Capítulo 44

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É madrugada, talvez quatro da manhã, não sei exatamente, mas logo irá amanhecer, pássaros estão cantando na minha janela.
Em minha cama estou deitado, olhando para o teto branco, depois os detalhes nas bordas, então as paredes roxas novas.
Eu pedi para ser roxo, pois os olhos de Emma eram e são dessa cor, assim eu durmo com seu olhar em mim, com sua proteção.

Estou pensando na família que meu pai abandonou, como ele simplesmente casou e teve outra? Tão fácil assim?
Não é justo, ele é o melhor pai do mundo para mim, enquanto suas filhas podem nem ter tido um pai em suas vidas, quem elas são? Onde estão?
Eu não entendo como um homem tão bom como ele consegue viver sabendo que arruinou a vida de não uma, mas duas pessoas de seu próprio sangue, e a mãe delas? Deve ter sido horrível.

Bom, eu vou tirar minha dúvidas com ele amanhã, agora quero saber como está a menina de mais cedo.
Agora que estou calmo, percebi que ela é aquela garota que vi na saída da escola e o garoto que faleceu era o loiro atrás dela.
Eu sei como é sua dor, perder um amor assim, ela deve estar completamente e totalmente destroçada, assim como eu estou mesmo depois de uma vida inteira e mais um pouco.
Espero que ela não tenha o mesmo destino de Emma, ela não sabia viver sem mim e se matou, mesmo estando grávida.
Até hoje não sei como ela teve tal coragem para cometer um ato desses, eu tentei de tudo para impedir aquilo quando ela estava pulando da cadeira, junto com uma corda em seu pescoço.

Nos meus sonhos, era assim:

Saio da casa, pelo menos do que restou dela. Lá, deixo meu corpo, sem vida, inútil de qualquer maneira.
Emma está chorando no gramado, gritando e chorando descontroladamente, tudo o que eu queria fazer era abraçar ela e mostrar que estou bem, que estou vivo, ou quase isso.

- POR QUE, POR QUE ELE!?? PETER, POR FAVOR, PETER...

Ela gritava por mim, o que fazia meu coração doer, mesmo não tendo um, é difícil explicar. Tentei tocar em suas mãos juntas em seu ventre, mas passei direto, esperei ela sentir algo estranho, mas Emma só continuou a chorar.
Segui ela por dias, semanas, até que com um mês de minha morte, Emma decide fazer algo terrível com si e seu bebê, nosso bebê.

Ela está em um quarto vazio e sombrio, não sei onde é, mas sei que não tinha uma energia boa.
Ela passou esse mês praticamente deitada em sua cama, não queria comer, nem beber, ou levantar para fazer suas necessidades, às vezes, quando não dava para segurar, ela fazia ali mesmo.
Quem cuidava dela não ligava para isso, só xingava e falava que ia deixar ela suja para parar com esse drama.

Quem foi embora fui eu, mas quem realmente morreu foi ela.
Seus belos cabelos loiros estavam opacos, sem vida, assim como seus olhos roxos de tirar um suspiro.
Sua boca era seca como uma uva passa, sua pele pálida como inverno e os olhos sempre vermelhos e inchados por conta das lágrimas cortantes.
Dói demais ver o amor da minha vida assim, eu queria mostrar meu amor por ela, dar um abraço quente e amoroso, beijar seus lábios até se tornarem vivos novamente.

Só havia um problema, eu estava morto, não havia nada que eu pudesse fazer para trazê-la à vida novamente.

Então, certo dia, ela fez uma carta para mim, ela sempre fazia cartas, prometendo me amar para sempre.
Mas essa foi diferente das outras, era uma carta de adeus, mas ao mesmo tempo um até breve, já que ela disse:

" Nada pode me separar de você, meu querido Peter, nem mesmo Deus. Acredite, eu irei te encontrar, tenho certeza, assim como tenho certeza que você irá me procurar até me achar também.
Essa carta é um adeus, mas ao mesmo tempo, um até logo.
Não importa quantas vidas viveremos, com nossos olhos nos guiaremos.
Essa carta é uma promessa.
Me encontre.
Com amor, sua Emma..."

Outro corpo, mesma almaOnde histórias criam vida. Descubra agora