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—Lucas, já chega. — Ouvi a voz do Félix no telefone.— Vem embora!

—Eu to com o tio Martin pai!— Lucas virou o telefone pra mim, abanei minha mão para a figura do Félix.

—Oi amor... manda essa praga vir embora, ele tem que fazer dever de casa.— Olhei o Lucas, ele revirou os olhos.— Vem logo Lucas! Se não eu vou pedir pro senhor Joel proibir você de ficar na loja.

—Espera pai! To convencendo o Martin a me dar um desconto de noventa por cento.— Revirei os olhos dando risada.

—Lucas é sério, você ta cheio de lição de ca...— Lucas desligou o telefone.

—Ele vai ficar bravo.— Dei risada olhando ele, Lucas deu de ombro olhando os discos.— Lucas, eu não vou dar desconto pra você...

—O Joel da!— Ele se aproximou do balcão.— Você vai pra casa depois?

—Não, vou pro clube.— Lucas me olhou confuso.

—Você não tinha parado com as... sessões? Esse é o nome?— Concordei me esticando.

—Parei, so que agora eu sou barman do clube.— Lucas sorriu guardando o disco.

—Eu vou indo então, meu ônibus passa em dez minutos, tchau Martin. — Ele acenou pra mim, saiu correndo, encarei a loja vazia.

—Ele é um bom menino.— Senhor Joel disse se sentando.— Eu estou ficando cada dia mais velho Martin, logo mais essa loja vai parar de existir... eu lembro de você pequeno vindo aqui com sua mãe, pegando os discos.— Ele deu um sorriso fraco.— Agora veja só você, se tornou um homem sabio.— Sorri indo até ele, o ajudei a levantar, ele sorriu passando a mão no meu rosto.— Quem diria que aquela menininha com vestido rodado e um disco do legião ia se tornar esse rapaz bonito.— Ele apoiou a bengala no chão. — Limpa a loja antes de sair, eu vou descansar, meu corpo está doendo.

Vi ele subindo as escadas se apoiando na bengala, lembro de ficar todos os dias aqui depois do colégio, enquanto todo mundo usava MP3 e eu ficava sentado junto com ele escutando os discos rodarem na vitrola.

Engraçado como eu fiz o Lucas se viciar nisso, espero que quando eu tiver meus filhos eu faça o mesmo por eles.

—Boa tarde. — Uma menina entrou na loja, as roupas largas tampando o corpo e o capus escondendo o cabelo.— Você tem disco do legião?— Ela tentou engrossar a voz

—Tenho sim, vou pegar pra você... é qual mesmo?— Ela me encarou, deu um sorrisinho meio torto.— Dois?

—Sim.— Peguei o disco colocando em cima do balcão. — Obrigado.— Ela tirou o dinheiro da bolsa.

—A gente costuma fazer um cadastro antes da compra, tu já tem?— ela concordou.— Me empresta seu cpf por favor.

—Eu mudei meu nome no cadastro.— Ela me entregou o cpf.— Ta Yan.— Olhei o cpf um nome feminino, encarei a pessoa na minha frente, claramente ele é como eu a dez anos atrás, buscando me esconder em um casulo falso.

—Yan... achei.— Entreguei pra ele.— A gente faz o cadastro pra desconto, no seu caso você já pode pegar o disco na metade do preço, eu te recomendo pegar um dos novos, a galera curte bastante e como são mais caros...

—Eu vou levar só esse.— Ele me interrompeu.— Eu quero acumular mais, o Senhor Joel disse que se eu acumular pontos, eu posso comprar um com oitenta por cento de desconto.— Ele sorriu, concordei pegando o dinheiro.— Obrigado ah...

—Martin!— Estendi minha mão. — É um prazer te conhecer Yan.— Ele sorriu esticando a mão.

O vi saindo da loja, ajeitei tudo com cuidado, não podia me atrasar nem um minuto pro clube, olhei o relógio, faltavam quinze minutos.

Martin, não seja burroOnde histórias criam vida. Descubra agora