Capítulo Dezessete

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Mais uma noite virada na boca. Bagulho tava sinistro.

O tal policial que nos enquadrou no domingo passado tinha uma richa antiga com o playboy, e isso foi motivo suficiente pra deixar o menor ativadasso. Não só ele, todo o morro. Favela tava com suspeita de invasão a qualquer momento, todo mundo tava ligado que aquele gambé iria voltar pra fuder com todo mundo aqui, principalmente o playboy.

Era meu... enfim, perdi as contas de qual ordem era aquele baseado; a única maneira de me manter acordada e atenta a tudo era aquele pequeno cigarro de maconha bolado pela chefinha, minha parceira de vigia.

Na real, tinha tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que mal conseguia relaxar para raciocinar, além da suspeita de invasão à favela, ainda tinha aquela treta com minha tia, o sufocamento da Raquel e o sumiço da loirinha.

Porra, menor. Cheia de b.o. pra resolver, namoral. - pensei sozinha.

"Coé Souza, já já tu vai explodir mermão, solta a voz?" - perguntou chefinha.

"Tô pensando, parceira."

"Tu tá é chapada pra caralho." - disse e gargalhou alto. Virei em sua direção e dei um tapa em sua cabeça.

"Tá querendo chamar a atenção, filha da puta?!" - ela resmungou algo mas fez silêncio.

Por pouco tempo.

"Coé Souza? Vai solta a fofoca não?"

"Porra, tu é chata pra caralho menor." - ela me olhou daquele jeito que eu já sabia que não me deixaria em paz, sequer se importando com o que tinha dito. Então suspirei sem paciência e tornei a falar. - "A coroa falou um monte hoje de tarde quando cheguei em casa, ela tá de saco cheio da Raquel, aquela mina quer me fuder só pode."

"Mermão, você dá espaço pra essa garota, toda hora que fica sem buceta vai atrás dela, pô. Comé que ela vai entender que é pa ralar peito." - virei em sua direção e soltei um estalo com a língua.

"Cê tem razão."

"E digo mais, se pá tua tia tá no teu pé com razão, tá ligada que aquela coroa parece ter pacto com alguma coisa, tudo que aquela veia fala acontece, deus me livre." - fez o sinal da cruz no corpo e recebeu outro tapa meu. - "Coé Souza tá de caô com minha cara?!"

"Respeita minha tia porra."

"Parceira, o que eu falei ta certo e cê tá ligada."

"O bagulho é que essa filha da puta só aparece nas horas certas, ta ligado? Quando to em altas bêbada ou bolada com alguma coisa, aí é foda dizer não quando eu quero descontar tudo em alguma coisa." - traguei uma última vez e joguei o baseado no chão, pisando logo em seguida.

"E com o que tu fica tão bolada assim, fia?! Tá revoltada com o mundo?"

"Ah irmã, muita coisa que passa na cabeça da bandida."

"Ih ala, tá chapada mermo, menor."

"Te fudê cachinhos." - ela caiu na gargalhada e acabou que me juntei a ela, rindo até não aguentar.

****

Os raios de luz já estavam surgindo no céu, minha vigia tinha enfim acabado e a troca de turno já iria acontecer. Formiga e MT tinham chegado no ponto de esconderijo, fizemos um toque e já estava virando as costas para ir embora, quando o radinho tocou e chamou minha atenção.

"Coé tropa, Souza tá por onde?!" - falou alguém no radinho.

"Fala tu?" - respondi.

"Tem um carro descendo o morro aqui com tua mina no banco, parceira." - disse, apertei as sobrancelhas e segurei o ar.

As Cores do Seu Amor - Livro II | Trilogia Amor De bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora