Capítulo 26

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Mas o que...
Falo em voz alta sem querer, fazendo Alice virar de lado.

Recebi uma mensagem de texto dele.
Como isso é possível, eu até tenho visões e sonhos da vida passada, mas falar com mortos já é demais.
Eu não sei o que fazer, não tenho coragem para abrir isso, ler isso. Pode ser alguma pegadinha de mal gosto, pode ser engano.
Estou tremendo, o que eu faço?
Lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, molhando meu pescoço. Preciso chorar em silêncio, não quero acordar ninguém.
Respiro fundo e abro a conversa, então vejo um texto, um texto de perdão e adeus.

Leio o texto pelo menos cinco vezes, nessas cinco vezes chorei igualmente, tive que vir ao banheiro correndo pois meus soluços estavam ficando altos.
Louis sabia que ia morrer e escreveu isso em seus últimos minutos de vida. O pai dele realmente se matou, levantando o filho junto.
Essa é a única explicação lógica, não tinha como ele saber que ia morrer, se ele soubesse antes teria falado comigo quando estava ligando loucamente para ele.
Como eu só recebi isso agora?? Acho que levaram o celular dele para a delegacia, então conectou ao wi-fi.
Estou lendo uma mensagem do meu namorado morto como se fosse ele mandando agora.
Droga, como eu queria que fosse isso, como eu queria poder me resolver com ele antes dele ir embora para sempre.
Como dói, como dói saber que enquanto estou aqui respirando, ele está em um lugar fechado e gelado, sem vida, é só pó.
Como dói saber que ele morreu pensando que eu o odiava.
Como dói saber que nunca mais verei seus olhos abertos, brilhando para mim.
Como dói saber que nunca mais poderei segurar suas mãos, quentes e aconchegantes, que agora estão em um pote, um pote caramba!
Como dói saber que nunca mais sentirei seus lábios macios, os quais estão queimados.
Como dói saber que não terei mais abraços dele, aqueles que me acalmaram tantas vezes.
Como dói saber que não vou mais brigar com ele, pois eu prefiro mil vezes brigar com ele do que não ter ele para brigar.
Como dói ver que para muitos isso não passará de uma fofoca, um acidente terrível.

Choro, então choro mais e mais, mais mais, mais, mais...
Deito no chão do banheiro, perdendo as forças de tanta dor.
Choro até não estar mais acordada.

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Desperto com minha mãe gritando meu nome, junto com Alice.
Acabei dormindo aqui no chão do banheiro, eu estava exaurida.

- LOLITA!

- LOLI!

Levanto tonta, com muita dor de cabeça e dores pelo corpo. Ser jogada ao ar por uma explosão deve ser a causa de tais dores.

- Estou aqui, está tudo bem.

Elas vêm até o banheiro correndo.

- Filha, por que você não disse que estava aqui? Estamos gritando por você faz meia hora.

- Achamos que você tinha fugido ou tentado outra coisa.

Diz Alice com voz de choro.

- Tentado o que ? Me matar? Gente, eu posso estar ferrada da cabeça, querendo chorar a cada minuto que passa, mas eu não faria uma coisas dessas. Fiquem tranquilas, eu prometo.

- Você dormiu no banheiro, filha?

- Sim. Eu recebi uma mensagem de Louis.

Elas se olham, então fazem uma cara de preocupação.

- Filha, você passou por muita coisa, perdeu o seu namorado, então isso pode causar traumas, isso pode ser coisa da sua cabeça...

- Não, mãe, não é isso.
Ele fez um texto de despedida, de perdão. Ele sabia que o pai dele ia se matar, então mandou isso logo antes deles..baterem.

- O celular dele deve ter conectado no wi-fi, na delegacia.

Diz Alice.

- Sim.

- Nossa, filha, como você está? Já leu? Quer que eu leia para você?

- Eu já li, ontem, por isso vim ao banheiro, para chorar. Não queria acordar vocês.

- Você deveria ter nos acordado Loli, você sabe que a gente não se importaria, é algo sério.

- Eu sei, eu sei. Mas eu não ia dormir aqui, acabei deitando e apaguei.

Minha mãe me abraça.

- Mas filha, por que ele pediu perdão?

Alice e eu ficamos tensas, preciso contar.

- Alice, conte à ela, por favor. Não consigo falar sobre isso, ainda mais depois de ontem.

Minha mãe já está apavorada.

- Me contem, pelo amor de Deus.

- Um dia antes do acidente Louis e lolita brigaram, bem feio. Ele bateu na Loli, mãe. Ele quase a sufocou até a... Não consigo dizer mais.

Então Alice derrama algumas lágrimas, apertando meu ombro.
Minha mãe não diz nada, seus olhos estão distantes e escuros.
Seus olhos se enchem de água, sua feição muda totalmente, como se ela tivesse sido agredida.
Ela emana ódio, tristeza, rancor, espanto e todas as piores energias possíveis.

- Mãe?

Silêncio absoluto.

- Mãe, sinto muito por não ter dito antes, você estava muito alegre depois do encontro e

- Venha aqui, minha pequena.

Diz minha mãe abrindo os braços para mim.
Então ela chora, chora como nunca vi antes.
Choro junto, como eu precisava desse abraço, eu queria ter contado antes.
Abraços de quem você ama salvam.

- Minha pequena, minha bebê.

Diz minha mãe soluçando, molhando todo o meu ombro com suas lágrimas carregadas de dor, dor por mim.

- Dói como se fosse em mim, minha filha. Como ele pôde? Você devia ter me dito.

- Eu sei, mãe.

Então Alice me abraça por trás e todas choramos.

- Como você é resistente querida, tenho tanto orgulho de você!
Eu sinto tanto, mas tanto meu amor.

Desabo totalmente, me rendo a tristeza, me permito sentir o luto não só por Louis, mas por mim.
O luto por uma parte minha que foi levada naquele dia, destruída por Louis.
Mas eu vou lutar, o fogo não vai me destruir e nem a tristeza, pois sou feita de fogo e não vou parar de queimar.

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Outro corpo, mesma almaOnde histórias criam vida. Descubra agora