Capítulo 7

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Acordo pensando naqueles olhos. Ontem, no sonho em que falei com o garoto da bicicleta, consegui ver seus olhos e me assustei. Aqueles olhos são familiares demais, eu os descreveria como o céu à noite, profundo e intenso.
São os olhos de Peter, dos outros sonhos. Por isso é tão familiar.
Agora não sei dizer se esse sonho vai realmente acontecer, os outros que tenho não parecem acontecer nessa época, eu diria que estava em torno de 1800.
Não imaginava que aquela casa pegando fogo, o homem gritando por Emma, fosse uma visão minhã. No sonho eu pensava como se fosse eu, mas ela não tinha nada parecido comigo.
Agora que perco minha sanidade mesmo, o garoto dos olhos azuis disse que eu era a Emma. Ele era Peter, eu era Emma, espere um segundo...
EU ESTOU LEMBRANDO DE UMA OUTRA VIDA?

Escuto uma batida na porta e volto para a realidade.

-Filha? Está acordada?

-Pode entrar, mãe.

- Bom dia querida, como está se sentindo? Hoje não precisa ir às aulas, pode deixar que falarei com William, queria vê-lo de qualquer maneira.

- Bom dia mãe, eu tô bem, só com uma leve dor de cabeça. E porque você quer ver o William?

-Ah, não é nada demais filha, preciso de... livros, livros de advogada.

Eu sei que ela acabou de inventar isso, livros de advogada?

Rio e digo:

- Aham mãe, sei, vou fingir que acredito nessa, tá bom.

Minha mãe ri timidamente

-Vou prepar seu café da manhã hoje, um café preto com ovos e torrada, pode ser? E apresse-se, sua consulta é às 10:00 da manhã, ja são quase 9:00.

- Está ótimo mãe, obrigada, saudades do seu café, é o melhor. Vou tomar um banho e ficar pronta.

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Chegamos ao consultório da Dra Anna, finalmente.
Gosto muito da sala dela, tem uma janela enorme que dá de frente para a praia, tenho tantas lembranças nessa praia com Louis.

- Loli? Quanto tempo!

A Dra Anna e eu nos tornamos grandes amigas, ela é amiga da minha mãe desde a escola, então já tivemos algumas visitas dela em casa.
Gosto muito da Anna porque ela respeita minha privacidade, no começo eu tinha receio de contar para ela sobre tudo, com medo de que ela contasse para minha mãe. Mas isso nunca aconteceu, ela é muito profissional.

- Annaaa, me de um abraço. Que saudade!

Então nos abraçamos e vamos para seu consultório. Aqui é lindo demais, a Anna adora a praia, então têm diversas conchas, quadros da praia e poesias sobre o mar.
Conversamos sobre como anda minha vida, como ela está, fofocas que precisávamos por em dia foram contadas.

- Agora Loli, vamos conversar sobre os sonhos. Sua mãe acha que são somente pesadelos, não que eles tenham um verdadeiro significado.
Mas você sempre me disse, quando criança, que achava ser o seu futuro, que você podia ver o futuro. Você anda sonhando com os mesmos sonhos?

- Então, você acredita em outras vidas, tipo, vidas passadas?

- Claro, mas não são todos que pensam assim, sua mãe, por exemplo, não acredita nisso.

- Sim, sim, eu sei. Eu também não acreditava, mas com a volta desses sonhos eu percebi que são visões do passado. Não achei que eram minhas, achei que era invenção da minha mente, mas no meu pensamento, enquanto sonhava, eu falava como se fosse comigo. Esses sonhos não são visões do futuro, mas sim do passado, minha vida passada.
Você acha que isso é possível?

- Loli, eu acredito que sim, há estudos sobre isso onde outras pessoas recordam de suas antigas vidas, mas é um assunto polêmico, poucos acreditam. Eu acredito, então vamos explorar mais sobre isso, tem algum motivo para você conseguir lembrar, nada acontece por acaso, Lolita.

Nada acontece por acaso. Realmente, sempre tem um motivo e eu vou descobrir esse motivo.

Ficamos mais do que o esperado procurando sobre os meus sonhos em suas antigas anotações sobre mim. Dra Anna até remarcou seus horários de hoje, ela ficou empolgada com isso, mas eu estou apavorada.

- Bom, sabemos que você viveu na França, com Peter, onde vocês tinham uma vida de casados. Como eram suas roupas? Sua casa, a chaleira, tente se lembrar de tudo isso para podermos pensar em que época foi isso, talvez conseguimos achar onde era sua casa!

- Tá bom, você está ficando maluca e me deixando maluca! Vamos com calma, isso tudo é demais para mim.
Tenho outro assunto que preciso conversar com você, isso está me consumindo, cada momento com ele está me matando por dentro e eu não sei mais o que fazer.

Então quando vejo, meus olhos estão cheios de lágrimas.

- Ele quem Lolita? Louis? Vocês continuam juntos?? Que maravilha! É uma maravilha?

- Sim, é uma maravilha, mas não vamos estar juntos por muito tempo.
Sabe Peter? Ele falou comigo em um sonho, disse que Louis vai embora.

- Mas, como assim lolita, ir embora?

- Não sei, mas antes desse sonho eu já estava com um sentimento ruim, uma intuição muito forte de que Louis vai morrer. Eu tentei ignorar, mas não tem como, cada segundo com Louis está me matando, eu só quero chorar e abraça-lo.

Então Anna segura minhas mãos.

- Lembra que eu tinha essa mesma intuição com Leo? Meu gatinho?

Digo para ela enquanto seco minhas lágrimas.

- Lembro sim, você chorava tanto, chegava a soluçar, sua mãe achava que você estava ficando doida, mas eu não. Eu sempre acreditei em você e sempre irei acreditar em você Loli.

Então sorrio á ela como agradecimento.

- Então eu não sou louca? Eu não estou paranóica?

- Não minha querida, você não está. Ser diferente não te torna uma maluca, te torna especial, rara. Está tudo bem ser diferente, na verdade é um dom lindo que você possuí, não tenha medo dele, abrace ele.

Eu não vou ter medo.

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Outro corpo, mesma almaOnde histórias criam vida. Descubra agora