42. Eu ficaria sozinha de novo.

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Mas, de repente, nada é como era.
Então essa é a sensação de amar alguém?
Você não sabe o que tinha até perder.
Então essa é a sensação de amar alguém?
~ Benson Boone

Então essa é a sensação de amar alguém?~ Benson Boone

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Narrado por Ayla.

Minhas mãos ainda tremiam, meus pés estavam bambos, meu coração acelerado de forma que parecia que eu havia corrido uma maratona, meus joelhos lutavam para não fraquejar e no fundo dos meus olhos ainda havia uma pitada de pavor.

Apoiei as minhas mãos na pia de mármore do banheiro, olhando para o meu reflexo no espelho.

Se recomponha, Ayla.
Se recomponha.

Mas era impossível manter a calma quando ainda conseguia ouvir aquelas risadas soarem em meus ouvidos me lembrando que a sensação do pânico foi real. Era difícil manter a calma quando os flashbacks da noite anterior bombardeavam a minha mente a cada mísero segundo.

— Me desculpa. — Escutei uma voz. Escutei a sua voz. Aquela voz que eu reconhecia muito bem de quem era, a única voz que tinha o total controle sobre mim e não sabia.

Eu ergui o meu olhar para encará-lo e ter a certeza de que realmente era ele, de que eu não estava sonhando e que estava tudo bem. Porque está tudo bem.

Eu ainda estou no meu quarto, ainda tenho Lorenzo aqui comigo e ainda respiro.

Quantos dedos há nas minhas mãos mesmo?
Todos os dez estão aqui?
1, 2, 3, 4...

— Eu sinto muito mesmo. — Seu semblante era triste, diria que se eu o tocasse nesse exato momento, derramaria tantas lágrimas que poderia encher uns dez baldes.

Ele acha que tem culpa. Está pedindo desculpas por algo que foge do seu controle.

— Não peça desculpas. — Abri a torneira e molhei as minhas mãos, as levando até a nuca e respirando fundo, tentando fazer a minha mente retornar a sua sanidade de sempre. — Eu só... aquele seres são...

— Perturbadores. — Lorenzo cruzou os braços, evitando o contato visual pois estava nitidamente se culpando. Em seus pensamentos, ele estava se amaldiçoando por conta dessa situação. — São demônios, que vieram atrás de você pois está me ajudando.

Fechei os dedos e os apertei, tentando não deixar que a cenas da noite passada tomassem conta dos meus pensamentos. Lorenzo pareceu notar o gesto já que passou os olhos de minha mão para o meu rosto. Ele parecia pensar em algo, pensar de forma cuidadosa, até que pareceu formar uma opinião quando levou suas mãos aos bolsos e travou o maxilar.

— Não quero mais que me ajude, Ayla. Vou descobrir o assunto sozinho e resolver sozinho a minha pendência. — Seus olhos procuravam qualquer ponto para focar desde que não fosse os meus olhos. Ele evitava me encarar. — Em toda minha vida eu sempre resolvi tudo sozinho, em morte não vai ser diferente. Não preciso de você.

Sua última frase soou de forma fria, mais fria que a sua forma de ar. Apertei o punho de forma mais forte, lutando contra a maré alta de emoções, contra todas aquelas ondas que vinham em minha direção e eu não sabia como lidar.

Ele não pode ir embora.
Ele prometeu que não iria embora.

— O quê? — Minha voz saiu baixa, em completo desespero. A ideia de não tê-lo aqui era tão assustadora quanto deixar de respirar. — Eu... eles não vão voltar! Não precisa se preocupar! Eu estou bem, Lorenzo. — Me aproximei lentamente, tocando sua bochecha com os meus dedos molhados com a água fria.

Mais a temperatura da água não era nada comparada a frieza de sua nova camada de pele, ou melhor, acredito que seu novo coração era ainda mais gelado que tudo isso. Pois assim que toquei a sua pele, Lorenzo se afastou.

— Eu já me decidi, Ayla. Mais uma vez, sinto muito por tudo que causei e agradeço toda a sua ajuda. — Estava de costas, estava evitando me olhar pois aquilo era doloroso para ele também. Minha mente me dizia que era igualmente doloroso para ele.

— Por que está me chamando assim? E os apelidos... — Tentei me aproximar de novo, mas foi em vão. O menino sumiu de repente antes de reaparecer na minha janela aberta, onde os demônios planejavam me arrastar para qualquer lugar longe dele.

E agora ele é que se arrastava para qualquer lugar longe de mim.

— É melhor assim. É melhor que me esqueça, que esqueça meu nome, que não se recorde mais do meu rosto, que não lembre como é ouvir a minha voz... É melhor fingir que nunca me conheceu, que não passei de uma memória sua de infância; uma memória irrelevante de um garoto irrelevante. É melhor que viva achando que estava louca ao me enxergar... — Lorenzo matinha seu maxilar travado, com o olhar distante de quem certamente não voltaria atrás em sua decisão. — E eu... vou viver sabendo que protegi a coisa mais valiosa que não obtive em vida, mas pude usufruir um pouco em morte. — E assim, ele sumiu completamente, sem deixar qualquer prova de que um dia esteve aqui.

Eu estendi minhas mãos. Tentei tocar, tentei achar, tentei procurar, mas não. Ele não estava mais ali.

Lorenzo sumiu e quebrou sua promessa. Lorenzo nunca mais voltaria, nunca mais voltaria para mim.

E eu... eu ficaria sozinha de novo.

Não.

Eu... eu não disse o que sentia.

E... Eu não posso gostar de um fantasma justamente por isso. Ele desapareceria.

— Lorenzo! — Gritei com todo fôlego que restava em meu corpo, gritei com todo pingo de esperança que restava em meu ser. Gritei sem me importar que eram seis horas da manhã, sem me importar que meus pais poderiam me achar doida e sem me importar com os vizinhos desde que Lorenzo escutasse.

Desde que minha voz chegasse até ele, que o convencesse, que pudesse trazê-lo de volta eu não me importaria. Não me importaria de perder a voz, de perder o fôlego, de perder toda a energia de me corpo desde que o trouxesse de volta.

— Lorenzo... — Uma lágrima quente escorreu do olho direito, desencadeando diversas outras que vieram em pavor. — Não faz isso, caramba! Não me abandona quando todo mundo já fez isso! Você prometeu que ia ficar aqui! Você prometeu! Não se lembra da sua promessa? — Fechei o meu punho e bati no travesseiro da cama, me sentindo frustrada e desesperada. — Não vai embora, caramba... Por favor, não faça isso. — Chorei, sem me importar de estar parecendo uma boba implorando para que voltasse.

Porque era isso que eu desejava.
Eu queria que o morto voltasse a viver, porque era isso que eu desejava.

Talvez fosse um pedido sobrenatural demais para uma mísera estrela cadente realizar. Mas quem sabe Deus me escuta dessa vez?

Quem sabe eu ainda tenha um pouco de fé?

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora