Capítulo Vinte - Part. I

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🔞ATENÇÃO!🔞

Este capítulo contém situações que possa ser gatilho para pessoas sensíveis.
Não é recomendado que leiam menores de idade ou pessoas com traumas passados, peço que priorize sua saúde mental acima de qualquer desejo por leitura.

Aos demais, boa leitura!

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Dor.

Era só o que sentia, pensava e o motivo das minhas lágrimas.

Um complexo de sentimentos ruins banhavam meu corpo.

Humilhação. Vergonha. Nojo. Desprezo. Amargor. Entre outros...

As palavras em si não machucavam mais, quase não as escutava. Meus gritos e súplicas não faziam diferença, ninguém viria ao meu socorro e a pessoa que me foi prometida para cuidar e amar tampouco se importava.
Eu escutava o ranger do metal contra minha pele, escutava a fivela do objeto em suas aos perfurando minha carne, escutava os tapas, os chutes, meu cabelo quebrando entre seus dedos, escutava cada parte do meu corpo rangendo em agonia.

Apesar de tudo, a ficha ainda não tinha caído. Parecia um pesadelo, uma cena de um filme, uma situação irreal, era incapaz de acreditar que aquilo realmente estava acontecendo comigo. Que ela realmente estava fazendo aquilo comigo.

Tentava me defender com as mãos e os braços, mas apenas dava mais abertura para ela machucá-los, os tapas e conturbadas eram desferidos tão fortes que a cor esverdeada surgia de imediato, uma mistura horrorosa de verde e roxo por todo meu corpo, sentia o gosto nojento do cobre em minha boca, meu coro cabeludo ardia e em algumas partes os arranhões profundos minavam um líquido vermelho aguado.

Um certo momento minha visão passou a ficar turva, meu corpo ficou mole, fui perdendo as forças, a coerência, ouvia bem ao longe um estrondoso bater na porta, gritos e então um tiro.

Mal conseguia enxergar, respirar, sequer raciocinar o que estava acontecendo mais. Vi a porta de abrir num baque forte, o metal que antes era a maçaneta cair no chão num baque que pareceu alto de mais, incomodativo demais.
Alguém entrou, mas não vi quem, alguém me chamou, mas não consegui identificar, senti meu corpo ser carregado, e só conseguia focar na dor, na dor lancinante que percorria meu corpo e consumia minha mente, no ardor e no cansaço que me fazia perder o raciocínio, perder a visão, tornando tudo escuro e turvo.

Não sei ao certo quando apaguei, tudo ficou muito confuso, acordava e apagava na mesma proporção que gemia em agonia, me recordo apenas de sentir um alívio, um tremendo alívio, de repente, sem avisos, subindo desde a ponta dos meus pés até o último fio de cabelo, fazendo com que tivesse a impressão de nunca ter sentido dor, de tudo não ter passado realmente de um pesadelo, um fruto da minha imaginação.

Então realmente apaguei, no sono mais profundo que tive em toda minha vida.

****

As luzes eram fortes e doíam minha visão, mas era uma dor leve, quase insignificante.
Abrir os olhos foi difícil, um processo quase demorado, e mesmo assim quando o fiz não foi completamente. Sentia que algo empatava minhas pálpebras de se abrirem por inteiro, a visão ainda meio turva e lenta.

Reconheci Vinicius, seus pais, Ana, Maria, playboy e Amanda. Não tinham visto que já estava acordada, andavam de um lado para o outro, ficavam parados olhando pro nada ou choravam, como minha tia Sandra, que chorava no peito de tio Claudio.
Custei a notar que estava no leito de um hospital, acamada é completamente enfaixada, parecendo uma múmia, e quando enfim a realidade caiu sobre mim, entrei em pânico.

O bipe interminável das máquinas ao meu lado apitaram, ou melhor, gritaram chamando a atenção de todos; eu não conseguia falar, até abrir a boca doía, senti as lágrimas quentes e descontroladas escorrerem pelas laterais do meu rosto.
Amanda e Vinicius foram os primeiros a notar meu súbito despertar, se aproximaram quase em pânico da cama.

"Ela acordou." - anunciou Vinicius aos que não tinham notado ainda.

"Ela tá chorando, deve estar sentindo dor." - supôs Ana. Maria deu as costas saindo correndo e logo depois voltou puxando uma enfermeira.
Uma senhora morena, baixinha e esguia, carregava um sorriso penoso no rosto e o olhar assustado. Se soltou do aperto de Maria e pegou meu prontuário no pé da cama, leu rapidamente e fez um estalo com a língua.

"Ela acordou antes da hora, a dosagem deve ter sido alterada."

"Ela tá sentindo dor?"

"Levemente." - ela sussurrou 'licença.' Para os que não desgrudavam na minha cama e parou ao meu lado, estalou os dedos a minha frente verificando meus olhos. - "Ela está consciente, recobrou parcialmente os sentidos." - constatou quando acompanhei os dedos a minha frente.

"Tem que chamar o médico?" - perguntou Vinicius.

"Não, ela acordou antes da hora. Provavelmente seu cérebro ainda está liberando adrenalina pelo ocorrido. É o sistema de defesa do corpo, recobrar os sentidos o quanto antes." - ela leu novamente o prontuário e se voltou para mim. - "Catarina, se me entende pisque agora, por favor." - pisquei como ordenado. - "Ótimo, você está internada na UPA da Rocinha, está sob observação médica, mas logo irá receber alta. Infelizmente, seu corpo sofreu muitas agressões e por isso você não pode ficar acordada ainda, irei aumentar a dosagem do sedativo para que você possa relaxar, certo? Pisque se entendeu, por favor." - prontamente pisquei, sentindo mais uma vez as lágrimas molharem meu rosto. - "Ótimo."

Ela se afastou e mexeu em algo atrás de mim, que supus ser minha medicação. Assim que saiu de minha frente dei de cara com Amanda, que me olhava com tanta intensidade e pena que me senti incomodada em estar tão vulnerável no momento.

Mas então tudo ficou turvo novamente, e apaguei de novo.

As Cores do Seu Amor - Livro II | Trilogia Amor De bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora