O Pra Sempre, Sempre Acaba(?)

Entre a Razão e o Coração

Narrador: Quando Malu partiu, Daniela sentiu a mesma coisa que a outra sentiu... um vazio imenso em seu peito! Era uma sensação de perda, mesmo já não tendo mais nada com aquela mulher! Ficou abraçada às suas filhas por mais uns longos minutos e veio à sua mente alguns dos incontáveis momentos felizes que teve com sua jornalista. Primeiro, lembrou de um dia que foram ao cinema... estavam começando o relacionamento:

Flashback On

- Ainda bem que essa sessão não é tão cheia, Dam - sorriu para a mulher na sua frente.

- Eu comprei ingressos pra essa, por causa disso mesmo, Malu - piscou.

- Certo, vamos entrar logo pq já deve ter começado o filme... - quando foram entrando na sala, o operador acendeu a luz, vendo que era Daniela - Meu Deus do céu, pra q esse menino acendeu essa luz? - ia falando próximo à Daniela - agora todo mundo vai saber que estamos aqui.

- Ué!! Estamos aqui como amigas, meu Amor - riu.

- Para de me chamar de Amor, aqui!!! Tá doida??

- Sou, sou doida por você, meu Bem!!

- Ai, Daniela, eu já estou tremendo de nervosismo, não me aperreia mais!

Sentaram e esperaram o filme começar! No meio do filme, Daniela estava louca de saudades da sua namorada, não se conteve e passou a mão esquerda em sua coxa. Malu sentiu o carinho e como também estava sedenta por sua mulher, acariciou a mão dela. Ficaram assim, trocando carinhos no escurinho do cinema sem ninguém ver.

Flashback Off

Lembrava desse momento simples, mas tão singelo, carinhoso... foi tão feliz quando ainda namorava Malu escondida.
Deixou surgir nos seus lábios um sorriso triste. Automaticamente, lembrou da viagem que fez para Rússia:

Flashback On

- Danielaaaaaa, você é o grande amor da minha vida - mudava a letra da música para se declarar à mulher!

Daniela ria vendo a jornalista cantar, mas adorava a declaração.

- Meu amorrrr, você como cantora, é uma ótima jornalista kkkkkk - ia beijando a mulher.

- Mas que injustiça, eu me declarando e você reclamando da minha afinação, cantora? - abraçou a mulher ali na neve que fazia na Rússia!

- Te amo, te amo, te amo minha Malu - roçou o nariz no dela - mas que você precisa de umas aulas de canto, precisa - gargalhou.

- Ahhh sua metida - jogou uma bola de neve na cabeça da mulher.

Começaram uma guerra com a neve, jogando uma na outra e gargalhando muito.

Flashback Off

Como foi feliz ao lado dela. Quantos momentos bons viveu com a mulher de voz grossa. Deixou uma lágrima cair. O que faria de agora em diante? Como se reergueria se o seu porto seguro era ela? Ela que sempre te incentivou, lhe admirava, que te amava incondicionalmente? Limpou a lágrima e percebeu que esse amor não foi suficiente pra ela acreditar na sua verdade. Como lamentava! Pq estava sendo castigada desse jeito? Pq? Pq? Não passou por cima de ninguém para ter a jornalista. Sabia que ela já não era feliz no seu casamento e quando começou a gostar dela, seu relacionamento já estava terminando. Não fez mal nenhum a ninguém. Pelo contrário, depois que se casou com Malu, se tornou uma pessoa melhor. Não entendia o que o destino queria lhe mostrar com isso tudo. Pôs fim às lembranças quando Bella quis se levantar dali. Entrou e levou as meninas junto consigo.

Quando Malu chegou à São Paulo, sentiu todo medo que tinha sentido quando se mudou ainda quando era adolescente para aquela metrópole, mas com uma diferença, agora carregava contigo o sofrimento de um amor perdido. Viveria ali sozinha e mataria aquele amor que tanto lhe corroía o coração.
Ajeitou um apartamento e começou à trabalhar discretamente em um jornal da cidade. Era editora chefe, assim como foi em Salvador durante tantos anos. Demoraria, mas voltaria ou tentaria ser novamente a Malu de anos atrás.

Com o passar do tempo, as coisas foram acalmando, só o que não acalmava era a saudade que as meninas sentiam da mãe Malu. Se falavam por telefone, mas desde que a jornalista se mudou, ainda não tinha voltado à Salvador e nem nenhuma das meninas tinha ido à São Paulo. Malu sempre estava ocupada demais por seu cargo no jornal, então, era muito complicado arranjar um tempinho para receber as filhas ou ir à cidade baiana. Nem mesmo nos aniversários das meninas, conseguiu estar presente. Sentia muito a falta delas e sabia que estava em dívida com elas por causa disso e de outras coisas, mas por enquanto, não podia se ausentar da cidade da garoa. Bella era a que mais se queixava, por não entender muito a situação que as mães viviam.

Daniela também sentia falta da mulher, não era segredo pra ninguém que ainda a amava, mas não falava no assunto. Um dia de chuva em Salvador, se pegou chorando de saudades... não só dela, mas da sua vida, da sua rotina, da sua carreira, da sua arte que ainda não tinha conseguido voltar a fazer. Seus pais estavam em sua casa, pois haviam vindo para o almoço de domingo com as meninas.

- Minha filhota, o almoço estava ótimo - Seu Abreu foi falando.

- Vilma cozinha muito bem, né pai!? - sorriu.

- Sim e eu lembrei de uma pessoa que fazia esse prato deliciosamente também...

- A Malu... ela adora esse peixe.

- Ela mesmo... excelente cozinheira rs

- Sim, ela é... - ficou olhando pro nada.

- Você ainda a ama né, Dam? - pegou no seu queixo, atraindo a atenção da outra.

Demorou um pouco para responder, mas afirmou que sim, balançando a cabeça.

- Se você a ama, pq não conversam e tentam mais uma vez?

- Não posso, pai. Isso envolve muitas coisas... nós nos magoamos muito e além do mais, ainda tem os problemas externos. Giovana a odeia.

- Mas você tem que seguir seu coração, minha menina - abraçou a mulher e a trouxe pro seu colo.

- Ah pai, se fosse fácil assim! - deixou cair uma lágrima - Nós perdemos a confiança uma na outra, o respeito por tudo o que vivemos, alguma coisa se quebrou.

- Quando o amor é verdadeiro, a gente passa por cima disso tudo! Segue o seu coração e vai ser feliz e quem não gostar, que se dane!

- Você é maravilhoso pai, obrigada por sempre me apoiar em tudo. Eu te amo muito.

- Eu também te amo minha filha e quero sua felicidade, mesmo que essa felicidade precise passar por cima de algumas coisas que a razão aflora.

Encerraram a conversa com muito beijos e abraços. Mas Daniela não lhe prometeu nada. Estava dividida entre o coração e a razão e no momento, a razão estava ganhando, apesar da saudade que sentia da outra.