Wolff

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Juro de coração, não direi a ninguém
E embora eu não me lembre do seu rosto
Eu ainda tenho amor por você
Pegue suas bonecas e um suéter
Vamos nos mudar para a Índia para sempre

Seven



Pequenos passos na neve com suas galochas amarela mostarda. Casaco azul e luvas vermelhas. Os cabelos castanhos estavam bagunçados como de seu pai, e ele tentava pisar nas pegadas do homem mais alto que desbravava o caminho a sua frente sem temer o que o esperava no desconhecido. Sua mão tentava alcançar a figura distante, movendo os dedos na direção do longo casaco, inutilmente tentando.

Ele sempre tentava.

Ele tentava mesmo após cair.

Aqueles eram dias frios desde o dia em que nasceu na primavera. Flores desabrochando, árvores cheias frutos maduros, grama molhada e latidos. O choro que dera no primeiro segundo fora tão fraco, que seu pai o encarou com estranheza. Não era o que esperava.

Ele nunca foi.

Nunca foi culpa sua chorar todas as noites durante os seis primeiros meses.

Ainda assim caminhava para perto da rejeição.

Lençóis cheirosos, mesa arrumada, roupas passadas e rejeição. Os livros o deixavam irritado, porque aquele nunca foi seu sonho, mas não podia impor aquilo ao outro como se fosse o certo. Odiar a monotonia não significava nada.

Galochas amarelas pulando em poças d'água acompanhadas de risada infantil.

Sempre a mesma primavera.

Fazia questão de correr para a porta e estender o caderno da escola em busca de elogios. Aprendera a contornar o próprio nome. Escrever a parte mais importante da sua vida. Repetiria aquelas palavras até seu último suspiro.

— Acabei de chegar. – passou direto, sem olhar pela segunda vez o menino ainda parado na porta.

Luvas vermelhas na mochila, tênis brilhantes e calças jeans. Ele encarava o rosto da pessoa que podia ama-lo da maneira que era.

Imperfeito.

Tão ruim quanto à primavera para o seu pai.

Seus livros eram jogados na parede, amontoando-se no canto.

Por causa dele seus pais brigavam na sala de jantar, diante da refeição, enquanto segurava a colher e os encarava apontar dedos e vociferar xingamentos. Ás vezes haviam lágrimas, pedidos de desculpas, mas nada durava para sempre. A comida perdia o sabor depressa.

Com suas galochas amarelas ficavam na ponta dos pés para olhar os pequeninos dedos no berço cor de rosa. Ela gostava de agarrar seus dedos, não piscava ao ouvi-lo falar sobre seu dia, ria quando escondia o rosto e aparecia repentinamente, ela dormia em seus braços com facilidade.

Vestia o casaco azul para sentar-se no kart quando seu pai mandava, tentando deixa-lo orgulhoso, mas a velocidade o assustava, então voltava chorando implorando para que deixasse para outro dia, porém recebia uma grande negação. Mais tarde ele dizia que outro garoto era melhor, e sequer tinha sangue de piloto nas veias.

Cansado das comparações, fez exatamente como o pai queria, batendo com força e perdendo-se entre a dor e a falta de sanidade. Bastou que retirasse o capacete para ver a perna quebrada. Ele foi socorrido na primavera, deixado dentro do quarto para ser cuidado pela mãe, e eventualmente lia histórias sozinho no escuro.

Os livros se empilhavam no quarto cada vez mais. A cada primavera um novo exemplar dado por sua mãe. Ele amava a leitura. Suas mãos eram talentosas como de um artista. Desenhava tudo que havia dentro de si com precisão, dando vida ao que via nas páginas e os fascinava, transformando rabisco naquilo que amava.

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