40. Erupção.

19 6 4
                                    

As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas, talvez apenas com um toque de mãos.
~ Ed Sheeran

— Seus cabelos são loiros? — Estávamos jogando a décima partida de Cara a Cara enquanto Lorenzo se recusava a perder e toda vez que eu fechava as casinhas ele entrava em desespero

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

— Seus cabelos são loiros? — Estávamos jogando a décima partida de Cara a Cara enquanto Lorenzo se recusava a perder e toda vez que eu fechava as casinhas ele entrava em desespero.

Mas acontece que sou boa com todo tipo de jogo existente, pois na minha infância, por não ter amigos para brincar, passava a maior parte do tempo jogando sozinha, aprendendo as regras, lendo diversas vezes os manuais e me divertindo com a minha companhia.

Era triste. Tinha vezes que eu chorava enquanto embaralhava cartas de Uno, outras que eu fingia ter alguém comigo para aliviar a solidão, outras que eu colocava uma música para sentir que havia uma voz além da minha no quarto.

E foi assim que cresci sabendo a maioria das regras dos jogos de tabuleiro e zerei diversos jogos de vídeo game.

— Não, espertinha. Não tenho cabelos loiros. — Ele estreitou os olhos, prestes a fazer a sua pergunta, mas fui mais rápida.

— Então você é o Diego. — E seus olhos se arregalaram, batendo na cama com indignação.

Nossos pés estavam encostados um no outro, com o Cara a Cara no meio para que Lorenzo continuasse como matéria.

— Que saco! — Ele empurrou o jogo em minha direção e cruzou os braços, o que me fez rir tanto que deitei no chão, levando as mãos até a barriga.

Eu tentava recuperar o meu fôlego quando Lorenzo surgiu por cima de mim, fazendo cócegas em minha barriga como uma forma de se vingar. Eu ria sem parar, sentindo minha barriga doer em meio às risadas. E quando eu realmente não aguentava mais, suas cócegas cessaram juntamente com as gargalhadas, dando início ao clima intenso que se instalou entre nós; naquela pequena distância, naquele pequeno fio que colocava um caminho entre nós dois. Ele colocou os seus braços em cada lado da minha cabeça, com suas pernas tocando as minhas e seus olhos fixados nos meus. Ele apoiou um braço no chão, aproximando o seu rosto em uma tentativa de cruzar aquele caminho e quebrar aquela distância, provocando um nervosismo em meu estômago.

Lorenzo estava a um palmo de meu rosto, próximo o suficiente para ouvir a minha respiração afobada; próximo o suficiente para ouvir as palpitações agressivas do meu coração. Meus olhos, por um momento, me traíram e correram ao encontro de seus lábios, que estavam entre abertos quando ele umideceu com a língua, parando exatamente onde seu piercing estava fixado. Puxou um pouco o seu piercing com os lábios enquanto seus olhos estavam vidrados em minha boca, aproximando mais um pouco o seu rosto.

E quando estava apenas alguns curtos centímetros de distância; quando eu podia sentir o seu corpo se aquecer com o meu calor, quando podia vê-lo se apoiar apenas em um braço e levar o outro a minha bochecha, minha mãe abriu a porta do quarto.

— Filha! O almoço está pronto! — Lorenzo ainda me encarava, próximo e com os olhos tão ardente que eu podia ver uma chama se acendendo em seu olhar. Ele não se moveu, sabia que ninguém poderia vê-lo, mas a cena em que eu estava jogada no chão com a respiração afobada, parecia esquisita aos olhos de minha mãe. — Filha? O que houve? Está passando mal?

Eu a ouvia, ainda presa naquela tempestade de sentimentos que a presença de Lorenzo me causava. Ele sabia que não poderia me beijar naquele momento, mas a ideia de se afastar parecia muito absurda para ele. Se afastar, naquele momento, era tão pecaminoso aos seus olhos quanto assaltar um banco.

— Eu... estou bem. — Disse em um sussurro, com a voz tão trêmula que parecia estar com medo. Eu realmente estava com medo; sentir aquilo era algo surreal para mim. — Estou apenas com fome. — E sorri, ainda olhando na direção de Lorenzo e esperando uma reação dele.

O garoto passou longos minutos me encarando, estudando cada detalhe meu antes de aproximar o seu rosto rapidamente e depositar um beijo em minha bochecha. Lorenzo se levantou e se afastou de meu toque, deixando de ser matéria mais uma vez.

Minha mão, involuntariamente, foi até a bochecha beijada e a tocou, com o rosto surpreso.

— Por que está jogada no chão? — Minha mãe se aproximou de mim e me ajudou a levantar, me encarando com um olhar confuso. Era confuso mesmo ver a sua filha jogada no chão, olhando para o nada e com as respiração mais agitada que o coração.

— Eu... estava fazendo exercícios! Estou sentindo falta das caminhadas. — Cocei a garganta e evitei os olhos penetrantes de Lorenzo, que me encaravam do outro lado da cama. Eu tinha certeza que ele queria rir.

Aquela situação era constrangedora.

— Vamos comer ravioli? — Sorri gentilmente para ela e depois encarei Lorenzo, com um olhar irônico. — Ainda bem que podemos comer, não é? Imagina não poder comer algo tão gostoso? — Continuei a sorrir e pude ver que o seu sorriso se desfazer na hora. — Imagina, sei lá, depender de alguém para comer?

— Você está falando das pessoas doentes? Que estão de cama? — A mulher perguntou inocentemente, encarando os jogos por todo quarto. — Por que está jogando sozinha de novo, Ayla? Está se sentindo sozinha?

— Só... queria matar o tempo. — Meu semblante mudou de repente, ainda era meio difícil pensar que muitas vezes eu lidava com a solidão dessa maneira. E minha mãe sabia disso. — Estou... menos solitária agora, te garanto. — Toquei o seu ombro com um curto sorriso nos lábios. Passei pela porta seguindo aquele delicioso cheiro que invadia as minhas narinas, tendo a consciência de que Lorenzo me seguia com seus passos bem silenciosos e que sabia que ele era o motivo pelo qual eu me sentia menos solitária.

E pensar que não era apenas isso... e pensar que meus sentimentos estavam tão confusos toda vez que a presença dele se fazia real, e pensar que estava enlouquecendo toda vez que minha mente me acusava estar atraída por um fantasma; toda vez que o meu corpo reagia aos toques de uma alma penada ou só... só de pensar que está atrás de mim, é suficiente para causar arrepios por toda a minha pele.

E o beijo frio em minha bochecha... o toque que estremeceu a minha espinha e adentrou as minhas entranhas. Que bombardeou o meu coração e danificou o lado racional do meu cérebro. Aquele simples toque tão frio quanto uma noite de inverno em Toronto ou o toque que pareceu como um beijo de um floco de neve, foi suficiente para me fazer enlouquecer.

O engraçado disso tudo é que o seu toque tão frio, foi capaz de me fazer entrar em erupção.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora