✨ PARTE TRÊS ✨

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Capítulo 38
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Peter
( Atual Zayden)

Estou em uma casa bem simples, esperando minha esposa voltar do jardim.
Não me sinto nada bem, estou doente, pedi por um chá.
Espero por ela deitado no sofá, o qual me encaixo perfeitamente, mas sinto um cheiro estranho, queimado.
Quando vou até a cozinha, que é no mesmo lugar que a sala, vejo um pano pegando fogo, ela esqueceu a chaleira ligada.
Vou correndo o mais rápido que posso, já que estou passando mal só de estar em pé, pego água para jogar no fogo, mas assim que volto vejo que o fogo já se espalhou para as cortinas e no teto.
Meus olhos começam a lacrimejar, nossa casa é feita de madeira, não tem o que fazer, preciso fugir.
Tento sair, mas a fumaça está forte e não consigo ver nada, me sinto tonto e com falta de ar, tenho problemas respiratórios.

Caio sem forças ao chão, tento me rastejar até o sofá de novo, onde é mais perto da janela, então grito por Emma.

- EMMA, SOCORRO. FOGO

Agora madeiras estão caindo, a fumaça está se espalhando rapidamente, não consigo gritar tão alto, meus pulmões estão queimando e não estou respirando.

- PETER, OH DEUS, PETER.

- EMMA, EMMA...

O jardim é um pouco distante, mas escuto a porta abrir, Emma conseguiu entrar.
Não, NÃO, ela está grávida.

- Emma... Não... O bebê.

Digo sussurrando, ela não parece ouvir.

- PETER, ESTOU INDO, NÃO PARE DE GRITAR, POR FAVOR.

Meus olhos querem se fechar, meu corpo pede por descanso, há muito tempo ele pede por descanso.
Não posso mais lutar, é mais forte que eu, minha alma quer fugir desse fogo.
Meus olhos estão quase se fechando, estendo a mão para Emma, mas vejo uma madeira em chamas cair em sua frente, quase a atingindo.
Penso no bebê com a esperança dela também pensar, então antes de fechar os olhos para sempre, vejo ela colocando as mãos na barriga e fugindo.

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Acordo assustado com a escuridão eterna que me apareceu depois dessa memória.
Estou suado, molhei meu lençol todo, pelo menos não estava usando camisa.
No impulso, pego meu caderno debaixo do colchão, onde anoto meus sonhos, mas lembro que eu já desvendei tudo, não preciso mais disso.
Entro no chuveiro, água fria, assim como eu, vazio, gelado.
Não tenho mais esperanças de encontrá-la, já me perdi por inteiro, não resta nada de mim, o que restava foi perdido naquele quarto de paredes brancas.

Saio do banho e pego uma blusa qualquer, hoje meu padrasto e minha mãe vão assinar minha matrícula na escola nova.
Tive que mudar de escola já que eu sofria muito lá, não tinha amigos, nenhum professor falava comigo e nenhuma pessoa se quer olhava na minha cara.

Eu era visto como doido, retardado mental, esquizofrênico, entre outros nomes horríveis que já fui chamado.
Meu padrasto arrumou muita confusão, principalmente no dia em que fui preso por agressão semana passada.

Eu tenho um bom motivo para isso, eu nunca fui agressivo, nem grosseiro, tanto que nunca respondia nada contra aos que faziam bullying comigo, mas teve um dia que dois garotos da minha sala decidiram que queriam saber mais de mim.
Eles descobriram o motivo de ter ficado internado em uma clínica psiquiátrica por sete meses, descobriram que eu era louco por uma menina que nem existia, de acordo com os médicos.
Eles foram até a janela do meu quarto, que fica no segundo andar, no telhado, então ficaram cochichando o meu nome, com um aplicativo que mudou a voz deles para uma voz feminina.
Eles diziam: "Peter, venha me ver, estou de volta".
Eu já estava melhor comparado a antes, minhas crises pararam, eu parei de me cortar e parei de procurar desesperadamente por Emma. Mas algo que eu nunca fiz, nem por um segundo, foi parar de acreditar que ela é real, que nossa história é real.

Levantei rapidamente, o que acabou me deixando tonto, então peguei meu moletom e fui de bermuda de pijama com um moletom por cima, junto com uma pantufa do banguela de " Como treinar o seu dragão".
Desci pelo telhado, a escola era perto, então fui andando mesmo, na verdade correndo.

Assim que chego na entrada eu percebo o frio que está, é outono.
A porta principal está destrancada, não suspeitei de nada nem por um segundo, eu só queria minha Emma.
Uma luz no fim do corredor se ascendeu assim que pisei o pé dentro da escola, no meio da luz tinha uma "menina", "cabelos" loiros e um vestido de camponesa.

Logo gritei " Emma!?", então ela fez que sim com a cabeça.
Não sei o que eu estava pensando, mas sai correndo até ela, lembrando disso eu vejo como fui um tolo em cair nisso.
Estou a um passo dela quando percebo que ela está rindo, então também percebo que ela é ele, com uma peruca loira.
Não sei o que fazer, minha vontade era de chorar, mas então olho para cima após ouvir um assobio e um balde cheio de chá quente caí em mim.

Gritei feito doido, de dor e de ódio, então saio correndo atrás dos dois e consigo pegar um deles.
Eu preferia ter chorado ao ter feito o que fiz com aquele garoto, como eu queria que eles fossem mais altos e mais rápidos que eu, talvez eu não teria feito nada daquilo.
Eu comecei com um soco, então outro, até que minhas mãos estivessem cheias de sangue dele e inchadas de tanto bater.
Ele não disse uma palavra, não deixei ele ter um segundo de paz depois de o agarrar.
Eu estava determinado a bater mais ainda nele, mas parei quando a sirene da polícia estava perto e o colega dele começou a gritar pelo amigo, pedindo para eu parar.
Assim que vi seu rosto, eu quis me matar.
Fui preso, não questionei, não tentei fugir e muito menos gritei com alguém.
Só levantei os braços, então me ajoelhei, coloquei as mãos atrás da cabeça e esperei o policial se aproximar para prender minhas mãos.
Eu queria essa punição, eu merecia aquilo, mesmo depois deles terem feito aquela brincadeira de mal gosto.

Minha mãe já tinha desistido de mim há muito tempo, mas meu padrasto não, ele nunca me deixou de lado.
Passei uma noite lá, Nikolai, marido de minha mãe, Isla, poderia ter pagado a fiança antes, já que os alunos que fizeram isso comigo falaram o que aconteceu (pelo menos um deles falou). Mas eu pedi para ficar uma noite, ao menos uma, ele disse que não, que eu já passei por muita coisa, já fiquei preso por muito tempo.
Então eu disse o real motivo de querer ficar ali por uma noite pelo menos: " Eu preciso ficar preso, se eu sair daqui eu não vou passar dessa noite, entendeu, pai?" e ele disse " está bem".

Cheguei em um nível tão extremo de loucura que não sabia se conseguiria me controlar, controlar essa culpa.

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Outro corpo, mesma almaOnde histórias criam vida. Descubra agora