A vida e a morte constituem o limite extremo da existência humana. Os seres humanos nascem para morrer, respiram para deixar de respirar, seus corações batem para deixar de bater e suas vidas surgem para desaparecer.
O ciclo sempre foi assim, se rep...
Ela me disse que amar era sofrer, e eu olhei para ela e disse que sofreria por ela. ~ Peter Pan
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Narrado por Lorenzo.
— Vai falar que você nunca gostou de nenhum desenho na infância? — Ayla estava deitada em meu peito, enquanto o calor de seu corpo aquecia a minha alma juntamente com seu edredom. Eu a enrolei em meus braços, acariciando os seus cabelos e sentindo aquele cheiro que exalava deles. Um cheiro de seu shampoo de coco.
Me perguntava se em algum momento ela considerou comprar algum com cheiro de mel.
— Claro que gostei. Eu gostava de Pinky Dinky Doo. — Recebi um tapa no peito e sua risada surgiu no ambiente, me fazendo rir também. — Eu gostava de Dinotrem. — Beijei o topo de sua cabeça, ainda acariciando os fios dourados. Era muito bom ter o seu corpo tão próximo ao meu dessa forma, sentia vontade de mantê-la assim para sempre. — Eles eram uma família legal.
— Essa uma história muito legal Sobre uma mãe especial Que ouviu um barulho Se virou para ver e disse assim: Puxa vida meus filhotes vão nascer. — Ela começou a tagarelar enquanto um sorriso se abria em meu rosto ao ver seus lábios se movendo.
— Um por um nasceram os bebês Pteranodontes um dois três Vão se chamar Linda, Tina e Tom E a Tina falou: — Acompanhei sua cantoria, forçando a minha mente a se lembrar da música de abertura.
— Tem mais um, que bom! — Apoiou seu queixo em meu peitos, me encarando ao cantar com uma empolgação única na voz.
— O último bebê era grandalhão Chamava bastante atenção Não era como os outros e queria saber O que eu faço aqui, alguém pode me dizer? — Arqueei minha sobrancelha, acompanhando sua atuação.
— Mas a Senhora Pteranodonte disse Somos sua família e sou sua mãe agora Você é diferente, mas não vai embora Cada dinossauro tem sua própria forma. — Sua mão acariciou meu cabelo, Me encarando de forma compreensiva. Foi quase impossível não rir. E percebendo que eu comecei a gargalhar, ela continuou o restante da música— Vamos, Bruno Vamos logo viajar Na estação Pteranodonte As passagens vou comprar Vamos pelo mundo descobrir e conhecer Outras espécies do alegre...
— Dinotrem, dinotrem Dinotrem, dinotrem. Vamos lá! Vamos viajar No Dinotrem! — Cantarolamos juntos, em meio as risadas, e fizemos uma espécie de rugido no final, igual a abertura, o que foi o máximo que aguentamos antes de rir até os olhos lacrimejarem.
— Eu gosto do seu senso de humor, loirinha. — A apertei mais contra o meu corpo enquanto ela se acomodava novamente. — Mas acho que você deveria dormir, pois amanhã retorna a sua rotina. — Fechei os olhos, percebendo que me apertou mais e soltou um suspiro.
— Espero que você não desapareça quando eu acordar. — Sua voz se tornou mais baixa, carregando um medo que foi possível sentir em minha forma de ar, porque eu também sentia esse medo. Agora a ideia de ficar com ela não me fazia temer ao inferno, me fazia querer aproveitar cada segundo desse pequeno paraíso.
— Não vou. — Afirmei, tentando passar segurança. Porque eu não desapareceria, pelo menos não agora.
— Você promete? — Travei o meu maxilar. Ela realmente tinha medo de que eu fosse embora. Tinha tanto medo que me apertava a cada palavra que dizia.
Então a apertei de volta e sorri, apoiando minha cabeça na sua e depositando mais um beijo.
— Eu prometo, botão de ouro. — Sussurrei, fechando os meus olhos com o sorriso ainda no rosto quando a voz de Myel surgiu em minha mente.
