36. Eu senti algo.

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Tarde demais a conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-la, amei-a profundamente.
~ William Shakespeare

~ William Shakespeare

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Narrado por Lorenzo.

Eram três horas da manhã de um domingo. A famosa hora da morte ou hora do diabo. Dizem que a influência maligna se tornava muito maior e os portões do submundo eram abertos.

Mas nunca me importei muito com isso em vida, quem dirá em morte. E me preocupava ainda menos, pois a coisa mais bonita que já presenciei estava em minha frente, dormindo como um verdadeiro anjo de luz.

Observar Ayla dormir se tornou o meu mais novo hobby, um hobby muito melhor que observar as estrelas. Passei essas duas semanas inteiras observando cada pequeno traço inocente seu. Posso dizer que gravei cada detalhe, podendo descrevê-la perfeitamente sem nenhuma dificuldade. Ayla se encolhia toda com o corpo feito um casulo; se enrolava em seu cobertor até o pescoço. Sua respiração era delicada, ao passo que seus lábios se curvavam em um sorriso certas horas. Tudo nela parecia ter sido muito bem planejado, até a maneira como se deita.

Com certeza foi uma das melhores criações de Deus.

A menina esticou o seu braço e tocou o meu ombro ao seu lado, trazendo vida de volta ao meu ser. O seu toque involuntário foi suficiente para fazer com que um arrepio trilhasse o meu corpo. Nenhuma outra garota foi capaz de causar tanta vulnerabilidade em mim.

Aproveitei o seu toque e entrelacei os meus dedos aos seus, sentindo o calor de seus dedos contra os meus. Ela transbordava calor, transbordava luz, transbordava vida.

Acariciei os fios loiros cor de mel gravando aquele momento especial. Eu acho que não precisava tanto assim do paraíso, pois já havia experimentado na terra, e queria experimentar ainda mais daquele paraíso terrestre. Mas eu não podia, nunca fui digno do paraíso e quem dirá de um ser humano tão puro como ela.

Toquei uma última vez o seu rosto com os dedos, fazendo um pequeno carinho em sua bochecha. Aquele simples toque a fez se encolher ainda mais contra a coberta, sentindo frio.

E é por isso que não podia continuar nutrindo esses sentimentos por ela. Porque eu era como uma tempestade de inverno, tão frio que era impossível se manter por perto por muito tempo. Enquanto ela era como um belo dia de calor, tão quente que era capaz de aquecer a alma.

Saí de seu quarto eu fui fazer o que sempre fazia pelas noites: vagar até cansar de estar morto.

(...)

— Eu estive pesquisando muito. — Meu querido e mais novo amigo, não mais inimigo, anjo Myel, parecia indignado com a ideia de que eu podia sentir algo parecido com o amor. — Nunca, em meus dois milhões de anos vivendo e aprendendo com almas penadas, achei que teria a oportunidade de pegar uma alma que sente o amor terrestre mesmo depois de morrer. Isso é um acontecimento! Nunca antes houve algo parecido! Isso é incrível! Posso até ser promovido! — Ele dizia de forma alegre, e eu me afundava cada vez mais na cadeira. Pensava o quanto aquela situação era complexa. — E isso faz tanto sentindo! Esse amor de vocês dois! Porque você não podia nutrir sentimentos por ela quando estava vivo, ela era apenas uma criança. Mas se você estivesse vivo agora... — O seu semblante caiu no mesmo instante que declarou essa última frase. Eu apenas suspirei, pensando que se eu estivesse vivo, provavelmente não seria capaz de sentir nunca algo parecido com o amor.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora