Capítulo 70

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LOLITA

Estamos em dezembro, nas nossas férias de duas semanas entre natal e ano novo.
Nesse ano irei comemorar ambas datas sem Louis depois de tantos natais juntos.
Eu ainda consigo me lembrar do primeiro natal que minha mãe chamou ele aqui em casa:

* Flashback

- Tia Rachel! Tia Rachel! Eu também tenho uma meia de natal?

Diz Louis, ele tinha nove anos, usava um gorro de papai Noel e meias pontudas, parecia um doende.

- Claro que sim, querido, está bem ali, ao lado da de Lolita.

Corri com Louis e Alice para a cozinha, eu sempre roubava alguma comida da ceia junto com Alice, então fui fazer o mesmo com Louis.

-  Mas a tia Rachel não vai ficar brava?

Diz Louis.

- Não vai nadaaa, a gente sempre faz isso, ela não liga mais.

Diz Alice dando risadinhas no final.

- Lou, você quer dormir com a gente hoje? A minha mamãe vai colocar colchões no chão do nosso quarto, vai ser uma festa do pijama.

Quando criança, chamava ele de Lou.

- Não sei se meu pai deixaria, mas tá bom, eu posso tentar sim. Ele deve estar dormindo mesmo, bebendo aquela coisa amarela que parece xixi.

- Não sei como ele gosta disso! Parece xixi mesmo.

- E é amargo, choro quando tomo.

Fico espantada, ele não pode beber, somos crianças.

- Você bebe?

- já bebi algumas vezes, tem algo de errado nisso, Loli?

- Isso é muito errado looou, como seu pai deixa?

- Ele já me forçou a beber algumas vezes, todo natal eu tenho que beber, já que a água sempre acaba em casa.

Os olhos deles se enchem de lágrimas, lembro de sua expressão até hoje, seus olhos estavam vazios, obscuros, sem o brilho que deveria ter em todos os olhos de crianças.

Após ele falar aquilo, estendo minha mão para ele, então subo com ele para o meu quarto e o levo para a minha varanda.
Na época eu só tinha livros de princesa e pintura, junto com bonecas e ursinhos de pelúcia.

- Vem, aqui é onde a tristeza some, é mágico, sabia?

Digo a Louis.

Ele seca suas lágrimas, engole o choro, vejo como foi difícil, como ele sentia dor ao fazer isso.

- A gente pode brincar?

Diz Louis,

- Simm, do que?

- De abraço. Eu te abraço e você me abraça, então eu posso deixar essa dor no meu coração ir embora.

Foi nesse dia, nosso primeiro natal juntos, que nunca mais deixei de implorar para minha mãe chamar Louis todo Natal.
Foi nesse dia, onde fiz a " brincadeira do abraço " sempre que Louis pedia ou eu pedia.

- Promete brincar comigo pra sempre?

Pergunta Louis, com os olhinhos vermelhos.

- Para todo o sempre, Louu.

Digo dando um beijinho em sua bochecha.

**

Louis é uma prova de que ninguém nasce ruim, ela se torna.
Incrível como ele, uma pessoa que parecia ser tão gentil, tinha traços tão tóxicos.
Me pergunto se tudo seria assim se eu não tivesse levado nossa amizade para outro nível.

Outro corpo, mesma almaOnde histórias criam vida. Descubra agora