25. Sensação inebriante.

184 20 1
                                        

A vida não é a quantidade de respirações que você dá, são os momentos que tiram o nosso fôlego.
~ Hitch (Conselheiro amoroso)

~ Hitch (Conselheiro amoroso)

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Narrado por Lorenzo.

— Então você está apaixonado? Isso é surreal. Nessas três semanas de morta eu nunca vi algo parecido. — A garota, cujo nome era Ísis, me seguia pela cidade tagarelando sem parar. Ela estava tão impressionada com a minha atual situação que não parava de falar.

Mas enquanto ela e Myel se impressionavam com um fantasma tendo emoções humanas, eu me espantava por ter a capacidade de sentir algo por alguém. Por que isso aconteceu quando morri? Por que nunca senti isso enquanto estava vivo? Nunca senti algo parecido em vida, por que sentiria em morte?

Por que meu coração nunca bateu forte por alguém quando eu estava vivo? Por que ele batia forte agora se eu nem tenho um coração? Por que minha respiração parece desregulada toda vez que a vejo? Se eu nem tenho a capacidade de respirar? Por que me sinto mais feliz perto dela se a felicidade é uma emoção humana e não de almas penadas?

Por que pareço não estar mais sozinho quando sinto suas mãos me tocarem e me trazerem de volta à vida? Por que seu toque aquecia tanto a minha alma ao ponto de eu sentir falta do seu calor ao se afastar?

Eu... eu estava mesmo me sentindo atraído por aquela loirinha? Mas esse não é o ponto! Não posso me apaixonar pela única pessoa que pode me ajudar a resolver a minha situação.

Preciso manter o foco em conseguir salvar a minha alma. Conseguir, talvez, ver a minha irmã...

— Então quer dizer que você só tem uma semana de vida antes de descer de tobogã para o inferno? — Arqueei a minha sobrancelha e ela pareceu não gostar muito da piada, já que parou e cruzou os braços.

— Exatamente. — Abriu um sorrisinho cínico. — Minha frase é... — De repente, o seu sorriso sumiu. — É... difícil demais para compreender. — Seus olhos desviaram dos meus e ali eu pude ver o sentimento de frustração. Bem como o anjo disse.

— Se serve de consolo, a minha também é incompreensível. — Dei uma leve batida em seu ombro a fim de fazê-la se animar. Acho que perder a única esperança que temos é a última coisa que deveríamos fazer.

— Qual é a sua? — Perguntou com uma voz baixa, mas um pequeno sorriso já se mostrou em seus lábios assim que viramos a rua da escola de Ayla.

Passei tanto tempo no setor de almas penadas que mal notei quando o dia amanheceu e não estava lá para desejar um bom dia a ela. E eu só desejava um bom dia a ela porque éramos amigos, e não porque eu tinha segundas intenções. Eu não posso estar verdadeiramente apaixonado por ela, talvez só esteja grato porque faz muito por mim.

Te encontrei para me amar. — Ísis desviou o olhar, um pouco pensativa. E quando eu atravessei o portão do colégio, ficou ainda mais pensativa.

— Por que está em um colégio? — Ela atravessou o portão para me acompanhar, ainda falando pelos cotovelos. Como alguém conseguia arranjar tantas palavras?

— Não tá na hora de nos despedirmos e dizermos coisas como: "foi um prazer te conhecer!"? — A questionei, erguendo uma das minhas sobrancelhas e caminhando pelos corredores do colégio.

Era engraçado como aquele colégio não havia mudado tanto. Mesmo se passando dez anos, eu ainda podia ver o mural de memórias das turmas antigas, os alunos destaques que concluíram a faculdade após o ensino médio e...

Peraí...
O que era aquilo?

