Capítulo Trinta

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Pisquei os olhos preguiçosamente. Sentia meu corpo leve e ao mesmo tempo pesado, cansado. Sob meu corpo estava Amanda, dormindo serenamente num sono profundo.

A noite tinha sido perfeita, tudo simplesmente incrível. Foi muito mais do que imaginei ou planejei, foi além de tudo isso. Souza tinha sido tão sensível e delicada comigo que quebrava toda imagem de traficante impiedosa que ela bancava lá fora, aqui dentro, entre quatro paredes, somente eu e ela, ela era apenas a Amanda, minha Amanda.

Me aconcheguei sobre seu peito melhorando a visão que tinha dela e acariciei seu rosto, seu nariz afilado, sua boca carnuda, seu maxilar definido, seu detalhes mais bonitos. Tinha certeza de apenas duas coisas naquele momento, uma era que eu era a mulher mais feliz do mundo àquela manhã, e a outra era que Amanda tinha se tornado irrevogavelmente a dona do meu coração. Eu estava apaixonada, completamente e deliciosamente apaixonada por Amanda Souza.

"Bom dia, princesa." - disse me tirando do transe. Pisquei enfim notando que ela já tinha acordado e me fitava.

"Bom dia." - respondi com um sorriso abobalhado no rosto.

"Dormiu bem?"

"Mais que bem." - respondi e me aconcheguei mais em si. - "E você?"

"Melhor que todas as outras vezes na vida." - murmurou e num movimento rápido inverteu as posições ficando por cima de mim, se aproximou despejando vários beijos em meu rosto, me fazendo gargalhar.

"O que vamos fazer hoje?" - perguntei depois de recuperar o fôlego.

"Podemos ficar o dia inteiro aqui dentro?"

"Mas e você? Não tem 'trabalho'?" - fiz aspas com as mãos na palavra e ri. Ela revirou os olhos e melhorou sua posição, se apoiando sobre o cotovelo.

"Isso aí eu resolvo." - assenti entendendo que aquele não era um assunto para eu tocar.

"Podemos começar então tomando café? Ou um banho?"

"Acho que pela hora vai ser quase janta..." - arregalei os olhos e virei para cabeceira, onde seu relógio de pulso estava.

O ponteiro marcava 16h48min.

"Amanda, vão pensar que a gente morreu aqui dentro."

"Relaxa loirinha, pelos seus gritos devem imaginar que estamos cansadas." - Amanda sorriu mas eu passei longe de ter essa reação. Me arqueei sobre a cama apoiando meu peso nos braços e a encarei completamente vermelha.

"Acha que me escutaram?"

"Se eu acho?" - derrubei meu corpo de volta na cama e escondi meu rosto com as mãos, querendo mesmo era me afundar no chão de vergonha.

"Aí meu Deus, como eu vou sair desse quarto agora?" - perguntei mais para mim do que para ela.

"Loirinha relaxa."

"Meu Deus, eu quero enfiar minha cabeça na terra e nunca mais sair." - Amanda riu de meu pânico e se deitou ao meu lado.

"Vou preparar um rango pra nós, porque não vai se jogar uma água?"

"Tudo bem, não quero sair daqui de qualquer forma." - ela revirou os olhos e sorriu, levantou da cama, vestiu a camisa e saiu do quarto.

Sozinha no quarto, me senti menos envergonhada pela nova descoberta, porém, apesar de estar realmente querendo ser engolida por um buraco a ter que encarar os olhares julgadores da criadagem, bem no fundo - ou não tão fundo assim - sentia a total certeza que repetiria toda a noite mais uma vez, exatamente igual, ou melhor.

Levantei da cama afastando os pensamentos bobos na mente e fui em direção ao banheiro, me despi, entrei no chuveiro e tomei um banho longo e quente, quando sai enrolada na toalha fui direto para o guarda-roupa de Amanda, sem sequer ter como opção sair em busca de uma roupa própria minha. E como tinhamos combinado de ficar o dia inteiro - ou o resto dele - no quarto, optei apenas por uma blusa preta e larga e uma cueca box que ficou justa demais em meus quadris, mas não de um jeito desconfortável.

Tornei a me deitar na cama, peguei meu celular e respondi algumas pessoas que haviam falado comigo, depois fiquei mexendo nas redes sociais até que Amanda passasse pela porta carregando vários potes e pratos e uma garrafa. Larguei o celular e corri em sua direção para ajudar com todas aquelas coisas, seguimos deisajeitosamente até a cama depositando todos o utensílios na superfície, depois, com muito cuidado, sentamos uma de frente para outra e começamos a nós servir.

Tinha sanduíches, frutas, suco, biscoitos, pedaços de bolo e sequilhos.

"Por acaso você quer me deixar mais gorda do que já estou?" - perguntei encarando toda aquela comida.

"Iiiihhh, que papo errado loirinha. Tu não tá gorda não minha linda, cê tá é gostosa pra caralho." - ao terminar a frase, Amanda me puxou pela camisa para um selinho demorado; sorri envergonhada e ela riu com minha reação.

Em silêncio voltamos nossas atenções para as comidas e passamos a nos servir, o café/janta não demorou muito, até porque estávamos morrendo de fome e precisávamos repor toda energia que gastamos naquela madrugada. No final, só sobraram potes sujos e vazios e a garrafa com o resto de suco — que Amanda tratou de findar — sobre a cama.

Ela prontamente começou a juntar tudo com minha ajuda e saiu do quarto prometendo voltar em poucos minutos, o que realmente aconteceu. Quando voltou, fechou a porta atrás de si e trancou, caminhou em minha direção e se jogou por cima de mim como um leão com sua presa.

Era surpreendente que mesmo após tudo o que aconteceu noite passada conseguia sentir todo o calor e desejo surgir subitamente em meu corpo como se fosse a primeira vez, como se não tivesse gastado mais energia ontem do que em qualquer outro momento da linha vida; meu coração já tamburilava no peito como uma banda com bateria, e toda aquela visão tão próxima me fazia perder o raciocínio e o fôlego.

Ela era linda, e não haviam inventado adjetivos suficientes para exemplificar tamanho poder que ela tinha sobre mim, o quão rendida eu estava.

"Daria esse morro todo a qualquer um só pra saber o que passa nessa sua cabecinha." - murmurou próximo ao meu rosto.

"E eu morreria de vergonha se fizesse isso." - ela sorriu e eu sorri também.

Estávamos tão próximas que podia sentir o calor que emanava de seu corpo, a tensão que sucumbia com nossa racionalidade. Nos aproximamos, mais e mais, até não saber onde seu corpo começava e o meu terminava, até não sobrar mais espaço para ter espaço, até seu gosto refrescante se mesclar ao meu, e não existir mais caminhos que suas mãos não tenham percorrido, e aquele cômodo se transformar num mundo inteiro.

Nos amamos uma outra vez, mais inesquecível do que antes, e acreditava que seria assim todas as vezes, cada uma mais inesquecível do que a última.

E ali, tive a certeza, entre um gemido abafado e outro, que estava inteiramente completa, enroladas nos lençóis e cobertas pela nossa paixão.

As Cores do Seu Amor - Livro II | Trilogia Amor De bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora