Todos estão me encarando com aquelas suas feições de pena e tristeza, alguns falam comigo, desejam condolências, enquanto outros passam reto, apenas me encarando e cochichando sobre mim com os amigos.
Mas os piores são os que estão sorrindo, felizes como se nada tivesse acontecido, o que, para eles, realmente não aconteceu e isso é surreal, pois enquanto isso está acabando comigo, não faz diferença alguma na vida deles.Sobrevivi ao corredor, agora preciso entrar na sala. Antes de abrir a porta escuto a maior barulheira, todos conversando, mas assim que abro a porta e entro na sala olham para mim, então sussurram:
- É a garota do garoto que morreu aqui na frente da escola.
Me definir assim e definir Louis como um garoto qualquer que morreu na frente da escola me enfureceu.
Alice está ao meu lado, percebi sua cara de ódio aos comentários também.- Sou eu sim, mas me chamo Loli e o garoto que morreu era Louis, o meu namorado. Agora calem a porra da boca de vocês.
Silêncio...
- Estou aqui com você e para você, irmã.
Diz Alice.
Sento onde sempre sentei, então vejo que um garoto novo está sentado na cadeira de Louis.
Não consigo dizer nada, apenas fico encarando ele com raiva e tristeza nos olhos.- Oi? Algo de errado?
Pergunta o garoto, tirando os fones de ouvido. Por que ele está usando óculos de sol?
- N-ão, nada. É que...
- É que??
- Nada.
Então ele põe os fones de volta.
Acabei não falando nada pois ele é um aluno novo, estava de fone e não ouviu o que aconteceu quando cheguei. Será bom ter alguém que não me trate com pena, pelo menos até ele não ouvir sobre.
Ele tem cabelos pretos, meio ondulados, pele bem pálida, sua boca é fina, mas sabe de uma coisa? O formato dela é exatamente ao formato da nova esposa de meu pai.
Será o meu suposto irmão?Alice está preocupada comigo, pergunta se eu não quero que ela peça para o garoto sair e ela poder ficar ali, mas digo que não há problemas. Na hora do lanche vou contar para ela sobre ele.
Começamos o dia com biologia, como eu queria Louis aqui para fugir comigo e tomar milk shake.
A próxima aula é do William, não o vi desde o acidente. Ele salvou minha vida, preciso agradecê-lo e necessito de seu abraço, o abraço de um pai.
Percebi como isso tudo aproximou minha mãe do Will, eles trocam mensagens todos os dias e toda hora.
Isso é maravilhoso, seria muito bom para minha mãe.A primeira aula acabou, não consegui prestar atenção em nada do que a professora disse já que minha atenção estava no garoto do óculos de sol.
Para me distrair do fato dele estar sentado onde supostamente Louis deveria estar, estou tentando descobrir sobre ele apenas o observando, também estou tentando descobrir o motivo para os óculos.
Será que ele usou drogas e usou os óculos para disfarçar? Será que ele ainda não melhorou e saiu de clínica muito cedo? Será que ele se meteu em uma briga e está com um enorme e feio roxo?- Com licença moranguinho aí, o que você tem comigo??
Moranguinho?
- Como é? Nada, eu já disse.
- Então pare de me encarar, sei que sou bonito, mas não é pra tanto menina.
Menina? Ah, mas esse garoto...
- Com toda a certeza
Digo cinicamente.
- Sabe, menino, só estou te encarando pois você está sentado no lugar do meu namorado.
- Por acaso ele está aqui agora? Não.
- Mas ele poderia estar, ele poderia...
Mas não, ele está morto. Completo a frase em minha mente.
Percebo que ele viu meu olhar triste, pareceu se preocupar, mas não saiu do lugar.
- Agora com licença, me deixe em paz e pare de me encarar como uma maluca.
- Falou o cara com óculos de sol dentro da sala de aula, doido.
Ele me encara bem de perto.
- Olha aqui, moranguinho, eu posso ser muita coisa, mas não sou doido. Nunca me chame assim, por favor.
Ele parece bravo, mas foi educado.
Interessante.
Agora sim eu tenho certeza de que ele é o meu irmão e irmão de Alice. Por que ele se incomodaria tanto por ser chamado de doido? Suspeito demais, ele deve ter sido internado.O William bate na porta, me afastando dos pensamentos sobre o menino dos óculos. Ele entra, deixa sua pasta de couro na mesa dele e então me chama para sair da sala.
Saímos, vamos para um jardim perto do pátio, sentamos no banco de madeira e quando vejo já estou chorando.- Obrigada, por me salvar.
Digo entre lágrimas.
Algo inédito acontece, Will chora. Acho que nunca o vi chorar.
- Eu sinto tanto Loli, não precisa me agradecer.
- Preciso sim, você salvou minha vida, eu estava cega, o fogo não era nada para mim naquele momento, eu só queria salvar ele.
Se não fosse por você, eu estaria bem mais queimada do que estou nos braços.Então mostro meus braços.
Will toca os curativos delicadamente, então faz uma expressão de dor, franzindo as sobrancelhas.- Dói muito?
- Não, foi profundo, então feriu meus nervos. Não sinto quase nada.
- Assim fico mais aliviado. Como você está? Sei que parece uma pergunta besta.
- Estou aguentando, eu acho.
- Você é uma garota muito forte, Loli, sei que vai passar por isso.
Eu não gostava de Louis, ele não era um bom namorado para você, mas isso continua sendo um terrível acidente e eu sinto muito por tudo.
Ele era muito novo, podia melhorar.- Sim..
- Estou aqui com você, se precisar de um refúgio, terá minha biblioteca, se precisar de um café de um senhor, terá o meu. Se precisar de um abraço paterno, terá sempre o meu a sua disposição, filha.
Ele me chamou de filha?
- Will
Digo seu nome fraca, já que não consigo segurar as lágrimas.
- Eu preciso do abraço paternal nesse momento.
Rio e choro ao abraçá-lo.
- Hoje vou para sua casa, sua mãe me chamou para jantar. Conversamos mais lá, precisamos voltar para a sala.
- Que notícia incrível!
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Outro corpo, mesma alma
RomanceLolita pensou ter encontrado o namorado dos sonhos, sua alma gêmea, mas isso não durou por muito tempo. Quando achava que estava com a pessoa certa, ela começou a ter sonhos, pensamentos intuitivos de que algo trágico estava prestes a acontecer, mas...