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Encarei o corredor iluminado por luzes vermelhas em um tom fraco, sugestivo o suficiente para me fazer estremecer de corpo e alma, olhei as portinhas que indicavam o local de trabalho dos meus amigos, cada uma com um nome, Marina estava apoiada na última porta com um cigarro na boca, me encarava com um pouco de descaso, os cabelos curtos e bagunçados davam ênfase no rosto marcado, o espartilho que marcava a cintura e os peitos, não ousei abaixar mais meus olhos, ela estava tão linda.

—Martin, é aqui.— A voz dela saiu suave abrindo a sala com cuidado, me aproximei soltando a respiração aos poucos.— Gostou?

Encarei a sala, a iluminação amarelada e baixa trazia um ar de aconchego, mas os chicotes pendurados pesavam o ambiente, um frigobar colorido no cantinho da sala chamou minha atenção, ao lado uma mesa igual a de um escritório, um cavalete estava no outro canto do quarto junto a uma cruz em formato de X.

Marina me entregou três controles, um para o led, outro para o ar condicionado e o último para a persiana que era elétrica, me senti um luxo total com esse último.

—Eu ja cadastrei o chip então nenhum cliente vai te incomodar no número pessoal... Martin, o clube é importante pra gente, se puder levar isso a sério.— Ela respirou fundo, eu sabia que ela não estava brincando, Aquilo era o trabalho deles, mas se eu destruí meu próprio emprego imagina o que eu podia fazer com três dominadores em um clube de bdsm.— Pra você estrear em pensei em chamar Felix, vocês já se conhecem e ele é bem receptivo a testes.— Senti meu coração pulsar rapido, Félix é simplesmente a melhor pessoa do universo, acho que vou surtar quando ver ele.

—Claro.— Me sentei na mesa segurando os controles, meu coração batia acelerado, era inacreditável que eu iria servir pessoas com minha dominação, que alguém pagaria para ser humilhado.

Não que eu ja não tivesse praticando antes, mas isso nunca havia envolvido dinheiro, até eu quebrar meu negócio.

—Eu vou ajudar os caras lá em baixo, precisando é só chamar.— Marina saiu pela porta, respirei aliviado vendo ela ir embora, deixei algumas lágrimas pesadas escorrerem pelo meu rosto, a ficha caiu no instante em que entrei aqui, que a única oportunidade restante para mim era vender meu corpo, ou passar fome.

Bruno entrou na sala batendo na porta, as roupas de couro, pesadas e estilizadas com caveiras traziam um ar pesado para ele, a pele escura em contraste com a luz, o cara se sentou ao meu lado olhando pro chão.

—Tá chorando Martin?— Neguei desviando os olhos, uma arrogância subiu pela minha garganta.— Acho que sei o que você ta sentindo cara... Quando decidi que eu seria dominador profissionalmente foi bem paia.— Me desarmei, sentia verdade nas palavras dele.— Mas não se preocupa viu? Isso logo passa, é questão de tempo.— Seu ombro encostou o meu bem de leve.— Se essa não for a profissão que você queria seguir, leva como um quebra galho.— Ele levantou sorrindo.— É bom espancar umas bundas, ver uns fetiches estranhos, comer uma galera gostosa...

—Já entendi cara.— Fechei os olhos afastando a ideia dele comendo alguém na minha frente.— Tenho certeza que eu vou ser o queridinho e logo mais os clientes vão esquecer de você.

—Nunca meu bem, nenhum cliente esquece da piroca do Bruno.— Revirei os olhos pulando da mesa.— Quer ir tomar um café comigo e com a Marina aqui do lado? Tem uma lojinha irada.

Concordei meio desanimado, segui ele pelo corredor e depois pelas escadas, quando passamos pelo salão de festas pude ver alguns fetichistas, uma menina presa a uma camisa de força chamou minha atenção, do lado dela um cara com uma focinheira dessas de cachorro bravo.

—Essa galera ta assim por que?— Perguntei vendo Marina se aproximar ja trocada, ela sorriu como se eu fosse um garotinho inocente.

—Ué, são os fetiches desses subs.— Ela abriu a porta de ferro pesada dando espaço a uma claridade mortal do lado de fora, era horário de pico e eu pude ver a rua bem movimentada.— Mas não foca muito neles, foca na lista que eu te passei no número novo, toda essa galera ai ta procurando um dominador que possa realizar seus fetiches. — Ela sorriu me olhando, Bruno segurou a cintura dela com força.

—Vamos parar de falar disso fora do clube.— A voz dele saiu autoritária enquanto caminhávamos para o outro lado da rua.— As pessoas não são tão receptivas com estranhos falando sobre fetiches.

— Ta com vergonha de ser dominador Bruno?— Marina perguntou se soltando dele.— Ou com ciumes por eu ser a melhor domme?— Ele deu risada entrando na loja.

Olhei tudo envolta observando as decorações e produtos, vendia de tudo um pouco, uma loja bem estratégica para se por ao lado de um clube bdsm.

—Martin o café é por sua conta.— Marina disse pegando o cardápio enquanto se sentava, revirei os olhos puxando o papel plastificado da mão dela, encarei as opções limitadas de sabores.

Olhei para o balcão procurando por alguém que pudesse nos atender, notei um menino com cara de adolescente mascando um chiclete como uma vaca masca grama, mexendo no celular digitando freneticamente, uma expressão de deboche foi se formando no rosto dele ainda completamente concentrado no aparelho de telefone.

— Com licença. — Minha voz saiu meio baixa, bati as pontas dos dedos meio impaciente sobre a mesa.— Oi.— O garoto desviou o olhar por um segundo, parou de mascar o chiclete e engoliu em seco vindo até mim.— É... você pega para mim um café expresso e o que esses dois quiserem... aonde fica absorventes?— O menino me encarava abismado como se estivesse vendo um fantasma, me olhei no espelho que ficava atrás dele procurando por algo que pudesse me deixar assustador, mas só encontrei a barba ruiva que crescia rala.

—Absorventes?— A voz dele saiu baixa, era bem afetada, o garoto pulou de um banquinho saindo de tras do balcão. — Por aqui.— Ele foi na frente rebolando, conseguia ver o quanto fazia esforço para captar minha atenção.— Sua namorada especificou o tipo?

—Namorada?— Perguntei confuso, mas logo desfiz a pergunta.— Ah sim, é... aquele interno serve.— Apontei para uma caixinha deixada no canto, ele se abaixou para pegar e me entregou quase que acariciando minha mão.

—Então você não tem namorada?— Eu fechei meus olhos por um momento suspirando, conhecia o típico papinho desse tipo de machinho que provavelmente nem tinha saido do colégio ainda.

—Não tenho não.— Apertei a caixinha na minha mao voltando para o balcão, ele veio atrás como um cachorrinho, voltou para o cantinho dele e encarou a maquina de café.

—É um expresso ne?— a voz dele saiu baixinha.— Você quer leite também?

Segurei a ânsia de vomito que aquela cantada tinha me causado e dei um sorrisinho fraco pra ele, Marina e Bruno viam tudo de perto se divertindo da situação que tinha me metido.

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Autor: pensei em trazer uma história com uma visão diferente das outras, uma em que o dominador pudesse narrar, quem sabe um romance vem aí.

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Martin, não seja burroOnde histórias criam vida. Descubra agora