescentou que ao contemplar o rosto ensanguentado do amigo, ele só pensava em salvá-lo, em fazer algo para que ele acordasse pois sua mente ainda dizia que ele estava vivo.

Mas infelizmente, a vida foi arrancada de Lorenzo. E isso ficou evidente após alguns dias, quando os médico declararam oficialmente que ele estava morto.

— Eu que agradeço por me receberem. — Abri um sorriso e olhei para todos os cantos do salão, em busca da figura fantasmagórica do garoto.

Mas ele não estava lá.
Lorenzo não estava lá.
É isso, está feito.

— Espero que... Com o passar do tempo, a dor de perdê-lo venha ser substituída aos poucos pelas memórias boas que restaram. Desejo, de verdade, que possam ficar bem, e que o coração não venha doer tanto ao lembrar daquele que um dia vocês tanto amaram em vida. — Eu estiquei os meus braços e abracei os dois, recebendo um sorriso gentil e lágrimas em troca.

É isso, Lorenzo finalmente se foi.
Como todos os outros.

— Boa volta para casa, loirinha. Você é uma pessoa incrível! — Henrique limpou suas lágrimas com os dedos da mão e acenou com a outra.

— Volte em segurança. — Fábio completou, abrindo um sorriso e acenando juntamente com o amigo.

É isso.

Fechei a porta da sala assim que entrei em casa, encostei as minhas costas na madeira fria e suspirei. Um suspiro tão longo que eu jurei estar soltando todo o ar que a segundos havia entrado em meus pulmões.

Eu deveria estar feliz.
Você deveria estar feliz, Ayla!

Ele se foi. Está no céu, provavelmente com a sua irmã e vivendo agora infinitamente mais feliz do que estava. Você devia ficar feliz por ele ser um fantasma dentre um milhão de outros que conseguiu descobrir seu assunto inacabado. Devia ficar feliz porque ele já havia sofrido muito... merecia um lugar bom para viver a eternidade.

Mas não.
Eu não estava feliz.

E meu coração batia como um louco, implorando para que ele não fosse, sobre hipótese alguma, para longe de mim. Meu coração implorava pela sua companhia, pela sua atenção, pelo seu toque, o seu afeto ou somente a sua presença. Meu coração implorava por ele.

Mas meu coração não podia ter algo que não me pertencia.

— Filha? — Escutei uma voz grave me chamar das escadas e ergui o meu olhar, assustada. — Será que podemos conversar? — Meu pai carregava uma expressão triste e séria. Minha mãe surgiu do topo da escada com os braços cruzados e um sorriso triste nos lábios.

Minha mãe havia contado a ele.

— Boa noite, pai... — Minha voz saiu como em um sussurro, e eu me perguntava se aquele seria o assunto principal.

— Por que não me contou o que esse moleque fez com você? Eu... — Meu pai fechou o punho, com os olhos repletos de fúria. A mulher dos cabelos dourados tocou o seu ombro, tentando o acalmar.

Era interessante a raiva que tomava conta do meu corpo ao lembrar das coisas que eu me submetia para que pudéssemos ficar juntos.

A minha vida era uma constante busca pela validação do idiota do meu ex namorado e a atual namorada dele. Fazia de tudo para agradar aqueles que eu acreditava serem os únicos a me apoiarem. Mas na primeira oportunidade, mostraram o quanto nunca fizeram questão da minha companhia.

Eu criei uma história fantasiosa onde tinha um namorado perfeito, uma melhor amiga incrível, uma mente longe de qualquer problema psicológico e tudo estava nos conformes.

A história fez tanto sentido na minha cabeça que se tornou real, até tudo desmoronar.

E no dia em que sua máscara caiu, tudo ficou muito claro, até mesmo os meus sentimentos.

E sou grata a esse dia. Pois além de ver a máscara de Ygor caindo, pude conhecer a alma que iluminou os caminhos da minha mente, como um verdadeiro anjo.

O menino conseguiu distrair a minha cabeça de tal forma que não pensei, o tanto que eu pensaria, o quanto estava me sentindo mal.

Lorenzo me salvou e mal sabe disso.

Mas algo ainda doía no peito. Algo ainda formigava em meu interior.

E um questionamento surgiu mais uma vez em minha cabeça: o que eu fiz de errado? Eu era tão sem graça assim?

E foi nesse exato momento que eu entendi que a traição não destrói somente a confiança que você constrói com as pessoas. Ela destrói também, a confiança que você possui em si mesmo.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora