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Se eu não soubesse a verdade
Eu pensaria que você ainda está por aí
Eu sei a verdade
Mas eu ainda sinto você por toda parte
Eu sei a verdade
Mas você ainda está por aí

Marjorie



O choro dela era o mais alto da catedral. O sabor do sangue transbordava por seus lábios como doce. As lágrimas deslizavam pesadas pelas bochechas coradas. Os olhos esverdeados brilhavam como pedras preciosas. A tristeza não foi o suficiente para destruir sua beleza, pelo contrário, os homens a desejaram em solo sagrado porque era fácil vê-la como uma divindade mesmo em pouca idade.

O grito de Asli cortou o próprio coração machucado.

Sozinha no mundo com as unhas sujas de sangue.

A coroa escarlate ainda estava na calçada, como um lembrete que tudo doía, mas nada era pior que as mãos de um homem.

Um homem.

Tudo começava e terminava com os homens.

Eles dominavam corpos e vidas.

Eles destruíam por mulheres como ela, mesmo não sendo.

Não.

Ela não era.

Ainda.

As lágrimas continuaram mesmo quando precisou enterrar o corpo sem vida da mulher mais linda que já vira. A terra era seca, infrutífera, contaminada por outros corpos sem vida. A lápide se apagaria com o passar dos anos, e ninguém mais se lembraria da mulher jogada da calçada ou da filha que abandonara.

Ninguém se lembraria, além de Asli.

Ela dormiria e acordaria encarando o cadáver da mãe.

— Vamos, menina. – fora arrastada pelo pai contra a vontade, porque preferia permanecer no tumulo frio do que retornar a casa destruída por homens.

Um grito desesperado saiu por seus lábios, e se debateu tentando se libertar. O que faria uma garotinha de seis anos?

— Pare de chorar. – seu irmão pediu parecendo não se importar o suficiente para lamentar – Está escurecendo, Asli, devemos voltar para casa.

Ele tinha medo dos fantasmas. Asli só tinha medo dos homens.

Soltou-se do pai com nojo.

O grande causador era ele, e mesmo assim não possuía o mínimo de empatia para buscar perdão.

— Eu odeio vocês. Odeio! – berrou com todas as forças restantes.

Homens possuíam vícios. Ela sabia. Vira muitos deles diante de si com pouca idade. Asli observava de longe seu pai afundar todos com suas preferencias, usando todos os meios para conseguir o que queria, enlouquecendo até os santos que sua mãe fazia pedidos sussurrantes.

Um dia, não houve escapatória. Não havia mais o que vender, além dele mesmo.

Asli riu sozinha no meio da noite, pensando que nenhum homem se venderia para outro, então era mais fácil deixar que as mulheres agissem, pois na mente deles, todas elas nasciam preparadas para receber algo entre as pernas.

Não ela e sua querida e falecida mãe.

Andou por entre o lixo e o sangue. Parando somente ao encontrar as belas mulheres que vendia o próprio corpo.

Mastermind ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora