Outro corpo, mesma alma

Capítulo 12

Passo a manhã inteira arrumando o porão para Louis. Tomo um banho e tento parecer menos anormal, meus olhos estão vermelhos e doloridos de tanto chorar. Meu cabelo estava todo arrepiado e armado, então prendi ele em uma longa trança.
Minha mãe me mandou mensagem há dez minutos dizendo que Louis foi liberado e está vindo para casa.

Não sei como vou fazer Louis ficar bem sendo que eu estou aos cacos.
Como posso cuidar de alguém estando tão destruída?
Vou dar o meu jeito.
Louis pode não ter sido o melhor namorado nos últimos meses, mas ele é quem eu preciso, não consigo odiá-lo pelas coisas que ele fez e disse. Afinal, está no passado e preciso fazer de tudo para ficar bem com Louis, não sei quanto tempo ainda nos resta.

Estou na sala quando escuto o carro da minha mãe parando. Vou para a porta às pressas e vejo Louis tentando sair do carro sozinho.

- Espera amor, eu te ajudo.

- Não, eu consigo sozinho.

E lá vai ele, sendo super grosso. Então Louis percebe que foi grosso e vê minha mãe olhando para ele com raiva. Magicamente ele vira um doce de novo.

- Desculpa ma princesse, eu estou com dor e acordei rabugento quando vi que minha linda namorada tinha ido embora.

Dessa vez eu vou aceitar, ele passou por muita coisa, é normal sentir dor e não estar tão calmo.

- Tudo bem, vamos, eu já arrumei o seu cantinho.

Chegando no porão Louis se joga na cama e me puxa junto com ele. Deito em seu peito e vejo como ele está se esforçando para respirar, deve doer muito.

- Amor, dói muito para respirar? Você está tão ofegante.

- Sim amor, mas não é muito, fique tranquila. Se você sentir meu coração acelerado é porque eu estou com a garota mais gata desse mundo e ela é minha namorada, só minha.

- Só sua.

Digo com um sorriso bobo no rosto,
mas o único pensamento que veio à minha mente quando ele disse que eu era só dele foi que não, eu não sou dele, não por inteiro.
É estranho sentir isso, mas eu sei que pertenço a outro amor, a Peter.
Meu coração dói só de pensar em não tê-lo aqui comigo, quero muito ver ele novamente, mas ao mesmo tempo me sinto culpada por desejar isso já que quando eu ver Peter, ou quem quer que ele seja agora, significa que Louis vai morrer.

Isso é loucura demais.

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Passamos o dia vendo filmes de ação e assassinatos, eu odeio, mas Louis insistiu em ver e fez um biquinho dizendo que estava dodói e que merecia ver o que ele queria.
Tá bom, foi muito fofo, não tinha como dizer não.
Acabamos dormindo enquanto víamos o filme, era madrugada quando minha mãe veio aqui e me viu.
O filme estava passando na TV, então ela desligou, veio até mim e deu um beijo em minha testa.
Naquele instante eu soube que aquilo era sua permissão para continuar ali.

- Obrigada, mãe.

Eu disse cochichando. Então dormi de novo e assim que fechei os olhos vi aquele azul intenso.

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Eu estou vendo Peter e Emma, como se eles estivessem sendo filmados e eu estivesse gravando. Consegui ver como eu era, e nossa, eu era encantadora, bem loira, quase não tinha sobrancelhas e meus olhos são os mesmos da minha vida atual.
Peter era quase moreno, seu cabelo era um loiro escuro, diferente do garoto do sonho, que tinha uma franja preta aparente mesmo com o capuz. Aqueles olhos são perfeitos, são exatamente da cor de uma noite estrelada, da cor do meu amigo céu noturno.
Estávamos em um campo, tinham tantas flores, lavandas principalmente, era tudo tão mágico e eu estou com um sentimento de saudade, uma saudade que dói.
Estamos tão felizes, rindo, sorrindo e trocando olhares apaixonados.
Então, pela primeira vez, escuto minha voz, minha antiga voz:

* Traduzido do francês

- Peter, prometo nunca esquecer de teus olhos azuis. Prometo encontrá-lo em minhas outras vidas, prometo te amar sempre. Meu coração és teu agora e eternamente.

Minha voz era tão diferente, tão suave e acolhedora, como de uma fada.

Então Peter disse:

- Minha Emma, que promessa mais bela. Prometo jamais esquecer de teus olhos roxos, cor de Lolita. Prometo encontrá-la em qualquer vida minha.
Meu coração és teu agora e eternamente, querida.
Também prometo estar sempre ao seu lado, te protegendo como um anjo da guarda. Quando quiser conforto e conselhos, fale comigo através do céu, mas somente quando o sol for embora e não sobrar nada além de estrelas.

Sua voz é tão grave e gostosa de se ouvir.
No momento que ouvi ele dizer aquelas palavras, meu coração apertou, que saudade dessa voz, que saudade dos momentos com ele, da nossa vida no campo, onde nada de ruim podia nos alcançar.
Sua voz é como estar em casa, de volta ao meu lar depois de tanto tempo.

Peter rola comigo pelo campo e me faz cócegas, então rio, rio tanto que quando acordo estou sorrindo.

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