Quando cheguei em casa, meus pés estavam doloridos de tanto ficar em pé. Por muito pouco não desisti da ideia de sair com Vinicius, mantive minha palavra apenas porque ele ligava a cada quinze minutos perguntando se já estava pronta e isso estava enchendo minha cabeça.
Por precisar "estudar", meu pai me liberou para vir mais cedo, antes mesmo das 16h00min já estava em casa. Como era um aniversário entre amigos, procurei a roupa mais simples que tinha em meu guarda roupa; tomei um banho rápido, vesti uma roupa qualquer, enchi minha mochila de livros e as peças e saí de casa, enviando uma mensagem a Vinicius avisando que estava saindo.
Assim que cheguei em sua porta ele já estava lá a minha espera, conversamos qualquer amenidade no caminho, entramos direto para seu quarto e fiquei sentada na cama esperando por ele enquanto se arrumava. Quando saiu, já vestido e pronto, me deu passagem para que entrasse e me trocasse, e assim o fiz.
"Uau." - disse assim que saí do banheiro.
"O que foi? Está muito vulgar?" - perguntei insegura, corri para o espelho e analisei o conjunto.
"Fala sério? Você já viu como as mina daqui anda? Você está mais vestida até mesmo que Ágata." - zombou e eu ri de sua comparação. - "É só que nunca vi você vestida dessa forma, foi uma surpresa."
"Mas estou bonita?"
"Está ajeitada né, uma beleza rústica."
"Vinicius, vai caçar coquinho, vai."
"Own, ela xingando é tão fofo."
"Meu deus, podemos ir? Você é tão irritante!" - ele ri de mim e então saímos do quarto.
Por estar saindo as escondidas, optamos pelo caminho que ia pelos fundos da casa, onde dava num beco que nos levava até uma ladeira imensa que nos deixava de frente para casa de Ana Lucia. Era um caminho longo, mas necessário. No morro da Rocinha, mulher em garupa de moto era quase alvo fácil, todos te reconhecem como bala em mira, facilmente nos reconheceriam e a fofoca rolaria a solta, e ter nossos pais em nossos pés de ouvido era a última coisa que precisávamos.
"Se liga." - chamou minha atenção ofegante. - "Não é por qualquer uma que faço isso não, certo? Sou mais seu irmão do que da minha própria." - reclamou soltando com força o ar.
"Se você tivesse me deixado em paz em minha casa, não estaria subindo essa ladeira."
"Filha, se depender de você, cê morre enclausurada ou naquela igreja, ou naquele hospital ou naquela casa." - revirei os olhos com força e me mantive calada.
Quando chegamos no topo da ladeira, após longos minutos inclinados sobre o joelho recuperando o fôlego, seguimos caminho para casa de Analu, que já tinha avistado de longe.
Meu único vacilo, foi ter esquecido completamente de quem Ana Lúcia era irmã, vacilo esse que Vinicius adorou que eu tenha cometido.
Ana Lúcia, era irmã caçula do Playboy, simplesmente o sub gerente de todo morro da Rocinha, desde pequena Analu era conhecida por ser a protegida da favela, vivendo sempre no meio daqueles que seguia cegamente seu irmão, ela era de longe, a última pessoa que eu poderia ter qualquer relacionamento amigável.
Conseguia até ouvir a voz enjoada e julgadora de minha mãe dizendo o quanto eu era mente fraca e influenciada por qualquer um. Não era uma verdadeira filha de Jesus Cristo, "nosso senhor".
Agora entendia o porquê de ela achar que eu era quieta, até mesmo meu subconsciente era traumatizado, antes mesmo de entender toda situação ele já se privava de problemas do tipo, com ela eu realmente preferia ser "na minha".

VOCÊ ESTÁ LENDO
As Cores do Seu Amor - Livro II | Trilogia Amor De bandido
Storie d'amore¡AVISO! Aos novos leitores, não é necessariamente obrigatório a leitura de "Amor de Bandido Part. I" para entender o enredo dessa história, apesar de conter a mesma base, serão livros distintos. Ps.: Porém, recomendo que leia todos, são incríveis...