Eles virão atrás dela quando você descobrir.
Abri os olhos no mesmo momento, olhando para o lado e vendo que o relógio marcava exatamente três horas da manhã. Ayla já respirava calmamente, mergulhando no sono que se aproximava, e até cogitei a ideia de fechar novamente os meus olhos assim como ela, mas risadas baixas e uma áurea pesada tomou conta do ambiente.
Ergui o meu olhar e observei ao redor, sentindo um arrepio percorrer todo o meu sopro. As risadas começaram a ficar mais fortes, a medida que sombras surgiam na janela e rastejavam pelo quarto.
Eles virão atrás dela quando você descobrir.
As sombras ficavam mais nítidas conforme se aproximavam, ao ponto de eu conseguir enxergar quando um daqueles seres ameaçou puxar o edredom com sua espécie de garra. Arregalei meus olhos ao passo que tentava puxar o cobertor de volta, mas logo mais garras de sombras escuras surgiram, puxando mais ainda o cobertor.
Senti o corpo de Ayla se encolher, completamente arrepiado com a presença daquele seres que riam como se fossem nos torturar a qualquer momento.
Eles virão atrás dela quando você descobrir.
— O quê...? — Apertei Ayla ainda mais contra mim, puxando a coberta com desespero. Um dos seres das sombras passou pelo resquício de luz que iluminava o quarto, mais especificamente a luz do poste, e foi aí que pude ver a figura demoníaca em minha frente. Seus dentes eram afiados, parte do seu corpo estava queimado enquanto nuvens escuras rodeavam seu corpo. O ser maligno sorriu antes de se aproximar brutalmente e puxar Ayla de mim.
A menina acordou em desespero, arregalando os olhos e prendendo o ar assim que viu aquelas criaturas a carregando como se fosse apenas um saco de lixo. Eles prenderam suas mãos, seguraram os seus pés e taparam a sua boca, para que não gritasse.
As risadas eram ensurdecedoras, a forma como se moviam era assustadora e o jeito que me encaravam transmitia algo maligno.
— Achou que íamos deixar? — Sua voz era esquisita, era aguda, mas grave; parecia ameaçadora ao passo de que também parecia achar graça. E quando se viraram para sair pela janela com o sorriso resplandecendo nas formas de nuvens negras, eu tirei o splay da calça sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias.
Eles virão atrás dela quando você descobrir.
Eu tinha que protegê-la.
Se eles levarem ela a culpa será minha. Ela será levada por minha culpa.
Eu preciso protegê-la.
Sem pensar muito, agitei o splay e borrifei nas sombras, contemplando quando se agitaram e gritos ensurdecedores surgiram no ambiente.
— Canalha! Foi aquele anjo maldito! Eu vou acabar com aquele cretino! — Um deles declarou com desespero, como se estivesse queimando. — Isso não acabou! Eu não vou permitir que você faça essa passagem, é precioso demais para nós. — O sorriso da criatura surgiu novamente, antes de sumir na brisa da noite.
Eu estendi minha mão para Ayla que estava caída próxima a janela, com um olhar em completo choque. Ela encolheu suas pernas e sua mão estava na boca, seus olhos se mantinham fixos em um ponto qualquer enquanto lágrimas preenchiam o seu rosto. Ela estava apavorada.
Quem não estaria apavorado?
— Loirinha... — Aproximei mais a minha mão, implorando para que a pegasse e eu pudesse a consolar.
— Eles... O que eles eram? — Soluços escaparam de sua boca, antes de mergulhar por completo naquele pavor, e chorar desesperadamente.
Eu não pude fazer nada.
Não pude fazer nada além de vê-la chorar enquanto não tinha forças o suficiente para me tocar.
E ela chorou a madrugada inteira. E eu também teria chorado a madrugada inteira se eu não estivesse morto.
Porque quase perdê-la foi desesperador.
Não queria ter que sentir isso de novo nunca mais. Então faria de tudo para não fazê-la passar por isso de novo.