Capítulo 23

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Então, por favor, me poupe da indignidadeE, por favor, me dê um pouco de decênciaE, por favor, me avise se o nosso tempo tiver acabadoPorque eu sei que nós desmoronamos quando nada é novo

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Então, por favor, me poupe da indignidade
E, por favor, me dê um pouco de decência
E, por favor, me avise se o nosso tempo tiver acabado
Porque eu sei que nós desmoronamos quando nada é novo

Nothing's new





A luz ultrapassava as frestas da madeira, criando círculos irregulares e riscos de amarelados no chão. O calor fazia com que seu corpo remexesse na dureza do chão mal coberto pelo lençol fino. Aquela era uma caixa de madeira grande o suficiente para abrigar pessoas desumanamente e trazer um conforto maior que dormir a céu aberto. O cheiro era pesado, úmido por causa do ar e deveras incômodo.

Ela odiava abrir os olhos, mas não era para ser daquela maneira. Os lábios estavam secos, sua língua pesada e o gosto salgado das lágrimas transbordavam tanto quanto sua saliva. Seus moveram-se sentindo a aspereza do lugar em que dormia, sujando-os como há muito tempo não acontecia.

Os olhos verdes abriram-se rapidamente, estrangulando-se com o grito engasgado e a força repentina usada contra seu corpo. Cegamente deslizou a mão pelo corpo masculino, sentindo em seus dedos a aspereza da barba e os longos cabelos. Tentou lutar contra o desconhecido agressor, sem compreender porque voltou para casa.

— Shhh...

Demorou a compreender que era novamente uma criança no corpo de uma adulta, com cabelos longos o suficiente para enrola-lo em seu braço, pernas magras e olhos fundos. Estava lutando contra o próprio pai. Quanto mais tentava escapar, menos sentido fazia porque ele nunca esteve interessado na própria filha.

Berrou desesperada, ouvindo a própria voz e se reconhecendo como sua mãe.

Aquela não era Asli.

Era Esra.

Ela estava no corpo da própria mãe.

Lutou contra o próprio marido tentando livrar das mãos pegajosas e respirar sem sentir o aroma podre de seus lábios sujos. Suor escorria por suas costas e têmpora. O Sol estava mais forte, pintando todo o ambiente do mais profundo tom de amarelo, transformando aqueles olhos demoníacos em bolas ferozes de fogo, obrigando-a a aceitar aquele inferno.

Chorou com a sensação de perda.

Tudo doía.

Apenas agora sentia a intensa dor que vinha das costelas e rosto. Seus dedos estavam feriados por tentar acertar seu agressor, os tornozelos doloridos pelas lutas durante a madrugada e ambos os pulsos torcidos. A dor viera tão intensamente quanto a adrenalina, acompanhando as batidas violentas do fraco coração.

Esra batera a cabeça no chão e encarou o Sol.

Agora ela não era nada além daquelas frágeis paredes, até se transformar na menina que abri a porta em desespero, agarrando a camisa do pai para que libertasse sua mãe.

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