Capítulo 34

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Foi o pior dia de aula que já tive.
Tudo é tão sem vida sem Louis, mas também é calmo, não estou sempre nervosa e aflita.
Pelo menos tenho Alice, ficamos fofocando sobre o garoto, amanhã vamos tentar seguir ele até a saída para ver se vemos a mãe dele ou o pai, nosso pai.
Sei que pai de sangue do garoto ele não é, só se ele estivesse traindo minha mãe quando estava grávida de mim ou de Alice, o que é bem provável. Tadinha da nossa mãe, assim que tivermos certeza sobre o garoto vamos contar à ela.

Hoje estou me sentindo menos pior, consegui almoçar bastante e fazer algumas coisas aqui em casa sem sentir dor pelo corpo. As queimaduras
Começaram a ficar menos feias, mas vão ser cicatrizes enormes.
Eu tive muita sorte com elas, já que tem pessoas que perdem até o movimento do local afetado.
Nem sei como sobrevivi a explosão, tudo bem que eu não estava tão perto, mas estava perto o suficiente para causar muitas feridas, até fatais, mas só os braços ficaram muito queimados, de resto foram mais ralados e roxos.

Vou para minha varanda e pego um livro para ler, um de poesia.
Abro em uma página aleatória e, por incrível que pareça, parecia ter sido feito para mim:

Em minha alma sempre o carregarei.
Em meu coração sempre o terei.
Não importa quantas vidas eu viverei,
de sua voz nunca esquecerei.
Aqueles olhos eu recordarei,
o tom de azul deles sempre lembrarei.

Pode ser loucura minha, mas eu suponho que isso seja um sinal.
Tudo bem que muitas poesias e músicas falam sobre olhos azuis, mas esse poema se encaixou tão bem.

Levanto das almofadas e vou até o pequeno escritório de minha mãe. Pego uma folha sulfite e uma caneta preta, volto para a varanda e anoto o poema.
Vou colar isso aqui na parede, é pequena, mas dá para o gasto.
Agora usarei isso como uma motivação, mesmo depois de tudo o que estou passando, ele vai voltar, sei que vai.
Peter, estou esperando por você.

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Passo a tarde fazendo lições de casa com Alice, os professores estão desesperados com a matéria, estamos muito atrasados depois do acidente.
Muitos odeiam fazer lição, mas quando eu e Alice fazemos é uma bagunça, damos pausas para ouvir músicas, cantar as mais tristes e comer doces. Como dizemos, o doce abra a mente, acredite!

- Como você quer ser advogada se odeia ler textos longos?

Pergunto para Alice.

- Não é que eu odeie, só não gosto dessas palavras complicadas.

- Mas advogados usam palavras complicadas, Alice.
Uma dúvida, você realmente quer ser advogada?

- Como assim, Loli? Eu falo isso desde criança.

- Eu sei, mas eu sempre achei que você iria trabalhar com moda ou flores, advogacia não é sua cara.
Você não fala isso só por conta da leve pressão da mãe?

- Ela nunca me pressionou, mas sempre me motivou a ser igual à ela.

- Sim, eu sei, assim como ela me motivava a ser como ela, mas eu sempre disse que não era algo que eu queria, mesmo admirando muito seu trabalho.

- O que você quer ser, Loli? Você nunca nos disse, sempre foge do assunto ou diz não estar decidida.

Esse assunto me deixa muito nervosa.

- Eu não sei, Alice, são muitas coisas.

- Fale ao menos uma que você ache legal.

- Eu gostaria de ser detetive, ou veterinária. Também poderia ser astronauta, piloto! Mas eu também poderia ser confeiteira.

- Sério?

- Não, nenhum me interessa, a não ser detetive. Mas eu não gosto de falar sobre isso, eu realmente fico nervosa, não tenho ideia do que fazer.

Eu fico nervosa pois uma vez Louis e eu discutimos sobre isso, ele disse que eu precisava me decidir logo, que eu ia ser uma sem futuro.
Eu fiquei bem irritada, isso foi no começo do nosso relacionamento, não discutimos tanto e quando tinha alguma discussão eu não baixava a cabeça. Mas depois de tantas brigas eu só desisti, menos na última vez.

- Loli?

- Eu já disse que não sei.

- Está bem, está bem. Calma.

Foi exatamente o que ele me disse no dia.

- Não Lolita! Não, não, não...

Então me encolho e fico repetindo vários " nãos" ao meio do choro.
É muito difícil ficar bem lembrando de tudo de ruim que ele fez comigo, de todas as brigas. Mas o pior é que eu também lembro de tudo de bom que ele já fez para mim, lembro de seus gestos de amor e carinho.
É um conflito intenso entre ódio e amor por ele, junto com o luto.

- Lolita, pelo amor de Deus, o que está acontecendo com você?

- Não, não, não, não, NÃO!

- MÃE, MÃE, VEM AQUI AGORA! LOLITA ESTÁ TENDO UMA CRISE.

Alice tenta me tocar, mas eu a ignoro e tento escapar dos pensamentos negativos.
De repente estou na praia com ele, mas então estou tampando os ouvidos tentando me proteger de seus gritos.
Então volto para outro momento bom, no dia da sorveteria onde o reencontrei depois de muito tempo, mas então lembro de suas mãos me sufocando.
Volto para a casa de seu tio na França, estamos brincando de esconde- esconde, mas agora volto para aquele dia em que ele cuspiu em minha cara porque eu disse que ele era um monstro.
Agora gritos estão perfurando meus tímpanos, meu antigo nome e meu nome atual eu escuto.
Emma, lolita, Emma, Lolita...
Quem eu sou!!!??????

- LOLITA!

Grita minha mãe em desespero.

Então eu repito mais vezes " não ", até meus pensamentos voltarem para Peter.
Levanto da cama rápido e vou até a varanda, elas estão assustadas me encarando. Leio o poema, aquele que coloquei aqui na parede hoje cedo, então me acalmo e penso nele, penso em sua voz.

- Estou te esperando.

Agora estou conseguindo respirar calmamente, então escuto uma voz distante dizer: " Também estou te esperando, minha Emma".

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Outro corpo, mesma almaOnde histórias criam vida. Descubra agora