Me aproximei do mural no meio do pátio e pude ver a minha foto. Uma foto minha com um capelo na cabeça e um sorriso enorme por estar concluindo o ensino médio. Mas meu sorriso não era apenas por estar concluindo o ensino médio, o motivo do meu sorriso era minha irmã. Era ter chamado ela para conversar um dia antes e escutar de sua boca que as coisas estavam melhorando, que seu marido estava mais gentil, que eles estavam planejando até mesmo ter um filho...

E na semana seguinte...

Balancei minha cabeça para os lados tentando afastar aquela dor de meu peito. Era doloroso demais saber que alguém tão gentil não teve a vida que merecia.

Em memória de Lorenzo Rossi.
Descanse em paz.

— É você? — A garota perguntou ao observar que eu olhava para a foto juntamente com a frase. Eu apenas assenti com a cabeça e me perguntei se realmente sentiram compaixão de mim quando descobriram que eu havia morrido.

Meus pensamentos foram interrompidos por uma confusão e gritos distantes. Me perguntei o que acontecia quando alguns alunos correram para o final do corredor, justamente onde era a sala de Ayla.

Então foi aí que eu me desesperei. Foi aí que senti um medo como nunca antes.

Será que aconteceu algo com ela?

Aquilo se repetia sem parar em minha cabeça enquanto a imagem de seus longos cabelos dourados, seus olhos da cor do mais puro mel, sua expressão tímida e o sorriso inocente que tinha a capacidade de desestabilizar a minha alma, iluminavam os meus pensamentos.

— Espera! Eu ainda não sei o seu nome! — Escutei a menina gritar ao me ver disparar em direção a sala de Ayla. E se aquele ex namorado fez algo com ela? E se ele falou algo ruim? Se tentou algo contra ela? Se...

E se ele a machucou?

— Primeiro, eu não sou namorada dele. Jamais diga isso de novo. — Escutei uma voz dizer um pouco alto demais no meio do corredor, fazendo com que um silêncio tomasse conta do lugar, apenas com sua voz espalhando pelo ar. — E segundo, estava tentando te ajudar já que não parece ser muito bom em se defender. Principalmente porque não gosto que menosprezem as pessoas dessa forma. Acho ridículo como existem pessoas que sentem a necessidade de inferiorizar os outros a fim de se engrandecer. — Quando avistei a responsável por toda aquela minha preocupação, percebi que não tinha razão para me preocupar. Pois ela havia acabado de dar um tipo de chave de braço em um menino.

— Ela o ajudou mesmo! — Uma garota cochichou do lado de outra, o que me fez desviar a atenção para elas. — Ygor é um sem noção de dizer coisas tão fúteis para Benjamin. Nem acredito que a ex namorada dele resolveu humilha-lo dessa forma, é impressionante. — Ela continuou e a amiga pareceu concordar já que assentia com a cabeça.

— Ygor foi longe demais. Eles eram amigos e agora tratou o menino dessa forma! O que ele disse poderia ser até considerado bullying! Que bom que Ayla se livrou disso, ela parece ser gentil. — A que assentia concluiu o pensamento da garota, me fazendo voltar a olhar para ela quando vi que as meninas haviam acabado de comentar.

Então... Ela defendeu alguém que estava sendo alvo de bullying? Estava... estava defendendo alguém publicamente das mãos terríveis do seu ex namorado quando parecia ter vergonha até de dar bom dia para as pessoas?

E foi quando ela me encarou. Foi quando seus olhos encontraram os meus como se soubessem exatamente que eu estaria ali. Foi quando um sorriso surgiu no canto de meus lábios e o olhar intenso dela fez com que aquela sensação retornasse para dentro de mim.

Foi quando ela suspirou e sorriu de canto, que eu percebi aquela flecha que atravessou a forma de ar que sou. Foi quando seus olhos brilharam que eu percebi que havia morrido.

Não morrido por um tiro no rosto. Eu havia morrido envenenado por aqueles olhos tão brilhantes e hipnotizantes, capazes de me levar ao paraíso somente ao me encarar.

Eu percebi que havia morrido hipnotizado por aquela sensação inebriante de amor.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora