33. Uno per tutti e tutti per uno.

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Almas gêmeas são extremamente raras, mas existem. São como almas sintonizadas uma na outra.
~ Amor além da vida

— Quer uma água ou alguma coisa? — O loiro perguntou não mais com o seu sorriso de canto, agora ele parecia realmente curioso

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— Quer uma água ou alguma coisa? — O loiro perguntou não mais com o seu sorriso de canto, agora ele parecia realmente curioso.

— Não. — Disse com a voz firme, me sentando em frente aos dois pensando em como eu introduziria aquele assunto. — O assunto que eu quero tratar é um pouco delicado. — Respirei fundo, pensando que tocaria em um tópico sensível para os dois. — É sobre... sobre...

— Desembucha, garota. — O careca teve a audácia de dizer com a sua voz bruta.

— Eu vou relevar a sua grosseria e falta de educação porque o assunto é realmente importante. Mas saiba que eu não vou me esquecer disso. — Respondi, vendo que sua sobrancelha se ergueu enquanto soltava a fumaça do cigarro. Fábio, porém, pareceu rir da minha resposta. — Eu tenho algo que pertence a vocês. Tenho algo que o amigo de vocês deixou.

Fábio ergueu as sobrancelhas enquanto Henrique endireitou a sua postura e franziu a testa. Ambos se perguntavam se era aquilo mesmo que eu estava falando, se o tópico que eu queria abordar era sobre o seu amigo.

— Do que está falando? — Fábio carregava um olhar sério e seu amigo parecia imerso em seus pensamentos.

— Estou falando de Lorenzo. — Ouvir aquele nome foi como um baque para os dois. O loiro soltou um suspiro e percebi quando engoliu em seco. E foi uma surpresa muito grande para mim ao ver uma lágrima escorrendo pelo rosto de Henrique, que parecia não ouvir o nome de Lorenzo há muitos anos. — Eu moro na antiga casa dele e acabei encontrando isso. — Estendi as duas cartas, vendo a relutância dos dois para pegar.

Henrique apagou o seu cigarro em um cinzeiro na mesa de canto e levou a mão ao rosto, começando a chorar. Seu choro era abafado, angustiante e tão sofrido que me perguntei se podia abraçá-lo. Fábio estendeu a mão e tocou na carta que tinha o seu nome. O menino passou as mãos por ela e seus lábios tremeram, até uma lágrima tocar a superfície de sua carta.

— É a assinatura dele. — O de olhos azuis declarou com a voz embargada. Seus dedos abriram a carta lentamente enquanto a sua mente se preparava para aquele turbilhão de sentimentos. — Meu Deus, é a letra dele. — Fábio levou a mão aos olhos, soltando um choro tão doloroso que ardeu o meu peito.

Tentei estender a carta mais uma vez a Henrique, observando quando o homem limpou as lágrimas e pegou de minhas mãos.

Querido Henrique... — O homem abriu um sorriso de canto. — Que bobeira, ele nem falava assim. Xingava a gente de tudo quanto é nome e agora quer meter um querido. — Fábio riu de seu lado, uma risada triste e repleta de saudade. — Estou escrevendo isso para que você saiba a importância que tem em minha vida. Acho que não digo isso com muita frequência, e não diria já que você é sentimental demais. Você só tem esse tamanho de ogro, mas por dentro é sensível igual a um cachorrinho. — Henrique deu uma pausa e soltou uma risada fraca. — Você é um amigo que todos precisam. Não sei se vou te entregar isso, mas saiba que sem você, eu não teria aguentado metade das coisas que enfrentei. Obrigada por todos os desenhos em minha pele e por todos os incentivos que me deu. Tenho certeza que você vai voar longe. E espero que Fábio não estrague o progresso do salão por cantar alguma garota que não deve.

Ambos caíram na gargalhada ao ler a última frase da carta de Henrique. Eles limpavam algumas lágrimas que rolavam, mas pareciam felizes por ter aquela última memória do amigo.

— Por isso que você ainda está solteiro. Até Lorenzo sabia disso. — Fábio concordou com a cabeça em meio as risadas e estendeu a sua para ler.

Querido Fábio... — Fábio riu mais uma vez ao ler aquilo. — eu não acredito que ele meteu querido aqui também. Acho que estava zoando com a nossa cara.

Eu abri um sorriso de canto e limpei uma lágrima, mas meu sorriso desapareceu e virei para trás assustada ao ouvir uma risada. Lorenzo estava observando aquela cena com as mãos em seu bolso de fantasma e um sorriso nos lábios. Ele parecia adorar ouvir a voz do amigo, mas ao mesmo tempo parecia se questionar o porquê ainda não sumiu, porque ainda estava na terra.

Era aliviador e ao mesmo tempo enlouquecedor saber que seu assunto inacabado não tinha nada a ver com seus amigos.

Eu acho você um cara completamente desequilibrado, e é por isso que nenhuma mulher te quer. Aposto que no futuro Henrique vai se casar, eu vou viver sozinho já que não dependo de amor e você vai viver pelos cantos; choroso e arrependido por não ter conquistado ninguém. Mas sabe, adoro seu grande coração. E isso é a coisa mais melosa que vou dizer a você. Tens um coração de ouro, Fábio. Espero que veja o quão generoso e compreensivo você é. E também espero que nunca mude isso no futuro, para que possamos continuar tendo bons momentos. — Fábio terminou de ler e passou longos segundo encarando aquela carta, enquanto as lágrimas rolavam sem parar pelo seu rosto.

Henrique o abraçou de lado e eu percebi o quanto eram companheiros, o quanto se consideravam irmãos ao ponto de lutar sempre um pelo outro, não importa as circunstâncias.

— Eu ainda não acredito que ele se foi. — Henrique abaixou sua cabeça soltando alguns soluços. — Ainda me pego pensando em nossas lembranças mais felizes. Me pegou visitando o cemitério onde sua família, pelo menos, exigiu que o seu corpo estivesse lá mesmo depois de dez anos. Me pego fazendo tatuagens em meu corpo para gravar as memórias que ainda tenho dele. — Henrique tirou a sua blusa e apontou para uma mensagem acima de seu peito, onde a frase "uno per tutti e tutti per uno" estava. — É isso que esse idiota dizia com aquele sotaque ridículo que diz ter herdado do avô. Ele dizia isso sempre que tudo ficava difícil, sempre que o movimento do salão não estava muito bom. Sempre foi assim, um por todos e todos por um. — Sorriu com algumas lágrimas brilhando em seus olhos.

— E é por isso que o nome do salão é "LFH - uno per tutti e tutti per uno". Em homenagem àquele que ainda não acreditamos que nos deixou. — Fábio limpou os seus olhos com as costas das mãos e suspirou, abrindo um sorriso tão triste que eu entendi o quão doloroso podia ser perder alguém.

Porque a vida é assim. Um dia tudo aquilo que foi feito para viver, descobre que também foi feito para morrer.

Te Encontrei Para Me AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora