Troquei de roupa e me ajeitei indo até a sala, Felix estava sentado vendo tv todo concentrado, me sentei do lado dele.
—Quer conversar?— Perguntei baixinho, ele me olhou.
—Foi você que sumiu.
—Você parou de ir no clube.— Ele deu de ombros.— Por que eu causo tanto medo em você?
—Não é você especificamente, eu só não... confio nas pessoas Martin.— Segurei a mão dele.
—A gente se conhece a três anos... não é como se você não soubesse quem eu sou.— Ele me encarou, o olhar um pouco triste.
—Eu te conheço dentro de uma sala em um clube de BDSM, eu só comecei a de fato conviver com você um pouco antes de você quebrar sua empresa, isso tem o que? Uns seis meses?— Abaixei a cabeça.— Fora que você surtou uns dois meses atrás e sumiu do clube, parou de responder todo mundo, se não fosse a Marina você iria estar la ate agora, enfiado naquele apartamento sabe se la o que passando na sua cabeça.
Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, me apaixonei por ele des da primeira vez que eu o vi, mas Félix tem tantas camadas além do clube, ele é pai, é enfermeiro em um hospital renomado, tem uma vida toda que eu não sei sobre ele, como eu posso achar que ele saberia tudo sobre mim? Ou melhor, como eu posso achar que ele sabe que eu sou a mesma pessoa da masmorra?
Ele só viu o meu surto por conta da empresa, a onde eu passei a agredir meus amigos com palavras, me tranquei dentro da minha própria cabeça, fiquei sofrendo igual um maluco por uma coisa que já tinha acontecido antes, eu sou uma negação em gerenciar negócios, mas pior que isso... eu sou uma negação com a vida.
—O que eu preciso fazer pra conquistar a sua confiança?— Perguntei segurando com mais força as mãos dele.
—O que?— Olhei ele com cara de cachorrinho abandonado.— Você precisa parar de tentar, começa a agir como você de fato é.— Concordei soltando as mãos dele.
—O Lucas não foi pra escola?— Olhei o calendário pendurado na parede.
—Ele já voltou da escola no caso.— Felix mostrou o relógio, era três horas da tarde, olhei ele assustado, tenho quase certeza que eu tinha uma sessão hoje as dez.— A Marina desmarcou as sessões de todo mundo, se é nisso que você ta pensando.— Relaxei deitando minha cabeça no sofa.
—E você? Não foi trabalhar?— Ele negou.— Por que?
—Quem ia cuidar do bebado idiota quando ele acordasse?— Me senti ofendido na parte do bêbado idiota mas fiquei em silêncio, ele deu risada passando a mão no meu rosto.— É melhor você ir pra casa ne?
—Felix...— Fechei meus olhos criando coragem pra dizer tudo o que se passava na minha cabeça.— Me da um beijo?— Ele me olhou surpreso, suas mãos se encolheram e ele se afastou um pouco, ele não precisou responder, eu sabia que ele não me beijaria. — É brincadeira.— Não é não, mas eu não vou sair de idiota.
—Eu acho que a gente precisa de fato se resolver antes de qualquer outra coisa... olha Martin, eu não acho que você seja um abusador, mas eu passei por coisas muito complicadas que me fizeram ser quem eu sou, com as coisas que eu sinto, aquele dia eu estava estressado, com dor e ainda por cima em um lugar no qual eu nunca tinha ido antes, trancado em um quarto com você sem qualquer meio de comunicação, no escuro, que pra mim é a pior parte!— Ele parou pra respirar.— O que eu quero dizer, é que... tudo naquele momento colaborou para que eu surtasse com voce, para que eu fizesse o que eu fiz, eu sinto muito por ter magoado você, mas eu realmente não posso mudar algo que ja aconteceu.— Concordei de cabeça baixa.
—Me desculpa por dizer merda pra você... eu estava bebado, magoado e incentivado por amigos estranhos... eu acho que contei pra eles que você tem um filho.— Felix respirou fundo, apertou as mãos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Martin, não seja burro
RomanceDepois de investimentos em uma empresa falida e uma péssima visão de futuro, Martin se ve obrigado a abrir seus fetiches para o mundo e os explorar em troca de dinheiro, o que antes era um simples hobby passa a torná-lo Sr. Martin em tempo integral...