Capítulo 47

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Chegando na sala caio no chão, a luz está muito forte, não posso ficar aqui.
Peço licença para Will, falo que preciso ir à enfermaria, então uma menina ruiva, muito bonita, parece com a Moranguinho, só que o ruivo é mais claro, pega minha mochila e diz onde fica a enfermaria.

- Obrigado.

Agradeço.

- Imagine.

Vou rápido, estou quase chegando na enfermaria, mas escuto meu celular tocar.
Olho a tela e vejo " Mãe ❣️"

O que aconteceu dessa vez?

- Filho, venha para casa, agora!

- O que aconteceu, mãe? Está tudo bem?

- Não.

Então ela encerra a chamada.

- Que mulher doida...

Desabafo enquanto ando até a saída.

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Chego em casa preocupado, o que minha mãe fez agora? Da última vez em que ela me ligou falando que não estava tudo bem era porque a tomada não aguentou o secador de cabelo, o treco de fazer cachos lá e a chapinha.
Eu não entendo até hoje o motivo de ter os três ligados, mas enfim.

- Mãe?

Chamo por ela ao abrir a porta.

Silêncio...

- Mãee?

Nada novamente.
Então escuto passos, levo um susto ao ver minha mãe sangrando tentando se segurar na parede.

- MÃE! MEU DEUS, O QUE A-ACONTECEU!?

- Eu perdi ele.... Eu perdi meu filho!

Ela estava grávida??
Corro até ela, me sujo de sangue ao abraçar ela em cima da poça de sangue que saiu dela. Isso era para ser o meu irmãozinho? Não acredito nisso.

- Por que???? POR QUE?????

Diz minha mãe chorando e gritando.
Abraço ela mais forte, digo que está tudo bem, que eu a amo muito.

- Fazia quanto tempo mãe?

- Um mês.

- Por que não contou??

- Por que eu não transo com seu pai faz três meses.

- Ah não, mãe, não.

- Sinto muito.

- Eu vou fingir que não ouvi essa parte, eu sinto muito mãe, você vai ficar bem, eu vou cuidar de você. Cadê meu pai?

- Ele está com o celular sem bateria, ele avisou que estava descarregando.

- Vamos, eu te ajudo a levantar, precisamos ir ao médico.

- Eu não quero ir ao médico.

- Mãe, vamos. Eu já sei dirigir, fique tranquila.

Ela chora o caminho todo, eu não sei o que fazer, então tento acalmar ela e não solto sua mão. Ao chegar no hospital colocam ela em uma cadeira de rodas, ela diz estar com dor.
Sento nas cadeiras de espera, então ligo para meu pai, eu sou menor de idade e não posso preencher nada ou pagar.

Ligo três vezes, nas três vezes caí na caixa postal.
Droga! Eu esqueci, ele está sem bateria. Minha mãe preenche o formulário e vai para uma sala, preciso chamar meu pai.

- Mãe, fique tranquila, agora você está com médicos e tudo ficará bem. Eu já volto, te amo muito.

- Não, não chame seu pai.

- Eu não vou.

- Vai sim, eu te conheço. Ele não pode saber, filho, você sabe que não pode.

- Eu preciso chamar ele, mãe.

Digo e saio andando após dar um beijo em sua testa.

- NÃO! não deixem ele sair, NÃO!!

Então corro até parar de ouvir seus gritos.

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Pego um Uber, uso meus últimos vinte reais e chego no consultório do meu pai.

Toc toc...

- Pode entrar Ângela, você já marcou a Paula para ...

- Oi pai.

- Ahh, filho! Que visita maravilhosa, mas calma aí, você não deveria estar na escola?

- Sim, mas eu perdi meus óculos e tive uma forte crise de enxaqueca, então a mãe me ligou e aconteceu uma coisa.

- Está tudo bem com ela? Eu avisei que meu celular ia descarregar, acho que carregou um porcento já, esse carregador está muito ruim.

Então seu celular recebe várias notificações, ele vê as da minha mãe e depois as minhas.

- Mas o que...

Então ele jogou tudo que tinha na mesa no chão, nunca o vi tão irritado, mas triste.

- Ela, ISLA ME TRAIU.

- Pai...

- DESGRAÇADA!!

Então ele xinga, desabafa tudo o que precisava, esses gritos parecem estar presos há anos.

- Vamos, preciso cuidar dela, preciso ver como ela está.

Eu disse, ele é o melhor cara do mundo, como ele pode ter abandonado uma família?

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Outro corpo, mesma almaOnde histórias criam vida. Descubra agora