Capitulo Cinco

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"O que você tem?"

"Nada."

"Não conseguiria mentir pra mim nem se tentasse muito, Catarina." - zombou Vinicius.

"Odeio você, sabia?" - resmunguei.

Não esperei por uma resposta, peguei os prontuários em cima do balcão e segui caminho para os quartos. Ele veio logo atrás de mim, rindo.

"Então, desembucha." - bufei irritada.

"Você não tem pacientes para visitar?"

"Tenho, nenhum morrendo, graças aos meus bons cuidados. Eles podem esperar um pouco." - ele acelerou o passo me ultrapassando e parou em minha frente, empatando minha passagem com o braço. - "Vamo lá Cat, também não tenho o dia inteiro e odeio enrolação." - revirei os olhos e suspirei derrotada, ele não me deixaria em paz nem se enrolasse durante todo o mês.

"Eu só estou confusa com algumas coisas, conversei ontem com Lúcia e isso me deixou um pouco... pensativa." - confessei.

"Certo, já é um começo. Pensativa com o que exatamente?"

Não o respondi, contornei seu corpo e entrei no quarto de um dos meus pacientes, ainda sendo acompanhada por Vinicius. O paciente era um senhor de sessenta e quatro anos, tinha caído de uma escada, verifiquei seus sinais, anotei em seu prontuário, regulei a dosagem de seu medicamento, coloquei a prancheta no pé da cama e tornei a sair do quarto para seguir nas visitas.

"Catarina?"

"Meu Deus, você não vai me deixar em paz, não é?"

"Ham..." - fingiu estar pensando, então sorriu. - "Não." - revirei pela enésima vez os olhos.

Aquilo já estava começando a doer meus glóbulos.

"Certo, pensando no que eu realmente quero para mim, nos meus gostos, no fato de não saber realmente quem eu sou e o que foi criado pela igreja... sobre minha sexualidade." - disse o final quase num sussurro.

"SOBRE O QUE?!"

Ele parou abruptamente atrás de mim e gritou surpreso. Dei meia volta e o encarei de olhos arregalados. Ele estava vermelho e boquiaberto, com os olhos também arregalados.

"Você se esqueceu onde está? Quer parar de escândalo?!" - pedi quase em pânico.

"Me desculpa, mas olha o que você acabou de falar, difícil não ter uma reação parecida." - mais uma vez revirei os olhos e bufei enervada. Voltei meu caminho, agora um pouco mais irritada.

"Como assim confusa sobre sua sexualidade? O que quis dizer com isso?"

"Quis dizer que não sei realmente o que eu sou, Vinicius."

"Ok. Isso é... surpreendente."

"Bom, se você está confuso, imagina eu."

"E da onde tirou tudo isso?"

"Desde sempre, eu acho." - respirei fundo e parei, virando-me para si. - "É essa a questão, Vini. Eu nunca tive certeza sobre nada em relação a mim porque nunca foi eu que tomei minhas próprias decisões. Meus pais, a igreja, as doutrinas, tudo referente a mim foi premeditado baseando-se nas atitudes de uma mulher sábia como manda a bíblia. Mas eu não sei se quero me casar agora, não sei se quero ter filhos e uma família grande, não sei se quero ser eternamente temente a Deus e sua doutrinas rigorosas, não sei se gosto do meu estilo, não sei se algum homem alguma vez na vida irá me fazer sentir meramente apaixonada. As únicas pessoas, em meus vinte e um anos de vida, que mexeram realmente comigo, foi uma paixonite de infância chamada Miranda e uma mulher que não sei se chamo de Souza ou Amanda, há três dias atrás." - desabafei.

As Cores do Seu Amor - Livro II | Trilogia Amor De bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora