Capítulo Doze

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Os dias se passaram e algumas coisas tinham sido incluídas em minha rotina.
Como ir me buscar quase a semana inteira no hospital e me deixar na porta de casa, ou melhor, nos fundos da minha rua, onde ninguém conseguia enxergar muito bem pela escuridão. conversávamos todos os dias por mensagem qualquer bobagem, as vezes no caminho dávamos uma parada numa lanchonete que tinha no caminho, ou ficávamos numa praça que ficava quase no fim do complexo, mais isolada.

O fato era que sempre estávamos conversando sobre alguma coisa, ela tinha tantas histórias que me arrancavam boas gargalhadas, as coisas simplesmente fluíam entre nós duas, o assunto surgia sem esforço.

No final de semana seguinte ao seu aniversário precisei dobrar meu horário pois uma colega de trabalho precisou se ausentar, só fiquei livre no domingo a noite e acabou que não nos vimos, então uma semana conversando se tornou duas, e três, de repente Amanda passou a fazer parte do meu dia-a-dia, algo tão rotineiro quanto tomar café ou almoçar, mesmo que fosse uma besteira, um 'olá' rápido, sempre estávamos nos falando, sempre me arrancando sorrisos bobos pelos corredores. Frequentemente me passava pela cabeça pensamentos racionais como: "onde eu estava me metendo?" ou "a vida errada dela um dia vai me prejudicar.".
Mas parecia mais um daqueles anjinhos em nossos ombros cochichando conselhos que eu nitidamente fazia questão de ignorar; não conseguia pensar por esse lado, bom, era verdade, mas não era isso.

Amanda era gentil, engraçada, responsável, justa, verdadeira, não era como os traficantes que conhecia ou ouvia falar pelos outros, parecia mais que ela estava no lugar errado por motivos certos. Ela tinha me contato parte de sua história e como fez tudo aquilo para cuidar de sua tia, que a havia criado como filha. Era honroso até, destruir seu próprio futuro para devolver tudo que lhe foi feito quando criança.
Outros entraram nessa vida por motivos muito mais terríveis que aquele.

As vezes era complicado, ela tinha o jeito dela difícil de lidar, alguns assuntos era sempre muito vaga e misteriosa, normalmente eram aqueles que envolvia a boca ou o morro, mas de resto, era toda charmosa e brincalhona, me tirava o fôlego.

O resultado do vestibular tinha saído, as aulas começavam no próximo semestre, grande parte do meu grupo tinha passado, incluindo Vinicius e Ana Lucia, outra pessoa que tinha se tornado parte da minha rotina diária, agora que ela e Vinicius tinham finalmente assumido que estava rolando algo, eles não desgrudavam; Playboy tinha anunciado um baile no morro em comemoração a conquista de Analu, e convidou eu e Vinicius, obviamente já seriamos convidados, mas ele fez questão de falar diretamente com a gente.

O baile estava marcado para esse final de semana e eu estava a ponto de dar pulinhos de animação por finalmente poder ver Amanda, essa semana em específico ela não conseguiu me buscar pois estava resolvendo algum problema na favela, 'B.O da boca', em suas palavras.

Era sábado a tarde, fazia um calor insuportável e eu estava sozinha em casa, mamãe tinha saído com uma amiga para comprar roupas no shopping e disse voltar apenas de noite, papai estava trabalhando e também só chegaria a noite. Estava assistindo a um filme na TV da sala quando meu celular notificou uma nova mensagem, era Amanda.

"Tá ocupada?"

- Amanda

"Não, tô assistindo."

"Sozinha?"

- Amanda

"Sim, por quê?"

"Oi?"

Fiquei esperando por uma resposta, ela visualizou minha mensagem mas não me deu, simplesmente sumiu, então guardei o celular de novo e voltei minha atenção para TV outra vez.

As Cores do Seu Amor - Livro II | Trilogia Amor De bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora