Saio correndo e pego minha bicicleta, pedalo até meus joelhos doerem, meus pés sangrarem por conta do tênis e meu moletom estar grudando em mim de tanto suor.
O sol foi embora, está nublado, na verdade garoando de leve.
Agora que consegui ficar exausto, posso pensar mais no cansaço do que aquilo.
Antes eu me cortava para sentir uma dor pior do que eu sentia psicologicamente, mas depois da clínica eu aprendi outros jeitos de focar em outros sentimentos, um deles é o cansaço.
Paro de baixo de um poste, que luz amarela forte, está piorando minha dor. Coloco o capuz, assim protejo os meus olhos da luz e meus ouvidos do vento cruel dessa noite.Vejo uma flor no chão, pisada e molhada, me lembrou da última vez que vi minha Emma, minha doce Emma. Ela era delicada como uma flor, aqueles lindos olhos roxos eram como Lolita, o cristal
Na noite em que eu morri, a minha flor murchou, foi amassada e molhada pelas lágrimas de dor.
Onde será que ela está?- NÃO!
Não? Olho para cima, vejo uma garota na varanda. Esse lugar... É familiar, de onde eu conheço?
Tento ver quem é, mas está difícil de ver ela com essa luz em minha cara.
Cabelos vermelhos?
Cabelos vermelhos, foi tudo que consegui ver.........................................................................
*Barulho de teclas...Ligando...
- Pai? Onde você está?
- Oi filho, em casa, por que?
- Eu preciso de ajuda. As vozes, pai, estão de volta.
Silêncio.
- Pai?
- Fique calmo, você continua na academia?
- Não, depois de ouvir os gritos eu saí de lá. Peguei minha bicicleta e pedalei até não aguentar mais, estou em um posto, aquele perto do mercado.
- Está bem, filho, não saia daí, estou indo.
- Obrigado.
........................................................................
Fico em silêncio até chegar em casa.
- Onde você estava filho!?
Exclama minha mãe.
- Na academia, depois sai para andar de bicicleta e me perdi.
- Óbvio, acabamos de chegar nessa cidade e você decide andar de bicicleta de noite??
- Depois eu falo com você amor, aconteceu uma coisa.
Diz meu pai.
- Não vai me dizer que ele está ficando doido de novo?
Eu
Não
Sou
Doido- Chega! Eu não sou isso mãe, será que você poderia se importar um pouco?
- Não grite comigo!
- Já chega! Eu não aguento mais vocês dois discutindo.
Berra meu pai.
- Eu que não aguento mais ter um filho problemático, ele me envergonha.
- Eu o que?? VOCÊ QUE ME ENVERGONHA, olha que mãe lixo você é.
- CHEGA! VÁ JÁ PARA O SEU QUARTO.
Abaixo a cabeça e vou para meu quarto, eu não devia ter gritado.
Minha mãe não era assim antes, não até meus sete anos de idade, depois disso, tudo mudou, foi quando os sonhos começaram.
Eu acordei chorando e gritando o nome de Emma, eu berrava falando que eu tinha que achar ela.
Minha mãe ficou preocupada, meu pai disse que era só um pesadelo de criança.
Então eu passei a sonhar com a cena de Emma se matando toda semana, depois todo dia. Eu não queria mais dormir, eu dizia que via uma menina se matando, que eu sofria ao vê-la fazer aquilo.
Minha mãe passou a dormir comigo todos os dias, mas como ela é modelo, está sempre viajando, o que fazia ela ter que dormir longe de mim algumas vezes.
Meu pai começou a dormir comigo, mas eu dizia que queria a minha mãe, sofri muito com isso. Minha mãe largou o trabalho por um tempo, disse que conseguiu umas férias para poder cuidar de mim, mas eu sei que esse foi o pior erro dela, pelo menos para ela.
Se eu não dormia, ela não dormia, se eu não comia, ela não comia.
Nós dois ficamos muito magros, pálidos e cheios de olheiras, minha mãe começou a ficar louca com isso já que seu emprego é relacionado com a beleza.
Ela me levou para psicólogos, neurologistas, então eu passei a faltar muito nas aulas por conta de consultas. E isso foi se estendendo até os meus dez anos de idade, quando do nada, meus pesadelos pararam.
De princípio achei que fosse algo bom, mas na verdade foi só aquela melhora repentina antes da morte, sabe aquela milagrosa?
Minha mãe ficou aliviada, mas tinha raiva de mim por ter feito ela perder contratos com grandes revistas já que estava parecendo um cadáver.Os anos se passaram, eu fiz dezesseis, então comecei a ter crises nervosas, sentir medo do nada.
Às vezes ouvia uma discussão, uma menina gritando, mas eu não sabia de onde vinha. Lembro de sentir um desespero para defender essa garota, era horrível, eu sentia seu sofrimento.
Então na noite do meu aniversário de 17 anos, os sonhos voltaram, mas piores.Comecei a sonhar com uma casa, pegando fogo e com a menina que se matava nos meus sonhos de criança.
Não dormia, não comia, não queria sair de casa e não queria ir ao médico.
Meu pai me levou para um psiquiatra, Dr Albert, ele me ajudou no início, mas depois ele me fez ficar internado por sete meses.
Foram os piores meses da minha vida, tomava medicação para dormir, mas nos primeiros meses nem eles paravam com os pesadelos.
O Dr Albert não sabia o que fazer, então a cada mês que passava ele dizia que eu precisava ficar mais lá, e meu pai chorava em toda consulta que ele dizia isso.
Nas primeiras consultas minha mãe foi, mas assim que a empresa começou a aparecer ela sumiu, nunca mais a vi.
Depois descobri que era por ela estar com vergonha de mim, as revistas fofocavam sobre ela e sobre seu filho internado em uma clínica psiquiátrica, para ela sua reputação é mais importante que o próprio filho.
Engraçado como meu padrasto se importa mais comigo do que minha própria mãe.Enquanto me lembrava dessas coisas, nem reparei que meu pai e minha mãe estavam discutindo.
- Você acha que isso não afeta seu filho, Isla?
- Eu não me importo mais com isso, nada mais adianta, ele não tem cura.
- Como assim cura?? Ele não está doente!
- Óbvio que ele está! Assim como eu estou ficando, olhe para mim, eu estou parecendo morta Nik, morta! Meu trabalho é a beleza, e esse menino está estragando isso!
- Esse menino é seu FILHO, ISLA.
- Exatamente, meu filho, não seu. Por que você se importa mais com ele do que com sua esposa?
- Como assim????? Olha, você vive dizendo que O MEU filho está maluco, mas a única maluca aqui é VOCÊ!
Já chega, ouvir tudo isso está me deixando muito mal, mas agora eu sei o que sempre tive certeza.
Ele é o meu pai, não padrasto, nunca mais direi que ele é o meu padrasto.........................................................................
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Outro corpo, mesma alma
RomanceLolita pensou ter encontrado o namorado dos sonhos, sua alma gêmea, mas isso não durou por muito tempo. Quando achava que estava com a pessoa certa, ela começou a ter sonhos, pensamentos intuitivos de que algo trágico estava prestes a acontecer, mas...