?

481 44 5
                                    

Para encurtar a história, foi um momento ruim
Para encurtar a história, eu sobrevivi

Long story short









Hande Korel tinha guardado muito dinheiro. O suficiente para atravessar o oceano em busca de mais. Todos os seus poucos livros lhe davam esperança necessária. Ela buscava mais do que Istambul oferecia. A ideia de deixar os pais era triste, porém esperava que eles compreendessem que não havia futuro para ela na Turquia, principalmente por saber o que a esperava em solo inglês.

Era apenas uma menina quando deixou a cidade natal para trás. Treze anos com coração de quarenta. Mãos feridas pelo trabalho, rosto queimado pelo calor, pés com calos, vestidos costurados, cabelos cortados na altura do ombro. Hande tinha olhos da mesma cor que o céu noturno sem estrelas, profundos, mergulhados de sonhos brilhantes.

Aqueles lindos olhos nunca choraram.

Ela usava seu melhor vestido quando embarcou no navio que iria para a Inglaterra. Para o país cheio de realizações e possibilidades. Seus livros favoritos estavam na pequena mala que fizera, junto dos bens mais preciosos e sem qualquer valor grandioso.

O porão do navio não era convidativo. A pouca luz a fazia tremer de medo. Hande odiava a escuridão, apesar de carregar íris que duelava com o breu de uma tempestade. Não havia muito que olhar, o lugar era utilizado para convidados ilegais que queriam um jeito fácil de deixar o país.

A porta de metal abriu novamente, e a luz acompanhou o corpo trêmulo da menina que entrava lentamente. Ela chorara durante todo o caminho, com vestes puídas e sandálias velhas. O corpo magro sentou no chão, a cabeça curvada, os cabelos escuros escondendo o rosto que se assemelhava a de um anjo.

— Oi. – a voz de Hande vacilou.

Por mais feliz que estivesse por ter outra pessoa ali, sabia que havia grande infelicidade naquela menina.

— Eu tenho medo do escuro.

Não houve resposta.

Hande comeu um pequeno prato ao lado da menina silenciosa, estranhando o fato dela não comer absolutamente nada, mesmo estando tão magra. Ela era pele e osso, nada mais.

— Quer me ouvir contar uma história? É Jane Austen, minha favorita. – contou sorridente abrindo seu livro amarelado com marcas escuras nas páginas – Se chama persuasão, e me faz acreditar que o amor sempre encontra um caminho em nossas vidas. Eu amo a Anne Elliot, ela me faz rir o tempo todo. Talvez ela te faça rir também.

Hande lera aquele livro, mesmo quando não parecia que ela ouvia. Ás vezes precisava parar por um instante para soltar uma risadinha por algo que Anne havia dito ou feito. Ela falava o quanto sonhava com algo semelhante, e era por aquela razão que partia da Turquia. Acreditava totalmente no amor.

Sua leitura continuou, ecoando no porão do navio.

Os dizeres do livro Emma saiam de seus lábios infantis com empolgação. Ela dizia amar Emma, mas não tanto quanto Anne. Ninguém a fazia rir como Anne Elliot.

No fim do segundo livro Hande era observada por olhos verdes vazios.

— Asli. Eu me chamo Asli.

— Hande. – esticou a mão, sendo apertada de maneira frágil – Melhor você comer, tudo bem?

— Acho que não quero viver.

— Se você morrer, sua alma gêmea lamentará sem saber pelo que chora.

Mastermind ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora