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Meu avô levou a gente pra um passeio incrível em uma trilha, quando voltamos já estava escuro, meu avô esquentou o resto do almoço, ele preparou o suficiente para fazermos doze refeições na casa dele.

Quando deu meia noite Félix mandou Lucas ir dormir, por incrível que pareça ele obedeceu sem reclamar,  meu avô já tinha ido deitar a muito tempo, ficamos nós dois deitados no sofá da sala.

—Sinto muito... eu não devia ter enchido seu saco.— Felix me encarou, dei de ombros abraçando ele.

—Ta tudo bem amor... eu não... na verdade eu ligo pras coisas que a minha mãe disse, mas eu estou tão acostumado que não afetam tanto.— Ele concordou se ajeitando no meu corpo, a bunda dele no short minúsculo que ele trouxe para dormir me chamou atenção. — Estou doido para irmos embora, vou pedir a sala da marina pra espancar a sua bunda.— Dei um tapa na bunda dele, felix gemeu baixinho escondendo o rosto no meu ombro.

—Amor... para de ser uma puta que só pensa em sexo.— ele me repreendeu, dei risada.— Mas eu vou adorar.— Sorri beijando a cabeça dele.

Estava quase dormindo quando ouvi batidas fortes e desesperadas na porta, me levantei, Felix me encarou assustado.

—Não abre não...— A voz dele saiu baixinha.

—PAI...— Escutei a voz da minha mãe.— PAI ABRE...— Abri a porta, minha mãe entrou com o rosto sangrando, ela estava desesperada, caiu chorando na sala, Lucas e meu avô apareceram no corredor, fechei a porta ajudando ela a levantar.

—Mãe?— Ajudei ela a se sentar no sofá, a testa estava cortada.— O que aconteceu?— Ela me olhou chorando.

—O Sérgio... ele...— Ela tentava respirar fundo.— apareceu lá em casa bebado...

—Quem é sergio?— Perguntei perdido.

—É o namorado da sua mãe. — Meu avô se aproximou.— Ele te bateu de novo?— Minha mãe abaixou a cabeça chorando, olhei Félix tentando assimilar as palavras.

COMO É QUE É? Um filho da puta encostou a mão na minha mãe? Quem esse idiota acha que é?

Félix fez um curativo nela enquanto Lucas tentava me segurar, minha vontade era de ir na casa dela e desgraçar com o desgraçado que encostou o dedo nela.

—Pronto dona Vânia. — Felix colou o band aid na testa dela.— A senhora não acha melhor denunciar ele?

—Não...— Minha mãe já tinha parado de chorar, olhei ela.— Eu provoquei...

—Mãe.— Encarei ela puto, como eu queria matar aquele filha da puta.— Em hipótese alguma esse canalha deveria levantar a mão pra você.— Me aproximei dela.— Mesmo que você faça coisas horrívei, ele não tem esse direito.

—Mar... tin.— Ela levantou o rosto me encarando, o olho tinha começado a ficar roxo.— Eu provoquei, eu mereci. — Neguei me sentando, segurei o rosto dela.

—Não mãe... ninguém merece apanhar.— Segurei o rosto dela, minha mãe tentava segurar as lagrimas.— Ele faz isso sempre?

—Não...— Ela deixou uma lágrima escorrer.— So quando... Martin é difícil. — Eu olhei ela, nossos olhos se encontraram, os dela pareciam tristes e sem vida.

—Por que ele te bateu?— Perguntei segurando os ombros dela.

—Eu desafiei o Sergio... ele sempre chega do trabalho esperando a janta, e hoje eu não tinha feito... eu devia ser mais atenta.— Segurei o rosto dela.

—Desde quando você deixa homem mandar em você?— Ela tentou abaixar a cabeça mas eu não deixei. — Você não nasceu pra ser submissa mãe.

—Filha, o padre disse que nós mulheres devemos ser submissas aos nossos maridos...— Olhei ela, como minha mãe pode comprar esse discurso podre?

—Mãe, você não tem que ser submissa a ninguém.— Apertei as mãos dela, meu coração doia de vê-la desse jeito.— É por isso que você não me ama? Por religião?

—Quem disse que eu não te amo?— Ela me encarou, fiquei em silêncio. — É justamente por te amar que eu quero te trazer de volta.— Suspirei me encostando no sofá.— Eu não entendo vocês, você e ela são duas mulheres que se vestem igual a homens... não era mais fácil serem mulheres e buscarem por homens de verdade?— ela apontou para mim e para Félix, suspirei, é melhor ela ir embora mesmo.

—Na verdade... são duas coisas diferentes.— Lucas se intrometeu.— O Martin se identifica como homem, mas isso não significa que ele não pode se atrair por homens... sexualidade e gênero são diferentes.— Minha mãe suspirou deitando a cabeça no sofa.

—Dorme aqui Vânia.— Meu avô olhou ela, minha mãe negou se levantando.

—O Sérgio deve estar mais calmo, eu...

—Eu te levo la.— Encarei ela.— Vem.— Puxei a mão dela, minha mãe me olhou surpresa, arrastei ela pra fora de casa.

—Não precisa...

—Eu quero. — olhei ela.— Deixa eu fazer meu papel de filho.— Vania suspirou passando a mão na testa.

—Martina, eu sei que...

—Chega, eu ja pedi pra você me chamar de Martin.— ela coçou a cabeça, ficou em silêncio por um tempo, a rua estava vazia e fria.

—Me desculpe...— Fomos andando, boa parte em silêncio, da casa da minha mãe para a do meu avô é uma distância ate que boa.— Você é feliz?— Encarei ela, fiquei em silêncio pensando no que ela tinha a me dizer.— Sabe... assim.

—Sou.— Olhei ela.— Eu tenho o Félix que é um namorado incrível, inclusive é só por causa dele que eu vim te ver.— Ela abaixou a cabeça.— Tem o Lucas... ele é incrível mãe, você ia gostar dele... a loja de disco, lembra? Aquela que você me levava?— Minha mãe concordou andando.— Tem a Marina... de vez enquanto ela pergunta de você sabia? Ela ta gravida.— Minha mãe parou, me encarou, sorriu um pouco.

—Quando você era pequena... eu ficava rezando pra um dia você achar um homem e me dar um netinho... lembro de ficar feliz quando descobri que você era menininha, minha mãe dizia que quando é filha mulher e ela tem um filho, os netos ficam próximos das avós maternas.— Ela abaixou a cabeça.— Só que você... é assim...— Ela suspirou.

—Eu ainda posso ter filhos sabia?— Ela me encarou.

—Não é a mesma coisa Mar... tin.— Ela suspirou.— Eu queria uma filha... uma mulher que fosse parecida comigo.

—Ei!— Dei um empurraozinho nela.— Eu sou parecido com você, a gente gosta da mesma comida.— Ela deu uma risada triste.— Mãe, eu não sou o filho que você queria... mas ainda sou seu filho.

—Eu... não consigo te enxergar sabe? Eu ainda enxergo minha bebezinha em você... não é a mesma coisa.— Ela parou na esquina da casa dela.— Eu vou sozinha agora, pode ir embora.

—Eu te levo...— Ela segurou meu braço.

—Se o Sérgio me ver com você... eu não sei do que ele seria capaz.— Ela me encarou, o olhar ficou triste. — vai embora...— abaixei a cabeça.— Eu quero proteger você.

—E você?— Minha voz saiu triste, ela negou, vi minha mãe continuar caminhando, ela entrou em casa, As luzes estavam acessas, fiquei olhando a casa, queria tanto entrar, queria que ela fizesse aqueles sanduíches que ela costumava fazer antes, definitivamente foram a melhor parte da minha infância.

Fiquei esperando um pouquinho, quem sabe ela volta, mas... ela não voltou.

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Autor: Estamos evoluindo um pouquinho.

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Martin, não seja burroOnde histórias criam vida. Descubra agora