Acordo no susto, sonhei a noite inteira com tudo o que vem me acontecendo. De repente escuto um barulho vindo da cozinha.
Pego um pedaço de madeira solto da minha cama e vou até a cozinha, preparado para bater em quem quer que esteja aqui, deve ser um dos traficantes de meu pai, sempre vinham cobra-lo.
Levo um susto pois encontrei de cara com meu pai, segurando uma bandeja de comida.
Isso é café da manhã? Ele estava levando para mim?- Filho!
Diz meu pai, então me abraça e vejo seus olhos cheios de água.
- Agora eu sou seu filho? Você está drogado? Esqueceu que quase me matou, papai?
Digo papai debochando.
- Louis, Mon cher fils, je suis désolé, je suis vraiment désolé.
(meu filho querido, perdão, eu sinto tanto)
Ele só pode estar drogado, NUNCA ouvi a palavra " desculpa" saindo de sua boca.
- Pai, o que você está fazendo? Onde você estava?
Ele faz uma expressão de dúvida.
- Não está claro? Estava levando café da manhã para você, na sua cama.
- Você nunca fez isso antes, pai. Nunca nem tomou café da manhã ao meu lado, o que está acontecendo com você? Você vai morrer? Vai fugir?
Ele está tenso, mas parece que está tramando algo.
- Filho, eu só queria me redimir, pedir perdão e tentar ser um pai para você.
Sei que nunca fui bom, sempre te tratei mal e o culpei pela morte de sua mãe. Mas eu tive um sonho, com sua mãe, parecia real demais. No sonho, ela me mostrou que eu posso mudar, posso melhorar tudo e acabar com o sofrimento.
Eu mudei depois desse sonho, eu prometo.Como é?
- Eu sei que você não deve acreditar em nada do que eu disse, e nem deve confiar em mim, mas mesmo depois de tudo, sou seu pai, sempre serei.
Eu vou melhorar tudo, meu filho, tudo isso vai passar.
Porque você está com esse corte na testa? Não fiz isso.- É, isso você não fez. Foi Lolita, discutimos e ela jogou um abajur em mim.
- Eu sempre achei ela com uma cara de descontrolada.
- Não fale assim dela, vou me resolver com ela depois. Você não tem moral alguma para chamar qualquer um de descontrolado, tenho cicatrizes para provar isso.
Sei que eu posso ser duro com ele, mas por dentro eu só queria chorar, estou me segurando muito para não chorar aqui agora e o abraçar. No fundo, eu sempre quis a aprovação de meu pai em tudo que eu fazia, acho que até hoje eu tenho isso. Acho que finalmente, depois de longos 18 anos, meu pai acordou para a realidade, agora é para valer, pois ele nunca pediu desculpas antes e nunca chorou.
- Filho, venha aqui.
Diz meu pai abrindo os braços para mim. Então eu me jogo em seus braços, algo que nunca fiz antes, nem criança. Acho que nunca tinha sido abraçado por ele, nunca me senti em casa, mas aqui, em seu abraço, me sinto em casa.
Choro e meu pai fica pedindo perdão, que vai mudar e parar com esse sofrimento. Ele pergunta se quero que ele me leve para a escola, mas se não, eu falto e vamos ao cinema comer pipoca doce, minha favorita.
Nem acredito que ele sabe que minha pipoca favorita é a doce.- Acho que quero ir a escola sim, pai. Preciso ver Lolita.
Meu celular não para de receber notificações dela, não quero ler nada, quero conversar pessoalmente.
- Então vamos, filho, mas antes venha tomar seu café. Vou sentar ao seu lado e vamos ficar conversando.
Estou sonhando? Só pode ser, isso não é real, não é possível. O meu sonho se tornou realidade, agora eu tenho um pai.
Abraço ele forte, tão forte que ele ri e fala que estou sufocando ele.
Sua risada é muito parecida com a minha, não tinha reparado nisso antes, acho que é porque nunca ouvi meu pai rir.........................................................................
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Outro corpo, mesma alma
Roman d'amourLolita pensou ter encontrado o namorado dos sonhos, sua alma gêmea, mas isso não durou por muito tempo. Quando achava que estava com a pessoa certa, ela começou a ter sonhos, pensamentos intuitivos de que algo trágico estava prestes a acontecer, mas...