Outro corpo, mesma alma

Capítulo 21

O carro está balançando, o rádio tocando e o meu pai cantando. Ele parece outra pessoa, acho que o sonho que ele teve foi um milagre, até sua cara está diferente.
Estamos perto da escola quando meu pai começa a falar:

- Filho, sei que essa nossa vida não foi boa, não fui um pai para você. Mas prometo que na próxima serei um outro homem.

Como assim outra vida?

- Pai, outra vida? Desde quando você acredita em outras vidas?

- Desde sempre, filho, só nunca conversei com você sobre isso.
Mas você acredita em mim, não acredita?

- Não sei.

- Bom, tudo vai passar, agora vamos para um lugar melhor, lá não vou sentir tantas dores por conta das drogas e você terá sua mãe de volta.

- Como assim!? Pai, o que você está planejando??

Meu pai fica em silêncio, pego o meu celular e começo a escrever um texto para Loli, caso eu não tenha outra oportunidade para escrever.

( Ma princesse, perdão pelo namorado que não fui para você, perdão por não ser bom o suficiente, por ser grosso, problemático. Perdão por não te amar da maneira correta, perdão por parar de mandar cartas, flores e chocolates.
Perdão pela briga, pelos machucados que sei que nunca vão se curar por inteiro. Você merece mais, mas saiba que eu te amo muito,para sempre, você é o amor da minha vida, você me mostrou que eu tenho que mudar, que não sou igual ao meu pai.
Não consigo escrever mais que isso, adeus Lolita, meu amor.
Eu te amo infinitamente, não se esqueça de mim, não deixe de me amar, mesmo depois de tudo.
Bisous).

Meu pai começa a acelerar o carro, então tento tomar o volante dele.

- Pai, não faça isso, não faça isso com a gente. Temos uma vida toda pela frente, você nem sabe se vamos para um lugar bom, se tem vida após a morte, se a mãe está lá.

- Eu sei que ela está! Ela me disse, me disse para ir até ela.

- Você é um drogado! COMO VOCÊ ACHA QUE SUA MULHER MORTA VAI FALAR COM VOCÊ? PARE O CARRO PAI.

- Eu te amo filho, me desculpe, você vai entender depois.

Então ele vai em direção à uma árvore, com intenção de bater nela.
Pego o meu celular e envio a mensagem no último segundo antes do carro bater e eu desmaiar.

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