Capítulo Vinte e Sete

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Os minutos se tornaram horas torturantes e desesperadoras.

Era tanto tiro que por um segundo nem sequer sentia mais medo ou surpresa pelos barulhos, o corpo já se acostumando.

Quando o relógio bateu 04h12min da madrugada foi quando o som cessou, nos engolindo com mais incômodo dos silêncios.

"Acabou?" - perguntou Ana aos sussurros.

"Acho que sim." - respondi com a voz rouca.

Mais alguns tiros soaram e então o silêncio completo. Tinha acabado, finalmente acabado.

Levantamos de onde estávamos e começamos a respirar com mais calma, logo todos estariam de volta e iríamos para nossas casas. Vinícius entregou a cada uma um copo d'água e se sentou ao lado de Ana para tentar acalma-la.

Ouvimos o cantar dos pneus e logo nos levantamos. Mas algo estava errado, o carro estava muito acelerado, parou de mal jeito em frente a casa e Matheus saiu gritando por Vinícius.

De dentro do automóvel saiu chefinha e Vinícius carregando formiga pelos braços que tinha uma perfuração na perna, e logo depois veio playboy com Amanda no colo desacordada.

Tudo ao meu redor se transformou num enorme vácuo e nem mesmo o baque alto do copo de vidro estralando contra o piso me fez voltar a realidade. Amanda estava suada e sangrando, playboy parou em minha frente e gritava alguma coisa mas não conseguia escutar, não conseguia responder, não conseguia ter qualquer reação.

Meus olhos estavam vidrados em seu corpo pendendo nos braços de Playboy, e meu estado catatônico me prendendo ao chão.

"CATARINA!" - gritou alguém me puxando para realidade novamente. Puxei o ar com força e virei de costas passando aos esbarrões pelas pessoas em minha frente.

Corri para mesa de jantar e sem muita importância passei os braços pela mesa jogando no chão todos enfeites que embelezavam a peça, playboy entendeu meu recado e sem precisar que dissesse nada ele correu em minha direção colocou Amanda sobre a superfície. Com os dedos trêmulos me aproximei de seu corpo e senti sua pulsação.

Sinais vitais fracos mas ainda estavam ali.

"Ana, preciso de materiais para remover a bala." - pedi sem olhar em sua direção. Quando não obtive resposta me virei para ela que chorava aos prantos agarrada a sua mãe, a senhora me olhou e negou com a cabeça.

"Puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu!" - repetia Vinícius num transe.

"Que inferno!" - resmunguei sozinha, me virando para playboy. - "Preciso que leve Vinícius em casa e traga pra mim alguns materiais. Urgente!"

"Jae." - Matheus não esperou por uma próxima ordem e seguiu em direção a saída da casa.

"Vinícius, preciso de materiais, a bala está alojada, se não tirar agora ela vai morrer." - pedi para ele dessa vez que chorava num transe.

Eu não tinha tempo para isso. Não podia me dar ao luxo de entrar em pânico agora e não podia perder duas pessoas numa noite só.

Caminhei em direção a Vinícius, segurei em seus ombros virando ele sem qualquer delicadeza em minha direção e virei minha mão com tudo em seu rosto, um som estalado que silenciou todos os outros ao nosso redor.

"SE CONTROLE!" - ordenei. Ele respirou com mais calma e levou as mãos ao rosto, limpando as lágrimas. - "Tem duas pessoas baleadas nessa sala e uma delas está a beira da morte. EU QUERO QUE VOCÊ VÁ ATÉ A SUA CASA E TRAGA OS MATERIAIS DE TREINO QUE TEM EM SEU QUARTO." - ordenei novamente e ele fungou ainda em silêncio. - "Trabalhamos em um hospital e lidamos com esse tipo de situação o tempo inteiro. Você sabe o que deve fazer, Vinícius. Não tem o direito de perder a cabeça agora."

As Cores do Seu Amor - Livro II | Trilogia Amor De bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora