46. Eu estou me apaixonando, Ayla.

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Oh, oh... estou me apaixonando.
Oh, não... estou me apaixonando de novo.
Oh... estou me apaixonando.
~ Taylor Swift

Narrado por Lorenzo

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Narrado por Lorenzo.

Olhar em seus olhos repletos de lágrimas era doloroso, porque a minha vontade era de cobri-la com os meus braços e pedir para que nunca mais chorasse, porque eu estaria ali. Porque estaríamos juntos e o mundo seria bom com a gente. Deus seria bom com a gente.

Mas acontece que o que Deus julga ser bom, não é bom o suficiente para mim. Porque Ele determinou que eu estou morto, mas eu queria estar vivo. Ele determinou que eu deveria ama-la em morte, mas eu queria ama-la em vida.

E indo contra as minhas emoções que me impulsionavam a dizer tudo aquilo que o meu morto coração estava gritando, eu desviei o meu olhar com uma angústia tomando conta do meu interior.

— Não posso mantê-la por perto. — Eu sentia os seus olhos ainda sobre mim, olhos que me acusavam silenciosamente.

— E por que não pode ficar perto de mim? Por que os demônios querem me matar? Você acha que o medo que eu tenho por eles é mais forte do que o medo que eu tenho de... de... — Sua voz de repente parou. Encarei o seu rosto notando os seus lábios trêmulos e as sobrancelhas franzidas.

Eu sei o que ela queria dizer.

— Eu... sinto muito. — Suspirei, não podia voltar atrás em minha decisão. Em toda minha vida, sempre tomei decisões que priorizavam a mim, mas agora era diferente. Agora eu tinha alguém para priorizar. E de forma alguma deixaria que Ayla fosse prejudicada por conta de minhas decisões. — Não posso mantê-la por perto.

— Você me usou, não é? — Uma lágrima escorreu do canto de seu olho direito, Ayla abraçou o seu corpo e desviou o seu olhar para o lado, ainda com o semblante que partia a minha forma de ar. — Você me usou e agora vai me descartar como todos os outros. Como se... como se eu fosse um mísero guardanapo. Quando não é mais necessário, a gente descarta... — Engoliu seco, permitindo que as lágrimas viessem à tona. — Por que eu esperava que fosse ficar?

— Eu estou me apaixonando, Ayla. — As palavras escaparam de meus lábios de forma que não pude segurar. No espaço de tempo em que elas atravessaram a minha mente para chegar a minha boca foi tão rápido que a velocidade da luz facilmente perderia uma corrida. E quando percebi, já era tarde demais. Ayla me olhava como se quisesse respostas, como se não entendesse minhas palavras tão claras. Então, fui ainda mais claro. — Estou me apaixonando por você, Ayla. Entende o quão grave isso é? Entende porque devo me manter longe? Não existe um mundo onde isso aqui seja possível. — Apontei para nós dois, me aproximando ainda mais dela. — Não existe futuro para nós pois o meu futuro acabou há dez anos atrás. Não posso me permitir sentir isso. Não posso ser tão egoísta ao ponto de querer que sinta o mesmo por mim e perca sua vida se lamentando no exato momento em que eu sumir. — Disse em desespero, totalmente desesperado pois o meu desejo por ela parecia maior do que a nossa situação. Minha mente insistia em dizer que eu estava exagerando. — Porque eu vou sumir, loirinha. Na próxima semana eu irei desaparecer completamente. E será como se nunca tivesse pisado nessa terra. — Seus olhos estavam brilhantes, mas esse brilho era devido as lágrimas que ela segurava e que estavam à beira de cair. — Não posso ser tão egoísta assim. Não posso permitir que me ame e depois suma da sua vida...

Senti quando sua mão alcançou a minha. O calor quente do qual eu já estava acostumado a sentir, a presença que cobria o meu ser de um sentimento tão vasto e intenso. O seu toque tinha o poder de devolver a mim, o que um dia foi tirado.

O seu toque devolvia o fôlego de vida a mim.

— Não posso, loirinha. — E as gotas de água tão famílias escaparam de meus olhos, desencadeando várias outras que escorriam como uma melodia angustiante.

Ayla passou suas mãos pequenas em volta de minha cintura e me apertou contra o seu corpo. Sua reação foi repentina e me causou surpresa, mas logo devolvi o seu toque e passei meus braços em volta de seu pescoço, tocando seus cabelos com uma das mãos e me permitindo chorar.

Chorei por ter que deixá-la ir, chorei por ter que abrir mão dos meus sentimentos, chorei por estar morto, me amaldiçoei por estar morto, amaldiçoei o destino ou qualquer coisa que esteja nos separando nesse momento.

— Eu tenho que ir. — Disse assim que tomei coragem para me afastar de seus braços. — Por favor, não me culpe. Eu estou tentando salvar você. — Seus olhos entraram em desespero, me apertando mais firme quando percebeu que eu me afastava. Ayla balançou a cabeça para os lados à medida que dava passos para trás, sentindo o mesmo aperto na alma.

Era isso que Deus queria? Que eu sofresse antes de subir aos céus? Que eu passasse a eternidade sentindo falta de um amor que pude sentir em um curto espaço de tempo? Queria que eu a fizesse sofrer dessa forma?

— Não! Você não vai sumir! Nós vamos dar um jeito! Você não pode ir assim, Lorenzo! — Ayla se aproximou de mim, tentando me tocar, mas fui rápido o suficiente para me afastar e desaparecer, sem dar qualquer chance de me olhar pela última vez.

Mas eu a olhei.

E foi uma das cenas mais torturante que já pude contemplar. Vê-la chorar e perceber que eu sou o culpado quando poderia aliviar a sua dor, foi torturante.

E eu me pergunto qual o propósito de me fazer sofrer dessa forma. Decidir entre ir para o inferno e ir para o céu era como decidir entre fazer Ayla chorar para sempre ou chorar por um curto espaço de tempo.

E eu preferia que sofresse agora enquanto os sentimentos ainda não estavam aflorados do que sofrer por toda a eternidade enquanto eu usufruía dos prazeres da vida celestial e torcia para que pudéssemos ficar juntos.

Nem que fosse por uma última vez.

Então, se eu tivesse esses pensamentos de tê-la pela última vez, me arrependeria de não ter me apaixonado por ela agora? No inferno, eu me arrependeria de não tê-la abraçado agora? De não tê-la beijado quantas vezes eu quisesse? De não tê-la mantido aquecida debaixo de um edredom? De não ter contado história sem sentido e contado as piadas mais sem graças do mundo?

Teria me arrependido de não tê-la amado pela última vez se estivesse agora no inferno?

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora